Rua Gal San Martin 318, centro de espionagem nazista, 1942

Vamos então a resposta da pegadinha de hoje, que era relativamente fácil.

O amigo Victor acertou, mas alguns pontos da prisão do espião alemão foram deturpados pelo espírito galhofeiro carioca.

Josef Jacob Johannes Starziczny foi um brilhante aluno em duas escolas militares  da Kriesgmarine e por isso teve a nobre missão de ser mandado ao Brasil auxiliar o esforço de guerra nazista. Josef não queria ir, mas ordens eram ordens e ele chegou aqui no Rio sobre outro nome, Niels Christensen, e nacionalidade dinamarquesa, munido de equipamentos que lhe capacitariam montar instalações de rádio que transmitiriam comunicados secretos sobre a movimentação dos navios aliados no Brasil, em 1941 no navio Hermes.

Tudo começou bem para o alemão, contatou e arrebanhou por volta de 40 agentes para a missão, mas o encontro com outro coração abandonado, a gaúcha Ondina, solteirona de 37 anos, deve ter deixado o alemão descuidado. Primeiro levava a namorada, com quem dividia o teto, em reuniões com os outros espiões nazistas. E ela sendo anti-nazista por várias vezes meteu o pau no ditador alemão, o que deve ter criado alguns embaraços para Victor, mas talvez seu pior erro foi ter saído da proteção de Fillinto Miller e ter ido comprar um equipamento fundamental para a montagem de uma estação de rádio em São Paulo, para o cônsul alemão em Santos, este, outro espião de peso da Kriegsmarine.

Falando muito mal português, e comprando um equipamento suspeito, chamou a atenção do vendedor do equipamento que chamou a polícia paulista. Que montando uma investigação ao longo de 3 meses chegou primeiro ao cônsul de Santos e por pura perspicácia ao nosso espião.

Armada a cilada, pela polícia paulista fique-se claro, Josef foi preso na sua residência, na antiga Rua Campos de Carvalho 318, no Leblon. Na casa além de presos Josef e Ondina que alegava ser a governanta, foram apreendidos além dos equipamentos de rádio, códigos, tintas invisíveis, lunetas, binóculos, máquinas fotográficas com objetivas, mapas, relatórios do porto e o principal o código secreto da Kriesgmarine.

Aparentemente Josef usava o segundo andar da casa, , localizada a apenas um quarteirão da praia num Leblon ainda pouco ocupado de ponto de observação dos navios que saiam da barra rumo ao sul, além de irradiar para a Alemanha as rotas dos navios aliados que partiam do porto, através de cópias dos relatórios dos cursos dos navios, obtidos de forma ilegal.

Muitos cronistas falam que a ação do polícia paulista salvou o transatlântico Queen Mary de ser torpedeado na costa brasileira rumo a Buenos Aires, última escala até a Austrália, cheio de soldados ingleses.  A veracidade dessa especulação talvez possa ser confirmada pela caixa de charutos ganha pelo delegado Elpídio Reali do comandante do Queen Mary  e da carta de agradecimentos do diretor do FBI, Edgar Hoover.

No governo Dutra (outro defensor do Nazismo na época do estado Novo) Josef foi solto sob a alegação que sua confissão tinha sido obtida sob tortura e desapareceu pelas brumas da história, possivelmente com sua Ondina, que o visitava sempre na cadeia.

13 comentários em “Rua Gal San Martin 318, centro de espionagem nazista, 1942”

  1. Em complemento ao comentário, se não me falha a memória, esta casa se situava na rua Campos de Carvalho, atual General San Martin, perto da rua Almirante Guilhen. O espião, de codinome Lucas, foi preso em março de 1942 quando ia dar um mergulho na praia. Pelos seus hábitos podemos deduzir que já estava bem adaptado aos trópicos, inclusive arrumando uma morena.
    A antena de rádio, usada para a transmissão de informações, é mostrada na foto por uma seta.
    É a desmoralização do Serviço Secreto Alemão. No Brasil tudo acaba em samba.

  2. A foto do tal antiquario que falei era no 646 da Gal. San Martin. A casa era parecida com esta da imagem aí de cima. Mas a entrada da garagem era do lado esquerdo. Não me lembrava deste detalhe qunado escrevi mais cedo.
    A propósito, nem sei se essa tal casa ainda existe.
    😉

  3. Amigo André,
    Gostaria de acrescentar alguns detalhes à interessantíssima história que você nos contou e que provavelmente você sabe.
    Primeiramente, eu sou nascido e criado nesta cidade de São Sebastião, mas o Lucas foi preso quando se preparava para ir à praia, curtir um sol e a morena a qual me referi era a Ondina (cujo nome não lembrava e nem sei se era morena). Isso apesar de ter recebido ordens de não manter relações amorosas nos trópicos e se manter discreto, como todo agente do Abwehr deve ser.
    Outro detalhe diz respeito ao delegado Elpídio Reali. Ele é pai do grande jornalista Reali Júnior, correspondente em Paris, há décadas, de vários órgãos de impressa brasileira e, principalmente, avô da linda, estonteante, maravilhosa, indescritível atriz Cristiane Reali. O delegado, como se vê, era um homem iluminado.
    Como você vê, trazer o Abwehr para o Brasil não deu certo, como aliás não deu certo com a Máfia nos anos 70 e com a KGB nos anos 60. Mas isso é outra história.

    1. Essas coisas organizadas nunca funcionam muito bem por aqui…
      A Ondina era morena sim, tinha 37 anos, na época solteirona, e tinha sido abandonada anos antes por um noivo. Josef e Ondina se conheceram logo que ele chegou por aqui, quando nem pouso definitivo tinha e estava hospedado num hotel da Rua Barão do Flamengo, que poderia ser o Central.

      1. André,
        Outro fato curioso em relação ao Leblon é que havia outros endereços no bairro que se tornaram residências de outros espiões. Passei a minha infância e parte da adolescência vizinho a um dos endereços e conhecia a figura. Isso foi nos anos 60 e na época nem desconfiava que falava com uma figura histórica. Faleceu há uns 25 anos.
        Já nos anos 80 e 90 conheci outro espião, este já bem velho, já sabendo de seu passado pouco abonador. Nunca toquei no assunto por uma questão de discreção, mas sempre fui louco para que ele tocasse no assunto. Já velho, perto da morte, ele deveria contar os detalhes que sempre escondeu. Acho que ele deveria ter consciência de sua importância histórica, mas deve ter tido vergonha em assumir, já que era brasileiro.
        Faleceu há 1 ano, mais ou menos.

    2. Somos o país da esculhambação. Nem espião nazista se cria por aqui. Imagine montar uma célula terrorista ? Vai virar o cafofo do Osama….

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