Postinho de Ipanema

Por motivos de obras nosso arquivo inédito, bem como os livros e demais materiais de consulta estão indisponíveis, portando faremos um repeteco de posts que foram realizados no fotolog desde o início do “foi um RIO que passou”, quando possível com os textos revisados e enriquecidos. O de hoje, publicado em Maio de 2004 
Hoje teremos um post a quatro mãos
Um posto de gasolina que deveria ser tombado
Jason Vogel
O Postinho, na esquina de Vieira Souto com Jardim de Alah, começou a se tornar ponto de encontro da turma que gostava de carros no começo dos 50. Na época, o Circuito da Gávea (corrida pelas ruas do Leblon e da Rocinha) ainda era uma prova do automobilismo internacional e a área era muito menos movimentada do que hoje. Pois uma turma se reunia no posto – que sempre teve bandeira da Esso – e daí saía pra medir forças. Muitas vezes, usavam o próprio percurso do Circuito da Gávea para avaliar a preparação dos motores ou apenas correr por um pouco de adrenalina.
O Circuito da Gávea acabou em 54, mas o postinho continuou a atrair cada vez mais aficionados por velocidade. Mecânicos, apaixonados por carros, gente que ia trocar uma idéia sobre preparação ou apenas bater papo. Vieram a indústria nacional, os anos 60, e cada vez mais gente tinha carro: Simca, Gordini, Karmann-Ghia, DKW e Fusca roncavam envenenados pela área, antes de partirem para pegas e disputas de arrancada na deserta Barra da Tijuca.
No finalzinho dos anos 60, houve uma transformação: com a chegada das motocicletas japonesas ao Brasil, a turma das quatro rodas deu lugar aos apaixonados por máquinas como Kawasaki 900, Honda 750 Four, Suzuki 380 ou Yamaha RD350, a “fazedora de viúvas”… O pessoal se reunia no canteiro do Jardim de Alah, bem na frente do Posto – não era raro juntar cem motos no local. Nos finais de semana, ali era o ponto de partida para viagens para a Região dos Lagos, por exemplo. A qualquer dia, aí por volta das 22h, começavam as saídas para passeios acelerados pelo Alto, ou mesmo um bate-e-volta pela Rio-Petrópolis.
Em tempos de plena liberdade sexual, havia moças que ficavam sentadas no muro, doidas por um passeio de moto que invariavelmente terminava no Motel Tokio, o mais barato da Barrinha. E havia a turma da chamada “pastelaria”, que só queria curtir um passeio devagar em duas rodas.
O declínio veio na segunda metade dos anos 70, curiosamente quando as motos nacionais (em especial, a Honda CG125) começaram a ser fabricadas. Com a popularização, não havia mais a velha aura do círculo fechado de motociclistas… Eram tempos de doideira, e a área em frente ao Postinho virou ponto de venda de pó e maconha, aumentando a repressão policial no pedaço. Aí por volta de 1980, a turma dispersou de vez e o point das duas rodas (incluindo as recém-chegadas nacionais) passou a ser o Arpoador.
Mas vaivém motociclístico no Arpoador também não durou muito. No verão de 82, foi levantado o Circo Voador, bem no lugar onde o pessoal parava suas Hondas e Yamahas. Depois, fizeram o calçadão e o tráfego foi interrompido, acabando de vez com a brincadeira. A turma se espalhou.
Hoje, o velho Postinho está com sua arquitetura da década de 40 descaracterizada, mas resiste bravamente à especulação imobiliária, ao contrário de tantos outros postos da orla que deram lugar a prédios nos últimos 30 anos. Devia ser tombado, pelas memórias que guarda.
Esse texto faz parte do especial do Globo On sobre os 110 de Ipanema
Quem comenta agora sou eu…..
Podemos ver como o posto era interessante, tinha estilo neo-colonial muito em voga naquela época, e o mais interessante é quase um irmão gêmeo dos prédios mais antigos do clube Caiçaras, essa foto deve ser entre 1946 e 1953, primeiro pois há uma geladeira de Coca-Cola e ela só começou a ser vendida aqui maciçamente logo após a guerra sendo meu avô um dos primeiros químicos industriais da empresa no Brasil, e no máximo em 1953 pois bem no extremo esquerdo da foto vemos um pedaço de um poste de iluminação pública, ainda pintado de preto e temos aqui no arquivo de família várias fotos do Jardim de Alah a partir de 1953 onde os postes já são pintados de cinza-claro.
Hoje pouco mais de 4 anos do post original o Postinho, mesmo descaracterizado, foi ao chão para dar lugar a um prédio de apartamentos milionários, entrando no grupo de postos de abastecimentos desaparecidos na Z. Sul nos últimos 5 anos, que não são poucos.
Vimos nos anos 2000 a brutal queda de lugares para se abastecer, lavar e lubrificar o carro nos bairros da Z. Sul, pois seus terrenos, os últimos disponíveis são hoje objeto de desejo das especuladoras, que na falta de uma moratória para novas construções na região, continuam enfiando mais gente na zona mais adensada da cidade.
Lavar o carro já é praticamente impossível, abastecer, em breve só comprando latas nos supermercados, isso também se eles não virarem prédios

