Agência Central do BEG, início dos anos 70

Vemos na nossa imagem de hoje a agência central do BEG ( Banco do Estado da Guanabara ) no novíssimo prédio  projetado pelo arquiteto Henrique Mindlin.
O BEG era um dos melhores indicadores do que era o Estado da Guanabara e sua política de crescimento administrativo em relação as pretéritas administrações dessa cidade.
Sucessor do pequenino Banco da Cidade do Rio de Janeiro, conhecido por ser um belo cabide de empregos e que possuía só sete agências, também sequer figurando entre os maiores bancos do país, o BEG foi resultado de uma política agressiva, de uma cidade estado que queria ser independente financeiramente.
O seu criador o Governador Carlos Lacerda, fez uma verdadeira revolução do pequeno banco, não medindo esforços políticos para o seu crescimento. Primeiro conseguindo com a SUMOC licenças para a abertura de mais 30 agências,  depois, o término do pagamento em cash nas repartições públicas, obrigando todo o dinheiro da folha a passar pelo banco, a criação do cheque verde, o primeiro cheque especial do país; uma revolução, a obrigatoriedade dos fornecedores e licitantes do EG terem conta no banco e além disso a  abertura do capital, com a venda de ações com incentivos ao funcionalismo público para adquirirem os títulos como o 14 salário e dividendos.
 Além disso, o lobie da GB provocou a aprovação de um projeto de lei que por vários anos tramitava no Congresso; que permitia que os depósitos judiciais fossem depositados não só no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica, mas também nos bancos estaduais.
Com todas essas medidas o novo BEG teve um crescimento monstruoso em pleno anos 60.  Do capital de CR$100,00 milhões do Banco da Cidade o BEG conseguiu o aporte de CR$7.8 bilhões, um acréscimo de 7.000%. O número de acionistas individuais teve um implemento de 65% e por fim os depósitos aumentaram 34 vezes, isso tudo de 1960 até 1965.
Além dos números meramente financeiros o BEG passou a ser um dos maiores compradores de obras de arte do Brasil, certamente prevendo a enorme valorização que esse mercado teria no Brasil a partir dos anos 70, construindo um magnífico acervo de esculturas, telas, murais etc…
Isso se refletia na nova sede, num moderníssimo prédio, decorado com o que de melhor existia em móveis modernos no país, como mobiliário da OCA, Tenreiro, Bom Desenho etc… Nossa imagem mostra um pouco do refinamento do prédio, na parte mais visível do prédio, a disputada agência central.
Bancadas de jacarandá, painéis de couro, o mural modernista, possivelmente de Tenreiro, a transparência do banco para a rua. Fora isso o BEG era dotado de um moderníssimo sistema de processamento de dados, o mais moderno do país, um sistema de comunicação privativa, algo só comparável no exterior, e a sede fosse,  no início dos anos 70, talvez o prédio mais sofisticado em equipamentos da cidade.
Mas a fusão deu o primeiro golpe na jóia da coroa criada por Lacerda e acalantada por Negrão, que era gerênciar e financiar um estado falido e em total caos administrativo, onde não havia a mínima vontade política para reverter a situação oligárquica que já vinha de séculos. O BEG, turbado pela  fusão, vira BANERJ e começa a sua decadência, agravada em muito com a posse em 1982 da mesma pessoa que colocou nossa cidade numa espiral de destruição.
A má gerência, o desvio, as operações econômicas equivocadas, o financiamento do socialismo moreno a título perdido levaram o banco a exaustão, de onde não mais se recuperou.  O BANERJ era achincalhado pelo público, as agências lotadas e ineficientes e o seu sistema de processamento parado nos anos 70 eram a imagem do que tinha se transformado a Guanabara, num zumbi de tempos melhores. O banco foi vendido a um banco paulista nos anos 90, numa operação que até hoje levanta suspeitas. E todo o patrimônio artístico e imobiliário foi sendo vandalizado nos governos dos “inhos”.
O prédio do BEG, que hoje concentra várias secretarias é uma triste pintura do que se transformou nossa cidade, decadente, envolto por desordem, com centenas de barnabés com indicação política enrolando nas suas portas, enfim uma tristeza.

29 comentários em “Agência Central do BEG, início dos anos 70”

  1. Parabéns por essa história muito esclarecedora.
    Lembro-me no início dos anos 80 que para pagar o IPVA levávamos várias horas na fila do BANERJ. Era o início do fim desse banco e o início do “trabalho” do governo Brizola. À partir daí as coisas só pioraram.

  2. Hoje dá até nojo passar nas portas deste prédio.
    Caindo aos pedaços, numa reforma que se eterniza para evitar que a fachada caia sobre os transeuntes, luzes dos postes em frente à ele queimadas Há meses talvez por alguma briga entre prefeitura e governo estadual e pessoas distribuindo panfletos e assediando os passantes, além de carros estacionados na via de pedestre.
    Realmente, o retrato do caos no Estado.

  3. Caro André,
    Melhor análise do que foi o BEG e a nossa cidade e nosso estado, impossível. Você só não citou um personagem importantíssimo nesta destruição do banco, da cidade e do estado. Aquele que comandou os três. Onde ele passou não nasceu mais grama: o Velho Barreiro, aquele amante do whisky e seus dois filhos adoráveis.

