Rua Gal. Glicério, Janeiro de 1967

A foto de hoje, do arquivo do Globo, mostra a destruição causada pelo escorregamento de uma grande massa de terra, rochas e vegetação, que em duas etapas, arrancou das fundações 3 prédios de apartamentos nas Ruas Gal. Glicério e Belizário Távora no grande temporal de 1967.
O post de hoje é intimamante interligado ao que aconteceu não só na Ilha Grande, como em Angra, na Praça Seca, Quintino e até mesmo em Cunha- SP, o risco da ocupação perto de encostas, sem serem monitoradas, ou com invasões e modificações amadoras no relevo.
Não conheço a geologia de Cunha, mas conheço razoavelmente a da cidade do Rio que é , pelas fotos dos jornais, análoga a da Ilha Grande. Nosso relevo é constituído de grandes morros de gnaisse, cobertos por uma grossa capa de sedimentos, que com com o passar dos séculos vai se avolumando e retendo frondosa vegetação, o equilíbrio é precário, por mais que seja preservado esse sistema. Basta o enfraquecimento de uma pequena parte da adesão entre a capa e o leito rochoso para, principalmente no caso de muita chuva, para ela se soltar e levar também um longo trecho baixo.
É o que vemos na nossa imagem e nas de hoje nos jornais. Uma grande clareira composta de rocha nua e uma trilha de destruição que tudo leva, numa avalanche que vai ganhando mais força ajudada pela gravidade e a massa do deslizamento que cada vez fica mais pesada.
Em 1967, a grande cabeça d’água atingiu o Vale de Laranjeiras, como áreas vizinhas, tais como Silvestre, Catumbi, Rio Comprido, Santa Teresa em geral, Glória, Flamengo. Tendo havido repercussões também na área de Humaitá, Botafogo e parte de Copacabana.
Meu pai  estava acabando de erguer, para clientes, duas casas na Rua Itamonte, no alto Cosme Velho, área atingida por uma dessas torrentes de lama que veio do Silvestre. Uma das casas, térrea, de grande tamanho, foi varrida do mapa, só o piso e fundações sobraram. A outra só não teve destino igual porque duas grandes árvores que não haviam sido removidas do terreno tombaram formando uma barreira na torrente de lama, mas a casa foi muito avariada, perdendo quase todas as paredes de alvenaria simples do primeiro pavimento. A Rua Itamonte, desapareceu, ficando uma profunda cava, todos os parelepípedos, tubulações, postes, meio-fios e até mesmo muros de casas foram tragados e levados quilometros abaixo do vale. Meu pai conta que um dos carros estacionados na rua foi achado praticamente irreconhecível perto do Largo do Machado.
Ao mesmo tempo a primeira leva arrasava dois prédios de pequeno porte na Rua Belizário Távora, se encostando, os destroços misturados com muita terra e vegetação, em um prédio logo abaixo, na Rua Gal. Cristóvão Barcelos, quase esquina com a Gal. Glicério. Prédio este que resisitiu a pressão, sendo interditado pelo corpo de bombeiros.
Esse prédio tinha sido construído por um amigo de meu pai, que rompeu o cordão dos bombeiros, como engenheiro do EGB, para inspecionar o prédio e pegar documentos da irmã, que nele morava. Nesse momento a segunda leva escorregou do topo do morro levando a Rua Couto Ferndandes, o que sobrava da Belizário Távora e ganhando grande velocidade na rocha nua, atingindo os escombros abaixo e o prédio, que apesar de boa estrutura teve seus pilares arrancados da fundação sendo jogado no meio da rua e soterrado pelos destroços e lama. Meu pai perdeu o amigo…..
Esse site sempre foi contra a ocupação das encostas, principalmente pelas favelas que não respeitam as mínimas normas edilícias. E se, eventos dessa magnitude atingem áreas de mata nativa, e arrancam das fundações prédios de apartamentos com boas estruturas o que poderá acontecer em um episódio desses numa Rocinha? Além do problema geológico e urbanístico a Rocinha já possuiu uma densidade habitacional pelo menos 03 vezes maior que Copacabana, criada a muito Toddy por anos de populismo.
O Rio tem um histório de grandes temporais, que produzem grandes deslocamentos de terra nos morros, documentados desde as Aguas do Monte, no séc. XIX. A  última grande tragédia foi em 1967, 1988 e 1992 foram episódios medianos.
Enquanto isso nossos governantes se abrigam nos questionáveis guarda-chuvas de “entidades” manda-chuva, seguros de sua impunidade, que um dia cessará.