As duas imagens de hoje estão intrinsicamente ligadas a coluna de Élio Gaspari no O Globo deste domingo dia 11 de dezembro, onde o grande jornalista encarna Lota Machado em uma carta não só ao Mr. X, Eike Batista, mas também a uma seleta “casta” de governantes cariocas e fluminenses em sua incansável saga de marcar, mesmo que “cagando”, lugares já consolidados com a marca de seus “governos”.
O Aterro como conhecemos foi uma conjunção muito feliz de pessoas e governo que conseguiu realizar da melhor maneira possível, mas infelizmente não a perfeita, um projeto que se arrastava desde o final dos anos 20 com o Plano Agache e todas as alterações que foram sendo feitas, ao sabor da voracidade dos políticos e mentes distrocidas em geral até 1960, quando Lota conseguiu junto com Reidy, imporem seus ideiais a Carlos Lacerda, que sabiamente deixou na mão dos técnicos a urbanização daquele monte de terra despejada na orla que ia do Calabouço até o Morro da Viúva desde o meio dos anos 50.
Da eliminação das mais de 20 faixas de rodagem, do revestimento de pracinha do interior, do uso pela especulação imobiliária, do paliteiro de postes, do jardim desordenado e da instalação de equipamentos urbanos inadequados ou insossos; a brilhante equipe conseguiu se desviar de todos estes obstáculos. Construíndo uma bela moldura para esta orla, um dos grandes parques urbanos do mundo.
É certo que desde o final dos anos 70, o Aterro foi ganhando o desdém dos administradores da cidade, sujo, vandalizado, abandonado, escuro, ocupado por mendigos, violento etc…. são facetas da falta de administração tão comum nesta cidade.
Mas tal como o metrô, os planos urbanísticos, a iluminação pública, os sinais luminosos etc… o Aterro está pronto para sofrer violências por parte do poder público e de seus consorciados como no caso de Mr. X na Marina.
A desvirtuação da Marina em casa de shows, clube privê para milionários e lanchas off-shore chega até ser “leve” no campo moral ao absurdo da corcova da velha Tartaruga Arquiteta na região do Rios, aplaudida pelo poder público, corcova esta certamente movida pelo ciúme da centenária tartaruga a uma das obras máximas do mais brilhante modernista de todos os tempos Afonso Eduardo Reidy, um arquiteto completo, tal qual os irmãos Roberto que se diferenciavam da tartaruga por teram a capacidade de construírem residências realmente habitáveis.
Reidy sempre foi um arquiteto socialista na acepção de seus projetos, foi o que mais projetou conjuntos habitacionais, sempre completos e de ótima qualidade, como o Pedregulho, outra obra abandonada, e o nunca concluído Parque Proletário da Gávea ( http://www.rioquepassou.com.br/2004/09/27/parque-proletario-da-gavea-i/ até http://www.rioquepassou.com.br/2004/10/04/parque-proletario-da-gavea-vii/ ), e o que fez no Aterro, junto com Lota ao retirar o excesso de carros, os espigões e os entulhos estatais foi dar o Carioca um grande e democrático espaço ao ar livre, uma compensação pela cidade que cada vez mais se adensava e se verticalizava. A Marina seria para o cidadão comum, aos milhonários já existia o Iatch Club, logo ali mais a frente !
Nossas fotos mostram dois equipamentos abandonados ao longo das décadas, o lago de nautimodelismo, seco há mais de uma dezena de anos e o pequeno trenzinho que fazia o transporte de ponta a ponta do Aterro. Vemos a plasticidade modernistas do grande Reidy, na proporção do urbano, onde o moderno simplesmente não briga com as construções bem mais antigas da velha orla do Flamengo
Fotos de Gyorgy Szendrodi