No post de hoje é publicada uma foto muito interessante do acervo da Francisco Patrício que mostra uma Rua do Acre recém inaugurada ( http://fotolog.terra.com.br/luizd:590 ), com muitas construções coloniais se mesclando com outras já transformadas em ecléticas.
A Rua do Acre é o resultado de mais uma das criações do Governo Passos, que mudou para sempre a feição e os costumes da cidade. A nova rua, retificada, alargada e pavimentada corretamente substituiu parcialmente a primal Rua da Prainha, que margeava o Morro da Conceição.
A Rua da Prainha é uma daquelas vias que surgiu de forma quase espontânea em nossa cidade, continuação natural da Vala, que fazia um natural escoadouro das lagoas da região da Carioca até a região da Prainha, hoje Praça Mauá, e que recebeu em seu trecho maior o nome de Rua da Vala e posteriormente Uruguaiana a Rua da Prainha rapidamente se dissecou, ao contrário da outra via, tendo perdido a ligação no imaginário popular com a vala.
O que muito poucos sabem que a Rua da Prainha tinha uma extensão maior que a rua do Acre de hoje, em tempos idos a Rua da Prainha, tinha um trecho conhecido como “Da Valinha” que é o que conhecemos hoje como Rua do Acre, mas a antiga via ligava o Largo da Prainha até a Rua do Valongo, atual Rua Camerino.
Mas se seu caminho natural já estava traçado por entre os Morros da Conceição e São Bento. Com o crescimento da cidade ela passou a ser o caminho mais rápido e direto para a região da Gamboa e Santo Cristo e no séc. XIX a principal ligação da cidade com os trapiches e todo o transporte por ferry’s e barcaças para o interior da Baia da Guanabara, inclusive Petrópolis.
Viajantes contam a “espécie” que era passar pela Rua da Prainha, porta de entrada para o sórdido universo da Gamboa onde a miséria e pobreza grassavam, trazendo a reboque pestes e demais doenças.
A Rua da Prainha apresentava inúmeras deficiências como calçamento precário sulcado pelos carroções de carga, a ínfima largura que a transformava num caos nas horas mais movimentadas e a precariedade da quase totalidade dos prédios construídos, que se debruçavam na rua, caindo aos pedaços, embora abrigassem sedes e principais estabelecimentos mercantis de grandes empresas da época.
Passos junto com Rodrigues Alves, ao abrir o novo porto e sanear toda a região da Gamboa, Santo Cristo e Prainha, concluiu que a velha via não poderia ficar assim, mesmo com a abertura da nova Av. Central o porto precisava de uma boa via de “serviço” para que a parte sul da cidade movesse suas cargas, usando veículos que não seriam adequados a nova e elitizada avenida.
Teve então a velha rua a sua largura mais que duplicada em vários trechos, prédios em estado precário, mesmo do lado do Morro da Conceição que não foi usado para o alargamento, foram notificados para que seus proprietários fizessem melhorias ou eles seriam postos abaixo unilateralmente pelo poder público. A rua ganhou pavimento asfáltico e uma faixa de paralelepípedos junto aos trilhos de bonde para o transporte de veículos pesados, nova iluminação e foi conectada as novas vias criadas por Passos.
A foto de hoje, infelizmente não muito nítida mostra os trabalhos de reforma e alargamento da via, nosso fotógrafo está em sentido contrário a foto postada pelo Luiz, os prédios à direita, ainda todos de feitio colonial ocupam as fraldas do Morro da Conceição, a multidão certamente acompanha alguma solenidade e ocupa o velho e estreito leito da rua da Prainha.
Com as reformas de Passos, o trecho da via que não correspondia ao “Da Valinha” de tempos idos, ou seja a continuação natural da Rua Uruguaiana, não foi retificado, permanecendo com a largura original e bem tortuoso, tendo ganhado o nome de Rua Leandro Martins, que liga a atual Rua do Acre até a rua Camerino, por de trás dos sobrados da Av. Mal Floriano.
Comments (9)
Como todas as ruas do Rio Colonial, essa merecia ir pro chão (rua no chão??). Estreita, imunda, não fazia jus à nova capital republicana.
Essa foto é do Malta e foi publicada no jornal O Commentario no dia 8 de março de 1904. No jornal o texto dizia:
“(…) na primeira vê-se a aglomeração de povo para o ato inaugural. É no extremo norte. São duas da tarde do dia 8.
A fotografia foi tirada no largo da Prainha, na direção da rua que tinha esse nome, e que hoje, depois de alargada tem o nome de Rua do Acre. As casas que se apresentam demolidas são as de números 17, 19, 21, 23,25, 27, 29,31 e 33 da antiga rua da Prainha; esta é a que formava esquina da rua São bento por onde segue a demolição.”
A foto é interessante, mas o texto é formidável! Que aula! Não sabia do lance da Leandro Martins.
É… isso está explêndido!
Essa rua, quando “da Prainha” sendo uma continuação da rua da Vala, servia para o escoamento da Lagoa de Santo Antônio, onde hoje é o Largo da Carioca.
Escoamento que funcionou e drenou completamente a lagoa, permitindo a contrução do Largo, tendo sido neste intervalo um cemitério de escravos cujos ossos foram encontrados durante as escavações das obras do Metrô, o que confirmou a História.
Boa tarde,André.
A rua Leandro Martins é uma que passa por um pequeno largo junto à Mal.Floriano,onde há um edifício-garagem?
Isto seria aos pés do morro da Conceição.Já estive em cima dele quando fiz uma pesquisa nos mapas do quartel do Exército que existe lá em cima.
Leandro Martins era uma loja de móveis fantasticos que fechou nos anos 60, depois de 50 anos de bons serviços prestados ao publico. Não recordo se ficava na Carioca ou Assembléia.
E detalhe que chovia quando da inauguração.
Apesar da pouca nitidez, a foto e’ realmente interessante, e ficou ainda mais valorizada com o texto. Matou a pau.
Belo trabalho de pesquisa: super-didático!