Bairro da Misericórdia III

Nessa semana foi noticiado nos jornais que finalmente o TJ-RJ ganhou a queda de braço que fazia com determinados setores da prefeitura e finalmente conseguirá construir mais prédios modernos no entorno da abandonada Praça dos Espedicionários, marco de onde ficava o “Castelo” do Morro do Descanso e nas margens do bairro mais antigo da cidade, hoje praticamente desaparecido.
Alguns frequentadores do site pediram que fosse dado um repeteco, já que estamos ainda nas reprises, sobre uma série feita em 2006 sobre o bairro, com mapas e fotos aéreas. Farei ainda melhor, além da série publicarei posts separados sobre a Misericórdia, nesses próximos dias, últimos antes de voltarmos a normalidade. Hoje teremos dois posts de Maio de 2006 que mostram o Largo da Misericórdia em dois períodos.

Vendedor ambulante de doces ou salgados, 1919
Nessa foto da fotógrafa Harriet Chalmers vemos um dos tipos comuns na cidade no final do sec XIX início do XX, o vendedor ambulante que carregava tabuleiro.
A forma do tabuleiro é muito curiosa, as pernas compridas permitiam que o ambulante o carregasse nos ombros tendo como apoio às mesmas, e essas quando o tabuleiro era colocado no chão deixavam as guloseimas bem a mostra do freguês que as podia escolher pelas vitrines.
Eram notadamente vendidos nesses tabuleiros doces e salgados simples, como empadas, quindins, cocadas, pastéis doces e salgados, bolos diversos…. tudo que tivesse fácil conservação e pudesse ser vendido em pequenas porções.
Esses vendedores eram figuras fáceis pela velha cidade, mas o nosso fotógrafo escolheu na época um dos melhores lugares para acha-los, um velho bairro ancestral da cidade, decadente e com uma enorme população carente, bem próximo dos melhores endereços “chic’s” da Belle Epoque.
Nosso vendedor, há mais um perto do menino à esquerda, está no bairro da Misericórdia, mais exatamente no largo formado pelo entroncamento de vias primordiais da cidade, a ladeira da Misericórdia e a rua do mesmo homônima, chamado de largo da Misericórdia.
A construção que vemos tenuamente por de trás é uma das fachadas do conjunto da Santa Casa, mais precisamente a empena que abriga a igrejinha de Nossa Senhora de Bonsucesso, a estátua ficava no centro do largo.
Infelizmente essa região foi muito modificada já 3 anos depois de tirada essa foto, com a expo de 1922, que construiu pavilhões em duas laterais do largo, além de retirar uma boa parte da arborização do largo, as reformas urbanas seguintes acabaram de modifica-lo de todo, como por exemplo à estátua que vemos atrás foi daí retirada em alguma época após os anos 20.
Agradeço ao amigo Flávio Sertâ de Mendonça, por ter me mostrado uma foto desse mesmo lugar, em outro angulo que acabou com a minha dúvida quanto à perfeita localização deste cenário, dúvida que durava mais de 2 anos.
Como curiosidades podemos notar, no tabuleiro a pinça para pegar os doces e a licença, afixada em lugar visível, obrigatórias após a regularização dos ambulantes feita por Passos, iguais as que as baianas que chegaram até aos anos 70 tinham junto aos seus tabuleiros. Encostado no poste à direita vemos o estojo da máquina do fotógrafo.
Foto: Harriet Chlamers

Hoje então posto uma nova foto do velho Largo da Misericórdia, um dos lugares mais antigos da cidade, e talvez hoje, com a destruição do Morro do Castelo é junto como o que sobra da ladeira homônima o espaço urbano mais velho da cidade.
Nessa foto de 1967, o largo é mostrado mais ou menos como está até hoje, mas há modificações, a sombra que vemos encobrindo os carros estacionados e o pedestre que esta em um local muito parecido como o vendedor fotografado em 1919 era a sombra do prédio do Ministério de Agricultura, que seria demolido menos de 10 anos depois de feita essa fotografia. Acompanhando o prédio da Santa Casa de Misericórdia, vemos junto a rua de Santa Luzia outra construção, mais uma que não chegou aos nossos dias, o prédio que vemos no fundo da foto era um pedaço remanescente do velho pavilhão de Festas da Expo de 1922, já bem modificado e que foi destruído por um incêndio no início dos anos 80, quando abrigava a Secretaria Municipal de Fazenda.
O nosso fotógrafo se encontrava nos restos da ladeira da Misericórdia, como podemos reparar as árvores presentes nas duas fotos mais antigas não existem mais, só há um pequeno jardim no centro do largo.

7 comentários em “Bairro da Misericórdia III”

  1. Sr. André,
    Harriet Chalmers Adams foi uma fotógrafa e não um fotógrafo.
    Segundo a Wikipédia nasceu em 22/10/1875 e faleceu em 17/7/1937, em Nice; além de fotógrafa,foi escritora e exploradora em várias partes do mundo.
    Na página da Wikipédia aparecem três fotos de autoria dela, dentre elas uma da Av. Rio Branco em 1919; esta da Rio Branco eu já havia visto na internet sem citação do nome dela (infelizmente uma prática muito comum em vários sites de fotos).
    Na realidade eu não a conhecia, mas o nome Harriet (feminino) me despertou a curiosidade; pesquisei e achei por bem esclarecer, antes que alguma das frequentadoras do seu site faça um protesto (seria justo, aliás).
    SDS,
    Vitor

  2. O largo hoje está bem mais arborizado em relação a 1967. Como aliás muitos outros lugares da cidade. Ma o lugar continua sendo usado como estacionamento.
    Aquela parte do MHN voltada para a travessa de Santa Luzia não é remanescente da Expo de 1922? Tem janelas e enfeites que não têm nada a ver com o restante da construção.
    Quanto à localização do vendedor em 1919, eu achava que já tinha sido identificada na época do post original.

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