    1. O Velho Barreiro continua vivo e atuando nos bastidores. Seus filhotes estão ricos e seu “homem da mala” posa de gente de bem…. nojento.

      1. Oro todo dia para que o Velho Barreiro viva, só assim ele pagará pelo que fez a muitos funcionários do Banco, que hoje estão em penúria.Por extensão ,aos filhos dele longa vida. Que curtam toda a “fortuna acumulada” em hospitais e farmácias.
        NENHUM DELES MERECE MORRER. A VIDA SERÁ SEUS CASTIGOS.

        1. DIGO MAIS, TUDO ACONTECEU COM O SENHORZINHO CABRAL (FILHO) PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA QUE FACILITOU OS TRABALHOS DE PRIVATIZAÇÃO DO BANERJ. E SEU PAI SENHORZÃO CABRAL ERA MEMBRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO, APÓS SER VEREADOR.
          INTERESSANTE, PARA NÃO DIZER TRISTE, A HISTÓRIA POLÍTICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.

  4. A triste história do Estado da Guanabara que tinha tudo para dar certo e que, por interesse dos militares, teve que se unir ao Estado do Rio – deu no que deu!

  5. Toda vez que passo por ele, não entendo o porquê de manterem aquele fosso, que outrora foi um lago com chafariz, vazio, imundo. Ou jogam cimento e tapam aquilo ou refazem o tal lago. Opto pela primeira opção, pois o lago vai ser banheiroi de desocupados a´lém de mais um foco de aedes egypti.
    Ô terrinha ordinária!

    1. O lago já tinha sido gradeado logo abaixo do espelho d’água para evitar ser hidro de mendigos. Mas acredito que sua limpeza demande tanto trabalho que ele é largado vazio.
      Se pensarmos o que a CEDAE perde por dia de vazamentos na sua rede, temos certeza que a água do lago poderia ser trocada umas 20 vezes por dia, sem chegar nos milhôes de litros jogados nos ralo pela falência do braço de água e esgoto do nosso estado, outro legado da Guanabara que está abandonado há décadas só servindo de cabidão e agora com uma espectativa de dinheiro fácil com a venda terrenos comprados com condições vantajosas ou doados na época da City e da DAE que são hoje patrimônio do povo e não da CEDAE.

  6. O estado da Guanabara tinha o PIB do Uruguay. Até hoje o orçamento da Prefeiutura é respeitável, mas o que fazem com o dinheiro ?

    1. Caro Marcelo,
      O dinheiro arrecadado com o nosso IPTU é “investido” nas favelas, naquele famoso projeto Favela-Bairro que, como diz o Casseta e Planeta, vai transformar a cidade toda em uma favela.

  7. “Banerj” e “Telerj”: ouvir essas duas siglas me causa arrepios até hoje, assim como ouvir o nome da pessoa que colocou nosso Rio de Janeiro numa espiral de destruição, me causa ódio até hoje. Que arda no inferno!

  8. 1982… o ano que não deveria ter existido… realmente o final foi em 1982 sim!!!
    O pior é que depois ainda voltou!!!

  9. Parabéns pelo comentário! Muito ilustrativo.
    Falando dos bons tempos do Banco, recomendo o filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, de meados dos anos 1960.
    Há muitas cenas neste prédio: Especialmente a sala de processamento de dados e o guindaste que desce um carro (Simca Esplanada) do terraço até a calçada (ao lado do lago), usado na mesma época na campanha publicitária do lançamento do Ford Galaxie.

  10. Esqueci-me de comentar, já vi na rua do Lavradio algumas peças do mobiliário do Banco a preços muito salgados.
    O símbolo do BEG, grande e em relevo, que servia de maçaneta nas portas de vidro temperado das agências era muito elegante. Onde será que foram parar?

  11. Prezado André
    Muito obrigado por seu excelente texto.
    Você diz: “vira BANERJ e começa a sua decadência, agravada em muito com a posse em 1982 da mesma pessoa que colocou nossa cidade numa espiral de destruição.”
    Em 1982 o Governador era o Chagas Freitas, que tomou posse em 15/03/1979.
    Quem é a pessoa que você se refere que tomou posse em 1982?

  12. Não vou fazer comentario,gostaria de saber se podem me ajudar.
    Estou requerendo minha aposentadoria , no perío de de 1973 a 1977 trabalhei na Macife, onde a movimentação bancária era no BEG, por uma diverganecia de datas, o INSS colocou exigencia.Gostaria de saber onde posso procurar a documentação que era feita no BEG,ref. a fundo de garantia, para comprovar meu tempo de serviço?

  13. Estou fazendo um trabalho para faculdade, e gostaria de saber mais sobre o nivel de informatização do BEG a epoca. Gratos

  14. Eu participei da gloria do Beg e decadencia do Banerj,como funcionario. até hoje eu sonho
    com o banco e sou revoltado com a familia barreiro, e com cabral.

  15. Os gerentes regionais, gerentes gerais e outros canalhas que já estão no inferno não passaram por toda agogia de 5 mil ex- funcionários demitidos em 30 de março de 1996

  16. BEG/BANERJ foi o primeiro banco do Brasil a operar com sistema online-real time. Desde 1973. Com computadores NCR. Seu idealizador foi Grerd, na diretoria do Sr. Simão Braia (depois proprietário da Racimec)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

4 + 5 =