Aérea, Fundão, final dos anos 50

foto de andredecourt em 18/05/07

Nossa aérea de hoje data do final dos anos 50, e vemos a grande Ilha do Fundão já formada, contrastando com o litoral em volta ainda pouco modificado.

A ilha que hoje abriga a Cidade Universitária da UFRJ é o resultado do aterro e união de 8 ilhas, algumas grandes e outras que não passavam de banco de areia com pedras, sendo o resultado final de estudos que vinham desde os anos 20, tentando arrumar um local para abrigar todas as escolas da então Universidade do Brasil, depois Nacional.
Previu-se vários lugares, Praia Vermelha, Quinta da Boavista, Vila Valqueire, Castelo, Manguinhos, Ponta do Valonguinho em Niterói, Ilha do Governador e até sobre palafitas em plena Lagoa Rodrigo de Freitas.
Os dois lugares principais seriam a Praia Vermelha e posteriormente a Quinta, tendo chancela de vários urbanistas entre eles Le Corbousier, Reidy etc… chegando a Quinta ser aprovada como destino das faculdades, e estudos e projetos serem realizados, como aliás tinham sido nos anos 20 por Agache na Praia Vermelha. Por motivos estranhos a Comissão Universitária pediu outro local para a construção da Cidade Universitária, sendo então destinados terrenos em Vila Valqueire, embora a idéia da Quinta ainda continuasse fortíssima nos meio dos arquitetos e urbanistas.
Mas em 1944, em plena Segunda Guerra e Estado Novo, Capanema transferiu a competência para os estudos para a localização da CU para o DASP sucessor do DIP, um órgão de repressão política e censura aos inimigos do nosso ditador, tendo o DASP decidido de forma unilateral aterrar o arquipélago da Enseada de Inhaúma para ali criar a Cidade Universitária, inciando-se ali uma sucessão de erros que predominam até hoje.
Para um governo totalitário isolar os estudantes e intelectuais numa ilha era o paraíso, muito melhor que os levar para as lonjuras de Vila Valqueire, e os aterros começaram, como aliás já foi aqui mostrado ( http://www.rioquepassou.com.br/2006/10/09/http://www.rioquepassou.com.br/2006/10/10/) criando um nada urbanístico e causando um grande desastre ecológico, que foi a morte de um dos cantos da Baia da Guanabara de rara beleza por seu litoral recortado com ilhas e elevações como cheio de importância histórica no desenvolvimento dos subúrbios da Leopoldina.
As correntes marinhas cessarem e os sedimentos trazidos por rios da bacia do Faria-Timbó, já em muito afetada pela construção da Av. Brasil, junto com a crescente favelização da região provocaram o rápido assoreamento do local por um lodo preto e putrefato.
Nos anos 70 e 80 novos aterros, feitos para dar “melhores condições” de vida os moradores das favelas do Complexo da Maré, chamado de Projeto Rio, criou novos aterros na região e promoveu condições para aumentar o assoreamento da região e intensificou as enchentes de enormes áreas suburbanas pela radical mudança da declividade das calhas dos rios.
Com a construção da Linha Vermelha, feita em trajeto diverso que era previsto nos tempos de Lacerda e de forma totalmente diferente, novos aterros forma criados, estreitando ainda mais o Canal do Cunha, o fétido braço de mar que hoje separa a Cidade Universitária do continente, resultado da mão do homem que mexeu com a geografia sem pensar nas conseqüências geográficas e sociais.
A foto mostra a parte sul da Ilha do Fundão, vemos em construção o Prédio da Engenharia e no fundo o prédio da Reitoria, algumas vias já estão abertas, mas a Ilha só está ligada pela Av. Brigadeiro Trompowski, a ponte Oswaldo Cruz ainda não existia.
Na direita inferior da foto vemos o litoral ainda quase original, a grande ilha é a Ilha dos Pinheiros, integrada ao continente em 1980, permanecendo uma pequena parte como uma estação ecológica da Fundação Oswaldo Cruz, ao seu lado vemos a Ponta do Timbáu e a Praia de Inhaúma, hoje esses acidentes geográficos viram nomes de favelas. Mais abaixo vemos as palafitas da Baixa do Sapateiro, uma das primeiras invasões do local, em terras não ocupadas do loteamento de Bonsucesso.
No topo da imagem vemos a Ponta do Caju, com seu contorno já totalmente alterado pelos aterros e vazadouro de lixo da cidade no início do século.
Agradecemos ao amigo João Novello pelo envio desta foto.

