Casa do "Vaticano" 1971


Aqui estamos, uma foto daquelas que podemos chamar de “mosca branca” pois a casa que vemos a famosa “Casa do Vaticano” sempre foi “encantada” para aparecer em fotos, fora já em ruínas. Na nossa foto embora com cara de fechada ela está perfeitamente íntegra.
A história da casa daria certamente uma ótima história em tons novelescos. Construída nos anos 10 ela fazia parte da segunda geração dos imóveis da Av. Atlântica, não mais uma casa de veraneio, mas longe de ser um dos palacetes ecléticos construídos nos  anos finais da década de 10 início da de 20. Era um imóvel praiano, com uma grande varanda e talvez sua única excentricidade fosse uma pequena torreta no outro extremo do imóvel, como vemos nessa foto do misterioso AD  ( http://fotolog.terra.com.br/sdorio:1729  ) o terreno era enorme, e a casa só ocupava um dos vértices, no fundos na Rua Aires Saldanha, no outro vértice do terreno havia uma garagem se não me engano de 3 portas.
Sabe-se pouco de quem construiu o imóvel, e seus primeiros proprietários, mas foi nos anos 30 que a história que deixou a casa famosa começou a ser construída. Ela foi comprada pelo Conde Innodare e sua esposa, com a sua morte a casa foi passada a sua esposa, que doou em testamento o imóvel ao vaticano, visto que os herdeiros italianos não mostravam muito interesse.
Só que, a velha condessa era cuidada por uma enfermeira, eslava, polonesa certamente, de nome Estephania Paskovitej, além da casa da Av. Atlântica os velhos condes eram propietários de vários outros imóveis, apartamentos e lojas. E surpreendentemente no final dos anos 60, a velha condessa transformou em sua herdeira única a sua cuidadora, a revelia dos parentes italianos e acho que até mesmo do Papa.
Com o falecimento em 1973 da Condessa Innodare a Sra. Estephania, tomou posse do imóvel e então começou uma guerra judicial que até a demolição da casa, já como Help para a construção do novo prédio do Museu da Imagem e do Som, não havia sido terminada, como bem dissecou o ex-prefeito Cesar Maia, em seu ex-blog ( o qual não acho o post..raiva), tendo sido inclusive o dinheiro da expropriação do imóvel depositado em juízo. A briga judicial se arrastava nos corredores do STF e o andamento do processo no TJ-RJ mostrava várias reviravoltas jurídicas
Certamente por esta briga a casa foi abandonada e foi se arruinando durante todos os anos 70 e início dos 80, mesmo com o muro sendo levantado, portões sendo lacrados mas a  casa  ficava sem vigilância,  algo impensado hoje, foi depredada e depois ocupada por mendigos, que provocaram alguns incêndios destruindo telhado e no final boa parte das paredes internas, que desabaram, a foto do AD mostra a casa após o seu primeiro grande incêndio.
Por volta de 1982 a garagem também se incendiou, junto com parte do mato que tomava conta do jardim e foi demolida pois ameaçava desabar.
Em 1983/84 a casa foi alugada por um grupo de empresários espanhois, Chico Recarey, incluso, para fazerem um grande complexo, usando os jardins para a construção de uma grande discoteca e estacionamento subterrâneo e usando as ruínas da casa para dois restaurantes, um informal no nível da Av. Atlântica e um sofisticado na parte superior.
Possivelmente pela a briga judicial, que envolvia a igreja, os descendentes italianos e a cuidadora, herdeira de última hora, a casa não pode ser demolida e foi envolta pela nova construção e podia ser vista nesse mesmo ângulo saindo por fora do complexo dos espanhois ( http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto:351 ).
A foto além da casa mostra um pedaço da concessionária Nova Texas, da bandeira Dodge e uma panorâmica da emparedada Rua Djalma Ulrich, uma das mais antigas do bairro,conhecida como Santo Expedito, e que derivava do velho Caminho do Caniço. Vemos que inclusive um dos horrendos prédios de conjugados proibidos uns 8 anos antes por Lacerda ainda subia, certamente por problemas em sua incorporação.
Por fim vemos elementos urbanos como o pirulito padrão EGB com a lixeira metálica da SLU-GB, um típico poste padrão Light de braço reto, tipo que dominou Copacabana após uma reformulação do sistema de iluminação do bairro nos anos 40 e os vários tipos de carros comuns nas ruas do Rio há época, muitos nacionais e alguns ainda importados dos anos 50.
Foto de Gyorgy Szendrodi

15 comentários em “Casa do "Vaticano" 1971”

  1. Rapaz!!! E não é que acharam uma foto da concessionária Chrysler que pedi no post anterior? Pena que não esteja enquadrada no centro da foto: adoraria ver que carros estavam expostos no salão da loja, naquele momento. De qualquer forma, valeu mesmo, he, he! Também me lembro perfeitamente da casa, depois “Help” (aquela praga que só servia para atrair coisas indesejáveis para a área, como traficantes, prostitutas, flanelinhas, mendigos, pedintes de modo geral, pivetes), e agora o terreno recebendo as fundações do futuro MIS.

  2. Acho que a maldição continua, já que o sr. Szendrodi estava querendo fotografar a rua, a casa aparece como que “por acaso”, do mesmo jeito que a Nova Texas.
    Quando anunciaram o novo MIS eu cheguei a ter esperança que “ressuscitassem” a casa como parte do projeto, mas parece que ninguém pensou nisso (talvez até por desconhecimento da história do imóvel), todos os projetos eram “viagens” modernosas exóticas. Não foi possível nem documentar a demolição, já que o terreno antes de mais nada foi cercado por altos tapumes com estampas chamativas.
    Afinal, a construção do MIS parou? O atraso ainda é consequência das disputas judiciais?
    Quanto à loja de carros, eu lembro da Nova Texas no final da Rodrigues Alves, quase chegando na Rodoviária, com letreiros que se viam ao passar pela Perimetral. Terminou seus dias como concessionária Ford (ou Fiat?), nos anos 80. Sabem se havia uma “velha” Texas?