11 comentários em “Postinho de Ipanema”

  1. Botei muitos pegas, com meu Ford 51, saindo desse box.
    Os mais novos devem entender que não havia quase movimento nas ruas e os pegas eram feitos à noite. Tinha um percurso que saía do Postinho, pegava o Jardim de Alah, para a direita na Lagoa, passava (onde alguns “viravam vaca”) na Curva do Calombo, Jardim Botânico, Visc. de Albuquerque, Delfim Moreira e chegava-se ali novamente.

    1. Maneiro, tenho Clássicas dos anos 70 e toparia na hora um encontro e fazer este “percurso” com a galera da época. Faço hoje em dia mas só ou com uma rapaziada mais nova de Modern Classics

  2. Em Petrópolis, depois do Quitandinha uns 500m havia um posto menor do que este mas no mesmo estilo, era Texaco. Foi tema até de uma folha de calendário. Ele ainda está lá porém “Arquitetos” me fizeram o favor de desfigurá-lo totalmente colocando ele ‘a la page’ com o Manual de identificação corporativa com direito a acrílico, folhas de alumínio anodizadas – UM DESASTRE !

  3. Vamos ter que carrgar gasolina em galões e estocar nas garagens. Ou colocar bombas nas garagens como antigamente… mas aí a Feema vai chiar..

  4. Frequentei em três períodos o Postinho primeiro na época das Vespas e Lambretas depois dos fuscas e Brasilias e por último entre 70 e 80 com motos. Eu lá tive uma Honda 200 vermelha depois uma 360 laranja e por último Uma Honda 750 azul comprei nova no Romero em botafogo. A turma era espetcular conheci minha mulher Eliane e estamos juntos a 40 anos dois filhos, mil amizades até hoje mil passeios maravilhosos muitíssima saudades daquela tempo. A uns anos atrás comemoramos os 25 anos de postinho com um jantar em um restaurante por lá veio gente até do Paraguai.Quem sabe o Alemão convoque a turma daquela época para novo encontro, seria incrível encontrar os amigos agora mais centrados de novo.

    1. Muitas Saudades… Gostaria de saber por onde anda aquela turma… todos avós com certeza. Quanta Gente prá lá de Boa… Saudades… Por onde andam?
      Ass. Márcia (ex do Cledir)

    2. Muito legal seu post, eu era novo mas frequentei em 74/75, tinha uma CB125K5 2 cilindros. Saíamos do postinho, parada no Lord Jim para um chopp e depois pega no Joá e Alto. Se tivesse algum encontro iria com certeza

  5. Muitas Saudades… Gostaria de saber por onde anda aquela turma… todos avós com certeza. Quanta Gente prá lá de Boa… Saudades… Por onde andam?
    Ass. Márcia (ex do Cledir).

  6. Frequentei durante anos o postinho com a minha CB 750 F1 amarela.
    Os nomes Paulo Renha, Norton da Norton 750 Commander, Hell Angel, Marlon Brando, Ricardo alemão da Honda 1000, Lúcia da Harley Davidson 125,
    Alex e Daisy com a Honda 750 com dois radiadores, Alexandre e Rose de Primo com sua Triumph, Pedro Cadeia com a Kirke , Cidinho hoje dono da rede bumbum, Paulo flanelinha e muitos outros

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