De pesada arquitetura colonial, sólida como uma rocha, já era vítima do instinto carioca do abandono, de locais e prédios quando os mesmos não são tão cômodos, não tão modernos, ou porque simplesmente estão fora de moda.
Com a descida da população para as varzeas, agora livres dos índios e franceses e também sendo dissecadas, o Morro do Castelo ficou inicialmente despovoado e as grandes estruturas públicas ali instaladas com o dinheiro da coroa se tornaram incômodas e foram abandonadas, muitas vezes porque ninguém queria subir ladeiras. Mesmo que as instalações de tais repartições na varzea fossem precárias, ou nem existissem, como era o caso da Sé, que ocupava igrejas de irmandades, muitas vezes ao contragosto delas.
No séc XIX a outrora imponente Sé, em ruínas foi repassada para uma ordem menor, os Capuchnhos ou Barbadinhos em 1842, que fizeram uma grande reforma no templo, quando depois de um forte temporal em 1861 o mesmo quase desabou. As obras dos Capuchinhos trouxeram nova vida à igreja e fizeram a “redescoberta” de relíquias históricas por parte dos cariocas como as imagem de São Sebastião e o túmulo do fundador, bem como o marco de fundação da cidade.
Mas tudo era muito pouco, o morro continuava abandonado e pouco povoado, como aliás chegou até o séc. XX, os velhos casarões transformados em cortiços, e os velhos sobrados ocupados por famílias simples, além enormes extenções de encostas cobertas de pomares e mata onde haviam as chácaras como a dos Capuchinhos, da Floresta e do Seminário.
Mas aquela “verruga” colonial não condizia com a nova capital, conta Luiz Edmundo que na saída de uma ópera no Municipal a elite e os dandis, foram agraciados com um monte de cabrinhas e cabritos pastando na encosta recortada por de trás da Biblioteca Nacional, onde ficava o Seminário de São José, era demais para o espírito Belle Epoque.
Por anos os planos para demolirem o velho morro, berço da cidade foram em vão, mas com a proximidade do Centenário da Independência esses planos ganharam força e foram por fim postos em prática.
Na nossa foto de 11 de Março de 1922 as picaretas destroem a velha Sé e seu hospício, enquanto fortíssimos jatos d’água lavavam a argila do morro para dentro da Baia da Guanabara formando mais um aterro. A última missa do templo foi em Novembro de 1921, e no dia 20 de Janeiro de 22, com a igreja já quase desprovida de ornamentos o marco de fundação e o sepulcro de Estácio de Sá foram retirados.
Além da Sé, vemos na extrema direita da foto parte das ruínas do primeiro chafariz público instalado no morro.
Hoje a sanha de destruição dos cariocas ultrapassou os limites de prédios ou localidades, tenta-se destruir a cidade inteira.
Foto: Malta
Comments (16)
Foi o Centro Histórico do Rio, ao contrário do que se vê na maioria das cidades européias.
http://fotolog.terra.com.br/luizd
Foi-se o Centro …
Até hoje, cada vez mais os governantes procuram apagar vestígios de épocas passadas…
O nosso mestre Milton Teixeira conseguiu descobrir e confirmar a existência do primeiro fortim no meio da mata do Morro Cara de Cão, erguido pelo estácio de Sá, antes de ir pro Castelo.
Já estou rouco de tanto escrever sobre o crime que foi feito com essa cidade ao se destruir o berço de sua fundação. Nem São Paulo conseguiu tamanha façanha. O Pátio do Colégio está lá.
Ainda não tenho idéia formada se foi melhor ou não a demolição… talvez tivesse sido melhor que pelo menos uma parte fosse preservada e a outra arrasada para abrir mais espaço.
Agora, o que ficou no lugar do morro, não é nada bonito nem agradável de ver.
Uma espécie de “Praça Vermelha” tupiniquim.
Que aula!!!Belíssima foto, eu, que já havia pedido fotos do Morro do Castelo, babei ao ver esta. Quantos segredos aí escondidos, o túnel de ligação com o Convento da Ajuda etc… Só o Morro do Castelo daria um farto discurso, porem sempre achei que a raridade de fotos do morro,não se deve apenas pela dificuldade de possuir uma máquina fotográfica e sim pelo fato de ser uma paisagem deprimente em pleno centro da cidade. Abs
naquele tempo não tinha nem Rinso nem Omo mas a roupa no varal era branquinha…
A violência, muitas vezes, é questão de sobrevivência. Pense nisso quando vir o Lula passando. A gente pode sentar a mão nele e ser absolvido, porque estamos tentando sobreviver nas mãos dos assassinos à solta e dos discursos vazios do Nosso Guia.
Ainda há muito para destruir. O Cassino da Urca é hoje uma casca. Saem caminhões e caminhões de entulho. Nada entra. Nada se constrói. Daqui a pouco ele cai e aí, depois de muitos discursos e idéias, a Tartaruga Oscar Niemeyer vai fazer um monumento estranho, a ele mesmo ou a algum de seus benfeitores governantes.
Faço coro com o JBAN!
Não vou repetir o que já disse todas as vezes em que se tocou no assunto “Morro do Castelo”.
Mas ele falou do Pateo do Collegio… sim, o berço de Piratininga está preservado… mas é praticamente a única relíquia histórica da cidade. Mesmo assim, é maravilhoso passar por ali e imaginar que aquelas paredes assistiram à construção de toda a metrópole que existe em volta. No Rio isto não é possível, quando muito, no Convento de Santo Antônio, cem anos mais recente que o Castelo.
o moléque está fazendo xixí…
Se o morro do Castelo estive aí ainda, como ele seria? Será que seria mais um favelão super perigoso? Ou seria um lugar belo e conservado?
Na foto anterior, a igreja ficava situada onde hoje é o final da Av Rio Branco, esquina com Sta Luzia, observe que esta não é aquela dos Jesuitas, ligada ao castelo,e a ladeira vamos conferir com o Andre, acredito ser a Ladeira do Seminário,cujo lado do morro é o da Chacara da Floreta,onde havia um poço de agua.
Centenário da independencia, 922.
Caro andré, visito seu flog faz tempo, de vez em quando eu entro para ver as novidades sobre antigamente, matar as saudades do que não vivi, ver os comentarios sempre interessantes e lamentar que o que não precisava mudar tenha mudado tanto e que algumas coisas infelizmente não mudam apesar dos anos. Caro Brunno, a história não permite Se, e infelizmente as suas perguntas jamais terão a chance de serem respondidas. Convivamos então com suposições e retóricas.
Apenas um exercício de imaginação: hoje ser possível caminhar por entre os marcos da fundação da cidade.
O Pátio do Colégio é falso, é uma releitura do Pátio que foi destruído. Em São Paulo só dois prédios são anteriores ao século XX, o convento da Luz e a casa da Marquesa dos Santos, e só.