    1. Também me lembro da “Nova Texas” da Rua Rodrigues Alves, um prédio enorme. Esta loja da Djalma Ulrich (que eu não me lembrava chamar-se também “Nova Texas”, embora me lembre muito dela) pelo espaço reduzido, certamente uma filial, era só um salão para exposição de uns poucos veículos, não tendo oficina, nem estoque de peças para venda aos donos de carros da marca. Oficina e loja, só na matriz. Ah, sim: também não tenho certeza se a Rodrigues Alves virou Ford ou Fiat depois, mas a minha impressão é de que foi Ford.

  3. Não me lembro de tê-la visto, algum dia, tão bem tratada como está na foto. Sempre teve um ar de abandono e quando era criança, achava que era mal assombrada. Passei grande parte da minha infância e juventude, na casa de uma tia que morava quase ao lado dela, no Ed.Washington.
    Por muito tempo, esqueci-me da sua existência. Gostaria de saber o seu valor. Deve ser um número com muitos e muitos zeros.
    Já havia comentado isto antes mas vou repetir. Casei-me em 60 e minha festa foi no primeiro ou segundo andar (não me lembro exatamente), do prédio à esquerda. Inclusive, na última foto do meu album de casamento, estou saindo pela portaria de serviço do prédio, na Aires Saldanha.
    Do apartamento, que era de uma prima, tínhamos uma visão privilegiada da casa.

  4. Quando vi o comentário do Tumminelli no post anterior, deduzi que era sobre a antiga localização da Help. Vi no acervo, mas achei que era outra…
    Como sempre, o acervo do Sr. Szendrodi nos surpreende a todo instante.

  5. Bem ai é minha área. Nos mudados para a Aires Saldanha em 1970.
    Tinha a Casa Maru, do João, uma armazem que vendia de tudo. Na esquina com Djalma havia um açougue (Ambas as lojas eram neste predio que vemos à esquerda).
    Esta casa pelo que lembre sempre foi abandonada. Não me lembro de ver alguem nela. Na minha imaginação de criança era assombrada.
    Lembro da garagem que ela tinha. Ficava do lado direiro do terreno colada com o prédio onde a Aida Cury foi jogada.
    Da nova Texas me lembro pouco. Fechou e ficou vazia muito anos, quando virou uma loja da Vasp. Depois fechou e virou o Bob’s, que fez um puxadinho em cima do calçadão.
    Dos incêndios me lembro bem, mas curiosamente não me recordo em nada das obras da Help/Sobre as Ondas/Terraço Atlântico.
    Depois que Help se instalou ali e virou ponto internacional de prostituição, tudo que é ruim baixou na área. De um local tranquilo, virou uma balburdia. Após o fechamento melhorou. Em outubro, quando estive no Rio, as obras do MIS estavam a pleno vapor depois de um tempão paradas.
    E pensar que ficamos catando uma foto desta casa desde 2004, quando iniciamos os fotologs, o Foi um Rio que Passou e o Carioca da Gema, e nunca achamos. Anos depois veio a do AD e esta do Sr. Szendrodi.

  6. Uma pergunta ao Andre Decourt.
    Considerando que a casa foi objeto de processos judiciais, não haveria fotos dela nesses processos? Se houver, isso poderia ser copiado/publicado?

    1. Claro que sim Rafa, mas não duvido que os processos corram em segredo de justiça.. o mais interessante é que os nomes na pesquisa nominal do TJ, não mais funcionam como funcionavam antes. Possivelmente os processos depois da divulgação pelo ex-prefeito granharam status de segredo de justiça

  7. Ola estou precisando muitoooooooooo do contato do responsavel pelo site, estou interessada em comprar uma fotos sntigas do Rio para um video institucional vcs pode enntrar em contato comigo ainda hj????(21) 2535-3009 por favor me respondamm

  8. O comentário inicial está nota 10 e os comentários seguem na mesma trilha. Parabéns.
    A casa sempre pareceu mal assombrada.

    1. Rio de Janeiro e suas histórias maravilhosas saídas do túnel do tempo. Espero ver outras. Por ter sido capital do país devemos encontrar outras pérolas da nossa civilização e colonização. Parabéns ao autor deste evento.

  9. …Uau!
    Sobre AGORA que seria tal CASA DO VATICANO/pois ao passar em frente quando menor era uma mínima casa junto à DJALMA U.
    Até um dos pais me contava algo sobre tal.
    E como nasci em meados na década de 70, não tenha pego tal época da ‘edificação’: que mostrava ser bonita mesmo.
    Alias a cidade tem construções belas em vários bairros (Botafogo, Urca): pena que se vão.
    Onde resido (capital gaúcha) há algumas que sobraram. Onde até são REAPROVEITADAS (perto de onde moro há uma que servia como CRECHE. Depois delegacia que tratava de “Direito do Meio Ambiente”. E agora EMBAIXADA DO PARAGUAI).
    A AVENIDA ATLANTICA sempre me aguçou em muita coisa (havia no LEME um prédio que havia entortado com o tempo e parece ter ido abaixo. Ao lado de um CASARÃO AMARELO. Onde parecia ser HOTEL).
    Essas coisas ficam mesmo.

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