Comments (24)

jban disse em 18/05/07 10:28 …
Joõa ??? Quem é esse aí ?
😛
aquela ponta de areia é o local da atual ponte de ligação do Fundão com o continente.
Realmente a localização do Campus é horrivel, ainda mais com os danos gerados ao meio ambiente.
Derani disse em 18/05/07 10:37 …
Sr André,
” localização da CU para o DASP ” ??
Francamente!
O Papa foi embora mas a santidade permanece.
Derani disse em 18/05/07 10:37 …
O que foi aterrado para a construção da Cidade Universitária deve ter acabado com vários viveiros naturais de vida marinha… uma lástima.
rock_rj disse em 18/05/07 10:46 …
André, você devia reunir suas fotos e pesquisas para fazer um livro!
Não sei se haveria problema de direitos autorais nas fotos.
Título: “A Evolução da Cidade do Rio de Janeiro”
Subtítulo: “Aspectos Positivos e Negativos”
antolog disse em 18/05/07 10:56 …
Tempo de ditaduras. O local é muito perigoso de se frequentar, em qualquer hora do dia.
bacione disse em 18/05/07 11:09 …
Pois é uma lástima…Minha filha tem que lá ir, todos os dias..e eu rezo e rezo e rezo!!!!Muito interessante a foto e as memórias. bjs da Pia
caucaia1 disse em 18/05/07 11:40 …
O “Estado Novo” era pródigo em personagens loucos, inteiramente loucos.
E o pior é que alguns, como o aqui citado, passaram à história como gente séria e empreendedora.
Tsk, tsk.
js disse em 18/05/07 11:46 …
Explendida tomada aérea.A vida marinha neste local seria de quelquer maneira arrasada pelo esgoto das favelas e palafitas(Lavoura dos políticos),que é o que mais cresce neste País,que não tem nenhuma política habitacional decente, nem aquela da Vila do João é digna do nosso povo.
Waldenir disse em 18/05/07 12:25 …
Boa tarde,André.
O CT e a Reitoria já existiam, mas e o quartel de cavalaria que fica na ponta do Catalão?
Luiz D’ disse em 18/05/07 13:01 …
Incrível que isso foi há apenas 50 anos.
Pedro disse em 18/05/07 15:06 …
Incrível como se degrada todo o meio, que acabou ficando pior ainda!
Toda essa região virou área de risco de vida.
rodperez disse em 18/05/07 19:12 …
ótima foto e história
tursp disse em 18/05/07 22:05 …
A fotografia é um exercício fundamental da criatividade. Torna-la possível através das páginas do fotoblog é uma maneira de revelar o gênio da criação. Caminhos que nos levam a apreciarmos a beleza que esta na intimidade das pessoas. Essa beleza desenhada através de formas, luz e cor. Resumindo, arte fotográfica. Da simplicidade à maioridade da estética visual. Parabéns pelo trabalho.
Rafael Netto disse em 18/05/07 22:38 …
Eu fico imaginando como não devia ser frequentar o CT nos anos 60… tudo bem que não tinha as favelas criminosas como hoje, mas aquilo ali era um deserto sem fim!
Já vi fotos das antigas ilhas, elas tinham morros e farta vegetação. Hoje sobra um pouco nas pontas do Catalão e Bom Jesus.
Marcelo Almirante disse em 19/05/07 00:30 …
Meu sonho é ver o fundão transformado num bairro vivo, com gente na rua. Não existe falta de habitação naquela região ?
A Universidade poderia ser transferida pro Cais do Porto, junto ao centro da cidade, dando mais vida aquele lugar.
Marcelo Almirante disse em 19/05/07 00:32 …
E o Gasômetro ? Fica uma sugestão de post, pois o primeiro reservatório já foi desmontado.
js disse em 19/05/07 09:10 …
Visto que a devastação desta área é irreversivel,
não vejo o porquê de Ilha do Fundão. Se devidamente aterrado, anexado a Ponta do Caju e loteado, daria muitos terrenos para ocupação com estrutura urbana. Já que era pra degradar,acho que mais uma vez faltou planejamente e visão de futuro.
Wagner Bahia disse em 19/05/07 09:17 …
Ou seja, o que era uma ilha, já não é mais…
js disse em 19/05/07 13:28 …
Não. o que eram oito ilhas irreversíveis.
Luis Felipe disse em 19/05/07 17:28 …
Essa foi espetacular ! Um registro raro ! e, triste…
Arrasaram com a ecologia do local desnecessariamente ! Que ao menos fosse nos terrenos onde hoje é o favelão !! E , pelo menos, lá ñão teríamos o favelão . e os alunos teriam um melhor acesso ao local ! Enfim, mais uma da Ditadura ( Vargas )
dexteram disse em 20/05/07 00:55 …
A quantidade de considerações possíveis é gigantesca, dada a abrangência do tema e a repercussão na atualidade. A natureza raramente é poupada no processo de crescimento urbano, mas o que ocorreu e ainda ocorre no Rio de Janeiro(porque é o lugar onde eu vejo ocorrer) é impressionante. Sabe, cada dia que passa eu tenho mais certeza de maior do que as decisões que tomam pela gente, do que as intenções políticas por de trás de decisões aparentemente técnicas, maior até que a ignorância e a miséria, é o problema da nossa passividade diante dos impropérios do poder. Um dia talvez eu intenda por que um povo dotado de tantas qualidades seja bovinizado dessa forma. Interessante como, no Brasil, crescimento econômico e crescimento social sejam coisas completamente distantes entre s. Realmente André, sucessão de erros.
Marcelo Almirante disse em 20/05/07 10:07 …
No final da Rio 92 não foram liberados milhões, ou até mais de um bilhão de dólares, para a despoluição da baía de Guanabara ?
Onde foi parar esse dinheiro ?
Me perdoem, mas em matéria de cidade é uma cidade fracassada. E ainda tem gente que chama tudo isso de “maravilhosa”, só olhando para os cartões postais, é claro.
js disse em 20/05/07 10:15 …
Falou e disse Marcelo,maravilhosa é so pra gringo ver,gostariamos de um Rio de Janeiro mais justo na aplicação dos impostos,mais humano no tratar com os humildes, não como no governo Carlos Lacerda que espulsou os favelados para bem longe, gostariamos do reaproveitamento das áreas de favelas com reurbanizações decentes e não estes favela-bairros,que não diz ao que veio,sem estrutura, criando apenas ruelas em meio a miséria.

