Vista de Copacabana feita do Morro dos Cabritos – anos 20

Essa é uma sequência de 3 fotos tiradas do morro dos Cabritos, mais ou menos onde fica a boca do túnel Major Rubens Vaz, que liga a rua Tonelero a Pompeu Loureiro .
As fotos foram tiradas de tal maneira que se juntas fazem um panorama de pelos menos 120 graus, sobre uma Copacabana do início dos anos 20 .
1-foto

Tirada em direção ao Leme, logo na parte inferior esquerda podemos ver a rua Tonelero, a partir de sua esquina com a rua Santa Clara, que a partir daí era uma trilha, que delimitava as propriedades de Gardone Constante Ramos (lado impar) e Felisberto Peixoto (lado par), esse trecho da Santa Clara só iria ser urbanizado no final dos anos 30, já com uma ocupação incipiente, com todos os imóveis vendidos pelos Constante Ramos,  a partir de 1931, pois a rua foi alinhada junto ao seu trecho inferior ficando a cerca das propriedades nos fundos do lado par do quarteirão.
Uma curiosidade é que os Constante Ramos gravavam os lotes nessa quadra com uma cláusula, derrubada nos anos 40 por medida judicial de alguns proprietários, que o número de pavimentos não poderia ser superior a 3, tal qual Felizberto Peixoto faria em sua chácara poucos anos depois. Infelizmente a partir da construção dos dois primeiros prédios de 8 pavimentos, de números 246 e 261 ainda durante a II Guerra o gabarito se perdeu, mas até os anos 70 inúmeros pequenos prédios de 3 pavimentos podiam ser vistos nesse quarteirão, como também casas e palacetes em estilo normando, todos postos abaixo me um dos últimos movimentos especulativos que destruiu a ambiência de Copacabana.
Indo para a direita podemos ver no meio do casario  dois dos penedos que formavam o Morro do Inhangá, hoje praticamente todo demolido ou envolto por prédios, entre eles podemos ver a silhueta branca do Copacabana Palace, um pouco mais a direita, alinhado com o fim do último penedo do Inhangá podemos ver a torre da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, na praça Serzedelo Correia .
Logo na emenda das duas fotos, podemos ver o prédio que ficava na esquina da rua Siqueira Campos com Av. Atlântica, edifício de propriedade de Rocha Miranda, filhos & Cia LTDA. Construído pelo engenheiro Eduardo Pederneiras em 1924 e demolido nos anos 50.
Esse trecho do bairro loteado em parte pela Cia de Construções Civis e parte pelo Comendador Felizberto Peixoto que tinha uma pequena área que se projetava além do vale dos Morros São João e  Cabritos já se mostrava bem ocupado, com construções baixas, mas mesmo nesse casario compacto tínhamos terrenos baldios como os que vemos na base da foto entre a Rua Santa Clara e Hermezília
2- Foto

Nessa segunda parte, podemos ver em toda a parte inferior das duas fotos a rua Hermezília, hoje 5 de Julho, sendo aberta, ainda praticamente sem nenhuma casa .
A história da rua é muito bonita e pouco conhecida pois pouco tempo depois, após o golpe de 30 teve seu nome mudado. Hermezília, neta de Gardone Constante Ramos, faleceu aos 23 anos em 1911, seu noivo não suportando seu falecimento por fulminante enfermidade se suicidou deixando um apaixonado bilhete, fato que causou comoção em toda a cidade. Os dois noivos foram enterrados então, juntos e na mesma hora em jazigo conjunto no São João Batista.
A esquerda junto ao mar temos os telhados da grande mansão da família Guinle onde hoje fica o edifício Camões na esquina da rua Figueiredo Magalhães com Av. Atlântica .
Bem ao centro da foto à direita, podemos ver a rua Raimundo Correia, e seguindo o seu traçado podemos ver as duas maiores construções da orla, antes da construção do Copacabana Palace, a branca de forma quadrada é o hotel Londres, inaugurado em 1918, e demolido em 1952 pela especuladora Corcovado, onde em seus terrenos foram construídos 3 pouco elegantes prédios, um deles o famoso “balança” Master, tendo sido a transação imobiliária mais cara da cidade acontecida até 1952.
Ao seu lado a forte e enigmática silhueta da casa do barão Smith de Vasconcelos, com 30 metros de altura total, projetada por Virzi em cores entre o ocre e o azul.
Fechando a imagem, no extremo direto temos os fundos da casa da Família Paranaguá na esquina da Av. Atlântica com a Rua Barão de Ipanema.
É praticamente obrigatória a apreciação das imagens em alta resolução, que pode ser conseguida ao se clicar nas fotos com o mouse.

13 comentários em “Vista de Copacabana feita do Morro dos Cabritos – anos 20”

  1. As fotos são espetaculares!
    Quando sairá a 3 foto?
    É tanto detalhe! Quantas casas!!!
    A rua Raimundo Correia era sem saída?
    Parece que tem uma casa no final da rua!

  2. Estou ansioso pela terceira foto que é capaz de mostrar a rua que moro atualmente… aliás o fotógrafo está bem próximo a ela.
    O único prédio que fica no topo dela, dizem que foi construído por alemães na década de 30 e possui até hoje acesso por plano inclinado.

  3. As fotos são espetaculares!
    Outro dia caminhando pela Atlântica com Sra. Tumminelli, conversávamos sobre como devia ser silênciosa Copacabana nos anos 20. Em dias de céu sem nuvem, devia ser um planetário nartural, devido a pouca iluminação que ofusca a visão das estrelas. Sem contar com os pássaros que haviam oriundos das encosyas hopje favelizadas. Cigarras em dia de calor, grilos e vaga lumes. E, nas casas da Atlântica, dormir ouvindo o mar que estava pertinho.
    😀

  4. Estupendas!
    E, embora não vistas claramente, lá perto do Hotel Londres a casa de meu tio James Darcy, além de, à direita, a primeira casa em que meu avô morou na Barata Ribeiro, a de nº 593, para onde se mudou quando de seu casamento em 1920.
    Na Cinco de Julho, logo em frente ao término da Raimundo Correia, ficaria a casa da família Araujo Penna.

  5. Realmente espetacular. Faço a mesma pergunta do Galeno sobre a Raimundo Correia. A história da 5 de julho onde mora
    minha tia , é incrível.

  6. Muito bom André
    Quem dera que a cláusula dos Constante Ramos não tivesse se perpetuado heim. Teríamos um outro bairro…
    Parabéns pelas fotos!

  7. Sensacional!! Fantásticas as imagens!!
    Tentei me localizar na foto 1, na Rua Tonelero, na esquina com a Mal. Mascarenhas de Morais.
    Moro nesta rua há 3 anos e não saio de lá por mais nada nesse mundo.
    Ando a pesquisar a história do local mas não acho muitas informações concretas, só sei que uma pousada do início do século 20 deu lugar ao Colégio Sagrado Coração.
    Alguém mais tem informações sobre a história do local, ou até mesmo algumas estórias?
    Obrigado!

  8. Minha vó também era neta de Constante Ramos.
    Ela contava a história da Hermezília.
    Pena terem tirado o nome dela da rua.

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