A Construtora Predial Corcovado pode ser considerada a primeira grande especuladora imobiliária da cidade, modernamente falando. Se antes tinhamos movimentação imobliária sobre áreas subvalorizadas, perto de áreas valorizadas sendo capitalizadas para gerar lucro aos incorporadores e companheiros de aventura, como a desastrada operação no Morro de Santo Antônio nos anos 20 e a rentável na Ajuda, mais ou menos na mesma época.
O movimento da Corcovado foi intervir numa área valorizada ao extremo, demolindo contruções muitas vezes com menos de 30 anos, para usar o terreno do modo mais predatório possível, pulverizando o imóvel original em centenas de menor valor e aí alferindo lucros. Foi com essa mecânica que a Corcovado foi uma das grandes culpadas pela destruição do Bairro de Copacabana no pós guerra, prédios com o Master, Manchester, Saint Martin, Dublin etc….. foram construídos nessa política.
No início dos anos 50 a Corcovado era a mais próspera incorporadora da cidade, comprando os grandes terrenos do bairro por verdadeiras fortunas. Passando aí lançar os prédios mais luxuosos, em bons endereços, mas sem a sofisticação e bons projetos de seus vizinhos mais antigos, feitos por outras construtoras mais nobres ou no pré guerra.
Em 1952 a compra do Hotel Londres, 4 grandes terrenos entre a Avenida Atlântica e Domingos Ferreira, foi o negócio imobiliário da cidade mais caro da cidade até então. Falava a construtora que 4 prédios de luxo seriam erguidos, mas certamente pelas altas cifras envolvidas, foram construídos dois prédios de certo luxo e um grande balança o Master.
Essa geração que tentava dar alguma respeitabilidade na construtora de quitinetes nomeava-se não nas cidades proletárias inglesas ou em nomes estrangeiros muitas vezes com ideia de superioridade, mas sim nos títulos nobiliárquicos da realeza britânica. Prince of Wales, Duke of Edimburg etc… eram usados.
Um dos lugares com maior concentração dos prédios da corcovado é o paredão despersonificado da Praça do Lido, em contraponto com os outros 2 lados, recheados de ícones edificados do bairro. Parece que a Corcovado comprou de uma só tacada todas as velhas casas que ainda resistiam daquele lado, como terrenos da Light e da casa dos Bernardelli, que sucumbiu não obstante um surpreendente movimento preservacionista, mesmo naquela época.
Num desses prédios o dono da Corcovado projetava seu apartamento, um grande triplex, para morar junto com sua mãe. Mas antes de o prédio ficar pronto ele foi assassinado, num estranho crime. Dentro de seu Cadillac, no posto Esso ao lado do Solar da Fossa por seu contador. Ambos estavam sozinhos no carro, tarde na noite. Possivelmente o dono do maior império imobiliário da cidade, com mais de 40 anos e solteiro, sem ser playboy, foi vitima de um crime de ciúmes, abafado pela imprensa.
A partir desse momento sem seu timoneiro a Corcovado foi sumindo até desaparecer de vez, poucos anos depois do crime de 1954, deixando sua triste marca pelo bairro, muitas vezes identificada pelo dístico de metal, ainda presente em alguns prédios por ela construídos.
Na imagem vemos um dos prédios que tentavam dar legitimidade a “especuladora” Corcovado, o Queen Victória, um dos prédios da região do Lido. O desenho mostra para variar uma realidade fora de contexto. O prédio não tem a fachada como mostrada e se encontra espremido entre seus vizinhos. A fachada lateral dá para uma escura servidão, com a empena cega de outro prédio da Corcovado.
Agradecemos o amigo Carlos Ponce de Leon de Paiva o envio do croqui do Queen Victória.
Se o solteirão tivesse sobrevivido, teríamos, provavelmente, uma Ipanema e Leblon também “copacabanizados”. Mas nada disso teria ocorrido se houvesse legislação que tivessse protegido Copacabana.
Se não me falha a memória, um ex-prefeito tentou reviver os tempos dos cabeças-de-porco. Felizmente a cidade rejeitou a sua re-eleição.
Hoje vemos que foi um grande erro a legislação que permitiu a construção de tantos edifícios com quitinetes. E mesmo Ipanema e Leblon, com a alteração do gabarito que existia até os anos 70 (acho eu), ficaram muito pior.
O dinheiro explica muita coisa.
Luiz,
A alteração de gabarito no Leblon, me parece, ocorreu no final dos anos 60. Até esta época os prédios do bairro só poderiam ter 4 andares, com exceção dos localizados na Ataulpho de Paiva. Não que fossem bonitos, mas pelo menos eram baixo e como as ruas eram muito arborizadas, deixavam o bairro simpático e aconchegante.
Eu estava aguardando esses comentários.
Excelente.
O problema é que um mínimo de qualidade de vida em Copacabana jamais poderá ser recuperado. O empresário busca o lucro, muitas vezes sem considerar as consequencias. Mas o inadmissível é que aqueles que legislam em nome do povo permitam o crime que foi cometido em um dos lugares mais bonitos do planeta. Triste.
a solução para Copacabana tem que ser radical. Demolir os quarteirões mais adensados e abrir praças. Mas em uma cidade com tantos problemas graves, que faria isso ?
Como eu digo,
O carioca não merece a cidade que vive!
Paulo,
A recíproca é verdadeira: eu acho que o Rio não merece o que fizemos com ele.