O que muitos poucos sabem é que a área ocupada hoje pelo Bairro Peixoto, no trecho situado entre a Rua Tonelero entre as Ruas Figueiredo de Magalhães e Santa Clara, Rua Henrique Oswald até a vertente do Morro dos Cabritos, todo o lado par da Rua Santa Clara e lado Impar da Rua Siqueira Campos continuamente até a Rua Ministro Alfredo Valadão e a partir daí de forma irregular até novamente voltar à Rua Tonelero era a última área agrícola de Copacabana, isso em plenos anos 40 do séc XX.
A Chácara do Comendador Peixoto, homem de finanças, foi resultado do contínuo desmembramento da Fazenda da Lagoa que ocupava praticamente toda a parte oceânica da Zona Sul, iniciada com a chegada da família real. As glebas foram sendo divididas continuamente durante todo o séc. XIX, até chegarem a chácaras.
A Chácara do Comendador Peixoto era o resultado de uma nova concentração de terras, muitas vezes com fins de urbanização e loteamento como fez a Cia de Construções Civis no trecho do Leme e Posto III e o Barão de Ypanemma a partir do Posto V. A Propriedade era o conjunto de outras 3 obtidas por Peixoto nos anos de 1903 até 1929.
Curiosamente ele não iniciou o loteamento da região nos anos 10 como todos seus vizinhos fizeram, a propriedade de Peixoto continuou agrícola, com plantação de capim para animais de tração, estábulos com vacas leiteiras, hortas de verduras e folhas, pomares e um enorme renque de bambus indo praticamente de ponta a ponta da propriedade mais ou menos por onde está hoje a Rua Décio Vilares. A propriedade ainda possuía um lago onde hoje é a esquina das Ruas Figueiredo de Magalhães e Ministro Alfredo Valadão e um enorme charco, onde hoje se situa parte da praça Edmundo Bittencourt, e trechos das Ruas Maestro Francisco Braga, Ten. Marones de Gusmão e Figueiredo de Magalhães
E assim manteve Peixoto sua propriedade até 1939 quando o Comendador Peixoto doa em testamento sua propriedade para 5 instituições de caridade e começam os estudos para a criação da área hoje conhecida como Bairro Peixoto. Não obstante anos antes em 1926 e 1931 pedaços das terras do comendador terem sido arruadas e ganho PA’s. Como o trecho superior da Rua Santa Clara, que fazia fronteira com os terrenos da família Constante Ramos e a Rua Henrique Oswald, aberta dentro da propriedade de Peixoto como ligação da Rua Santa Clara com o Túnel Velho, de grande largura e sendo curiosamente chamada à época de avenida.
Na realidade o Bairro Peixoto era composto de 3 PA’s distintos os externos da Rua Santa Clara e Siqueira Campos e o interno, o mais famoso de número 3850 de 1943, que deu origem à praça Edmundo Bittencourt e as ruas de entorno, inclusive ao prolongamento da Rua Figueiredo de Magalhães e a futura Praça Vereador Rocha Leão.
A curiosidade é que o Comendador Peixoto ao doar seus terrenos colocou uma cláusula que todas as edificações não poderiam ter mais de 3 andares, mas apenas um ano depois as distorções começaram, aumentando os gabaritos das ruas externas e em 1952 colocando mais um andar nas internas.
Nossa foto de hoje é de 1930, sendo tomada da encosta da Ladeira dos Tabajaras no seu trecho após a Travessa Santa Margarida, ao pé da imagem no lado direito temos alguns imóveis da Rua Siqueira Campos, na esquerda ainda no pé da foto vemos um conjunto de casas que aparentam estar no final da Travessa Santa Margarida, nesse pedaço hoje Rua Ministro Alfredo Valadão. A foto não é muito nítida mas podemos vislumbrar de forma tênue o lago que existia no local.
Ao fundo vemos a Rua Santa Clara em obras de terraplanagem e elevação do piso para a instalação das galerias que conduzem além das águas pluviais, um dos cursos d’água que descem a encosta na altura da escada da Rua Santa Clara.
As 3 solitárias casas que vemos ao fundo parecem estar na Rua Lacerda Coutinho, urbanizada anos antes em terras da família Constante Ramos, que até hoje se mantém praticamente ocupada só por casas.
Outra imagem do Bairro Peixoto antes da urbanização e poucos anos à frente, tirada do outro lado do vale pode ser vista em nossos arquivos num post de Novembro de 2005: http://www.rioquepassou.com.br/2005/11/08/
Comments (5)
Incrível que Copacabana pudesse estar assim até meados do século XX.
Devia ser uma paz danada aí, nessa época.
Sensacional, André.
Até hoje exista na Figueiredo Magalhães um “buraco” depois da Toneleros que junta água quando chove muito… restos da lagoa ? Pelo menos há uma grande depressão na área.