Novamente um fotógrafo da Life fotografa o coração da velha zona bancária do Rio de Janeiro, tal como foi feito em 1939, em foto já dissecada aqui, em Dezembro passado ( http://www.rioquepassou.com.br/2008/12/12/ ). Nos deslocamos da velha Rua da Alfândega para as igualmente primais Rua Direita e Ouvidor.
Estávamos em pleno Milagre e nunca havia se ganhado tanto nas bolsas, essa região do Centro fervilhava, fortunas eram criadas na especulação fácil. Carrões, motocas, rolex, cordões e pulseiras da Masson e da Natan, títulos de clubes, mulheres, algumas “fáceis” outras não, circulavam por essa região, que se agitava com essa prosperidade fugaz, embora os próximos anos mostrariam bem a realidade, sem os ufanismos nacionalistas do regime.
Temos uma cena tipicamente guanabarina, em primeiro plano o guarda com a última palavra em comunicação policial, um enorme walkie-talk, e seu boné branco, que entrega que sua atribuição era o transito, assiste impotente todo o tipo de transgressão. O transito completamente esculhambado, os carros engarrafados, com o sinal verde avançam pela faixa de pedestres, e os pedestres com o sinal fechado avançam sobre os carros.
Os dois senhores contrastam, em grande felicidade fotográfica. O de terno caqui, adequado ao calor que parecia fazer, avança com cara de irritação por entre os carros com um cigarro no canto da boca, já o outro mais franzino de terno escuro, prefere aguardar prudentemente, mas não tanto, na beira da pista, uma boa chance de atravesar, e certamente o fará com o sinal vermelho também.
Os sinais, já com a configuração de duas cores do DETRAN-GB ainda não possuiam nesse ponto as placas de fibra de vidro zebradas, mas tanto o arranjo como as cores em verde bem azulado e os repetidores de pedestres eram típicos dos primeiros anos da cidade-estado, onde os velhos equipamentos americanos foram sendo modernizados dentro do possível.
A Primeiro de Março já havia ganho a iluminação de mercúrio em postes curvos padrão 9 metros, sendo uma das pioneiras do Centro, a Rua do Ouvidor ainda estava iluminada por velhos lustres da Light, e vemos que as arcadas começavam a desaparecer junto aos prédios mais novos, substituídas por luminárias pendentes em cabos de aço. E assim ficou até o início dos anos 90.
A instituição financeira na esquina, nem precisa de letreiro, se valendo apenas da sua logomarca esculpida no mármore do vértice da esquina e em desenhos nos blindex, e ao lado mais um prédio sobe, substituindo os velhos sobrados, muitos com a estrutura básica do séc XVIII.