Península da M. Angélica, Chácara da Bica séc XIX

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Continuamos na Lagoa, e voltamos mais ainda no tempo graças a colaboração do residente na área Carlos Ponce de Leon de Paiva, que mandou essa imagem do séc XIX.
Ela mostra primeiramente os primeiros aterros de regularização do traçadado da Rua Jardim Botânico, uma surpreendente via litorânea em quase toda a sua extenção, intercalada apenas por pequenas porções de terra que avançavam Lagoa a dentro, e que hoje estão completanente inseridades dentro do bairro.
A maior delas certamente era onde está a Rua Maria Angélica, mas outras menores existiam no alinhamento das Ruas Faro e Pacheco Leão, onde aliás tinhamos a Ponte de Tábuas.
A trilha que vemos a direita possivelmente quarda o traçado primitivo do caminho ao Jardim Botânico e Fábrica de Pólvora, passando rente a encosta. Na nossa imagem de ontem essa trilha já tinha desaparecido.
Possivelmente esse era o trecho que causava pânico no medroso D. João, pois na passagem junto a encosta havia uma rocha projetada pela qual a estrada passava por baixo, e nosso heróico monarca morrida de medo que ela caísse quando ele estivesse passando. Pouco depois ela foi debastada, e o recorte visto não é nada desprezível.
Mais a frente vemos a Chácara da Bica, futuro Solar Monjope, praticamente sozinha na península e na sua forma colonial pura, antes de ser reformada por seu terceiro proprietário, José Mariano Filho, que arrematando de forma compulsiva objetos coloniais legítimos transformou a casa num dos maiores monumentos a volúpia neo-colonial. Dizem que a obra teve a colaboração de Virzi, algo nunca evidenciado, mas que observando o que sobra da casa, um portão na Rua Jardim Botânico possa ser verdade. A ela deu o nome de Monjope, que era o mesmo da propriedade de sua família em Pernambuco
Ele foi demolido sob protestos, de forma rápida, em 1975, como muitas construções no mesmo período, enquanto se debatia seu tombamento. O destino do terreno era a construção de um grande supermercado, da rede Disco, ou Sendas, que acabou sendo barrada pela administração municipal depois de muita chiadeira dos moradores, mas a casa já tinha ido ao chão e o destino do enorme terreno só se concluiu na segunda metade dos anos 80.
Ao fundo vemos a silueta da Fábrica Corcovado.
Continuaremos pela região nos próximos dias, inclusive falando mais do Solar Monjope.

7 comentários em “Península da M. Angélica, Chácara da Bica séc XIX”

  1. Andre,
    sensacional esta série sobre a Lagoa. Não pude comentar ontem mas deixo aqui meus parabéns pela estupenda apresentação de ontem.
    Estive agora mesmo com um livro sobre o Solar Monjope nas mãos, na Livraria da Travessa.
    Como você vai falar sobre ele, vou aguardar.
    A Rua Jardim Botânico como via às margens da Lagoa deveria ser linda.

  2. Grande idéia esta de explorar por fotos esta região não muito difundida em livros sobre o Rio.
    Não consegui ver a Fábrica Corcovado nesta foto. Pela foto de ontem me parece que ela ficava em frente onde hoje é o Hospital da Lagoa. É isso?
    Aquela foto da fábrica do livro do Marc Ferrez me parece ter sido tirada da península da Maria Angélica e não da região da Fonte da Saudade. O que você acha?

  3. Comparando com o Google Maps, consegui me situar.
    A área onde a rocha foi desbastada está mais ou menos no lugar do Túnel Rebouças.
    Décadas mais tarde na área vazia no centro da foto seriam construídas as três vilas triangulares que o Decourt falou ontem, cujos limites ainda sobrevivem.
    É interessante que essa trilha margeando a encosta não tenha sobrevivido em nenhuma rua atual, ao contrário de outras vias da cidade como a Riachuelo.

  4. Que bacana! Meu avô nasceu na chácara de Bica. Se você tiver mais informações sobre lá, gostaria de ter acesso. Obrigada,

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