Leiteria BOL – Av. Mem de Sá



Embora ela tivesse sua matriz da Rua Gonçalves Dias 73, certamente era o caso da filial, na Mem de Sá 05, ser muito mais conhecida que a matriz.
A BOL da Lapa inaugurada nos anos 20, em plena Lapa Boêmia  era uma das instituições boêmias full time da cidade, como o velho Lamas, funcionando 24 horas por dia e servindo todo o tipo de público, do almoço ligeiro dos executivos, advogados e comerciantes, passando pelo chá da tarde, do encontro dos políticos no fim de tarde, indo para o jantar, seguindo pela ceia dos boêmios que se preparavam para a madrugada ou se reforçavam do pileque vespertino que sorviam os sacrossantos caldo verde e a canja, com ou sem galinha e terminando no café da manhã dos sobreviventes da madrugada  ou dos que partiam para mais um dia de labuta.
Segundo consta nos 45 anos de funcionamento da BOL no endereço da Mem de Sá ela só fechou as suas portas apenas 03 vezes. Em 1930 em plena revolução tenentista durante 14 horas, por 18 horas no Agosto de Vargas, e 24 horas para uma reforma de troca do piso. Ou seja, em 45 anos de existência ficou fechada pouco menos de um dia e meio.
A BOL foi, em 1945 eleita uma das casas comerciais mais elegantes da cidade e no meio da Lapa boêmia tinha um diferencial, não servia bebidas alcoólicas, fora a cerveja mas só se fosse para acompanhar as refeições.
Mas mesmo na elegância, sendo inclusive durante a 2ª Guerra o único lugar que se conseguia comprar leite in natura e em pó, sendo procuradíssima por mães para abastecer as mamadeiras de seus bebês, sua frequência heterogênea atraía, políticos, intelectuais,jogadores de futebol, artistas e…..malandros….. inclusive Madame Satã. Por isso figurava, não só no noticiário social e político mas também no policial, cenário crimes passionais, estelionatos, brigas de navalhas e no final nos anos 60, já sem a proteção dos grandes malandros da Lapa, vítima de assaltos.
Em  14 de junho de 1971, o BOL, como seus vizinhos de prédio, o Cabaré Primor (do qual vemos a placa na foto dos garotos empurrando um carro depois do temporal de 66), a Clínica da Lapa (especializada em doenças venéreas), a loteria esportiva e um escritório de representação comercial se deram intimados pela SURSAN para desocuparem os imóveis, pois estavam expropriados para a passagem da Av. Norte-Sul, que embora nessa época já se sabia que nunca ultrapassaria a Rua da Carioca servia de pretexto para demolir a Lapa e facilitar os planos de venda da Esplanada de Santo Antônio.
Mas a Lapa já agonizava desde o meio dos anos 60, mais para dentro vários imóveis da Rua dos Arcos e Lavradio e no grande quarteirão triangular os bares e restaurantes, quase todos parados na belle epoque ou no art déco dos anos 30 e 40 aguardavam, decadentes e cansados, embora servindo a boa comida de sempre aguardavam seu ocaso. Os velhos cabarés, com seus espelhos, lustres e shows, com garções e leões de chácara aguardavam em igual compasso, maltratando a juventude cabeluda que se aventurava no território dos malandros de verdade.
Já o amor cronometrado, dos cabarés e das pensões e estalagens decaia a um quase mangue, com raparigas cansadas e sem classe, se vendendo em estabelecimentos que se desmontavam na falta de manutenção e asseio, gangrenando e esperando a morte pelas picaretas do Estado.
Nessse fatídico 14 de junho junto com o sobrado de número 05 da Mem de Sá, todo o quarteirão estava sendo intimado e em breve os imóveis estariam indo ao chão, processo este que se repetiu no quarteirão seguinte até o Largo dos Pracinhas e também no lado par da Mem de Sá (essa totalmente desnecessária, que nos legou uma enorme empena cega e morta de frente para os Arcos. Mas em 1975 a velha Lapa ferida de guerra agonizada, enquanto o governo do EGB entregava uma estéril esplanada, que até hoje gera mais problemas que soluções.