5 comentários em “Aérea, Fundão, final dos anos 50”

  1. Foi um crime ao meio ambiente até hoje pagamos o preço ,
    os pseudos protetores do meio ambiente não sabem nada da região e vivem falando em proteger o manguesal da região . nunca existiu ali esse propalado mangue , a área era um arquipelágo de pequenas ilhas um verdadeiro berçario de vida marinha , a orla chegava até o limite da Av. Brasil na frente do Instituto Oswaldo Cruz .
    A pouco tempo cometeram mais um crime com a fraudulenta draguagem do canal que não vai resolver o problema da região são obras afim de sugar os cofres do governo que não tem resultado e ninguém fiscaliza ,
    pelo texto percebi uma certa tristeza sobre o desrespeito com a degradação da área e torço que não seja mais uma oportunidade de aparecer e depois nunca mais , só tomeu conhecimento do blog hoje mas já valeu a pena .
    Julio

    1. Júlio, o mangue existiu sim, nos lugares onde havia sedimentos sem ser areia de praia, na foto inclusive vemos a Ilha dos Pinheiros com um cinturão de vegetação de Mangue.

  2. André essa foto já mostra a área degradada e com as ilhas arrasadas para aterraar , já é daquela época a formação dos atoleiros de lama que se acumulavam por não existir mais a corrente marinha das águas de enchente e vazante . se você observar vai notar que ainda não tinha sido feito o aterro para prolongamento da ponta do Cajú onde construiram o estaleiro havia um grande monte de areia retirada para dragagem do porto .Depois prolongaram o aterro até onde é hoje o antigo estaleiro Caneco , hoje temos a estação da alegria próximo ao que foi o maior vazadouro de lixo dorio a antiga “Sapucaia “que veio crescendo da Avenida Brasil em direção ao que é hoje a estação .
    As ilhas existentes na época são esses pequenos tufos “verdes ” no meio da planice de aterro , a Ilha do Pinheiro era uma ilha frondosa sem nenhum mangue a sua volta , mas são sbjetividades ficarmos definindo o que era ou não , o importante é que o suposto progresso degradou a áre e nimguém fez nada .
    Julio

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