Casa Hanseática último chope

“Tudo servido com delicadeza / E assim de forma tão simpática / Encontramos aqui, como um tesouro / A nossa grande Casa Hanseática”
 

Nossas fotos de hoje mostram a derradeira saideira da Casa Hanseática no dia 09 de outubro de 1967. O Bar fundado em 1933 era um dos maiores da cidade, fundado por Zeferino de Oliveira em 1933 quando a Hanseática era a cerveja mais famosa da cidade e ainda não havia sido absorvida pela Brahma e produzia na sua fábrica da Av. Maracanã além da Hanseática a famosa Cascatinha. Zeferino fundou também o Flórida outro bar emblemático da Praça Mauá, ambos dividindo as duas alas do Ed. A Noite.

A Hanseática era o típico grande bar boêmio carioca, abria as 7 da manhã, servindo café da manhã, passava pelo almoço com seu filet Hanseática (com aspargos, petit-pois e fritas), filet com fritas, feijoada, cozido à madrilhenha ou lombinho à mineira. Indo ao chá da tarde e adentrando a madrugada onde as calderetas eram sorvidas com fúria, fúria igual as famosas brigas entre marinheiros pelo amor das “meninas dos sereno” e nos acertos de contas dos contrabandistas, transformando a grande casa do restaurante do público do trabalho do dia no basfond noturno.

Como as fotos demonstram o bar era enorme, 74 mesas, naquele estilo que cariocamente os maiores de 40 anos ainda presenciaram, abrigava charutaria, livraria e até mesmo uma camisaria no espaço de forte ambiência art-dèco, com frisos, mármores, espelhos, ornamentos em frisos, um relógio de alvenaria etc…
Enorme também na frequência que além dos marinheiros e contrabandistas acolhia os anônimos, os artistas da Nacional, viajantes esfomeados da Rodoviária Mariana Procópio, policiais e até mesmos políticos, todos convivendo nos seus horários típicos, mas muitas vezes se cruzando.

As 5 mil pessoas que circulavam diariamente por suas mesas sorviam mais 4 barris de chope por dia, no dia 10, data que essas fotos foram publicadas nada mais existiria e todos seus bens como os lustres, a enorme serpentina ainda a original instalada pela Hanseática nos anos 30, o grande espelho belga do salão, as mesas, os utensílios seriam vendidos.
O pequeno textinho que abre o post era o que estava nas bolachas e cardápios do restaurante que desapareceu, entrando para o folclore da cidade
 
 
 
 

7 comentários em “Casa Hanseática último chope”

  1. Boa tarde a todos.
    Confesso de que não me lembrava mais sobre o que havia aí nesse local, exceto e talvez a tal agência bancária citada pelo Victor.
    Realmente a Praça Mauá era dotado de uma fauna típicas das séries Cidade Nua e Na Corda Bamba.
    Foi aí perto que Mariel Mariscot foi assassinado em 1981.
    Eu me lembro daquele bar que existia na rodoviária Mariano Procópio, e o famigerado Escandinávia.
    Era um típico local para marinheiros, bandidos, cafetões, prostitutas, assaltantes, mendigos, cortiços, porto, delegacias, policiais, e assassinatos.
    André: Você saberia informar do por que eles fecharem do estabelecimento?

    1. O governo federal pediu o imóvel de volta. Lembrando que o prédio foi expropriado com o fim do A Noite. E desde o meio dos anos 30 a viúva passou ser a locadora e ocupante de todo o prédio.

  2. Eram “outros tempos”. Tempos em que bandido era bandido e polícia era polícia. Hoje os grandes bandidos estão incrustados nas instituições republicanas tal qual uma metástase. O Brasil não voltará a viver um passado glorioso e saudoso, salvo se acontecer um milagre.

  3. Ótima postagem com excelentes fotos.Gostaria,mas não tive o prazer de conhecer.Pelo relato reunia a tudo e a todos numa convivência em torno de interesses próprios.De fato,outros tempos!!!!

  4. É importante lembrar que, tanto a Casa Hanseática, como o Bar e Restaurante Flórida, do outro lado da fachada do Edificio da Noite, eram do Zica, o maior contraventor do Rio de Janeiro entre os anos 40 e 70, amigo dos presidentes Dutra e Juscelino. O Zeferino de Oliveira era o sócio minoritário do Zica, que, com seus negócios de contrabando e leilões no Porto do Rio, não podia aparecer legalmente como proprietário. Porém, ele sempre estava lá no Flórida e no Hanseática, recebendo seus clientes.

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