Favelas do Leblon, anos 30

 
Nesse fragmento de uma panorâmica de foto pertencente ao acervo de Benjamim Aguiar de Medeiros vemos, um pedaço do Leblon, em 1936.
Em meio a um bairro praticamente vazio se destacam as duas enormes favelas, surgidas em menos de 7 anos, pois em fotos de 1929 nenhuma das duas aparecem, estando seus terrenos vazios.
Na esquerda da imagem podemos identificar claramente dois marcos geográficos, um pedaço da pista do Jockey na extrema esquerda superior e acompanhado a parte esquerda inferior temos o canal da Av. Visconde de Albuquerque.
No meio desses dois marcos podemos ver o Largo da Memória, largo criado no leito da velha Rua do Sapé, um dos primitivos acessos a Praia da Gávea, hoje Leblon.  Margeando o largo e indo em direção ao canal vemos o amontoado de barracos, que galgavam a pequena elevação que existe no local, era a Favela da Memória, que existia nos terrenos onde hoje está o 23º  BPM.
Junto às margens da lagoa, à direita do campo do Flamengo podemos ver a maior favela que o Leblon já teve, a praia do Pinto, ainda sem os aterros posteriores, que provocaram a invasão e favelização das duas finas ilhas localizadas mais à frente a do Guarda e a das Dragas. A Ilha do Guarda é hoje onde está o litoral da Lagoa neste trecho, mais à direita temos a Ilha Caiçaras ainda pequenina sem os posteriores aterros, e o bico do arrocamento da Av. Epitácio Pessoa.
Margeando os barracos da Praia do Pinto vemos também o primitivo traçado da Av. Afrânio de Melo Franco, que se juntava com a hoje desaparecida Av. Rodrigo de Freitas, que tem um pequeno trecho hoje ainda presente na Rua Adalberto de Campos.
A foto também nos mostra com destaque, bem no extremo direito da imagem o gasômetro do Leblon, hoje desativado, no quarteirão entre as Av. Ataulfo de Paiva e Afrânio de melo Franco e as Ruas Alm. Guilhem e Humberto de Campos. Por causa dos bondes as ruas mais marcadas no tecido urbano são a Av. Ataulfo de Paiva e a Rua Dias ferreira, antiga Rua do Pau, continuação da Rua do Sapé e a primitiva via de acesso ao bairro.
A Favela da memória foi removida na época do primeiro governo Vargas, pondo por terra a idéia que quem só removia favelas era Lacerda, o governo Vargas removeu várias favelas, criando inúmeros parques proletários pela cidade, que hoje se misturam aos bairros. Mas no Leblon a situação ficou complicada, pois os favelados não só da Memória como a da Praia do Pinto deveriam ir para o Parque Proletário da Gávea, para isso eles foram alojados em barracões, junto ao canteiro de obras o Parque proletário e em outros na Praia do Pinto. Curiosamente os do Parque Proletário assim ficaram até os anos 60 quando as famílias se mudaram para a única parte que foi concluída, o Minhocão da Gávea. Já os barracões erguidos na Praia do Pinto em poucos anos se mesclaram na favela, praticamente não podendo ser mais identificados em imagens dos anos 60, quando a favela atingiu seu auge de tamanho, sendo uma das maiores da Zona Sul, e removida no governo Negrão de Lima.
É interessante nessa imagem a velocidade do crescimento da ocupação irregular em comparação com a cidade formal que surgia no Bairro do Leblon.

16 comentários em “Favelas do Leblon, anos 30”

  1. Ainda bem que algum político teve coragem de remover as favelas dessa área. Como estaríamos com elas ainda lá? Lamentavelmente, hoje em dia, ninguém mais quer se meter com este tipo de problema.

  2. André, não se esqueça que estou com aquela coleção de mapas do Rio que consegui de um amigo, que as recebeu de um corretor velhissimo de guerra, quando este se aposentou na década 70. O mapa do Leblon tem todas essas ruas e favelas marcadas, além dos lotes vagos para venda. É do cacete !
    Tirei algumas fotos, mas ficaram estranhas. Vamos marcar para você dar uma olhada.
    A foto é sensacional. O cara estava em cima dos Dois Irmãos ?
    O caminho do Sapê seguia pela Dias Ferreira, certo ?

    1. O caminho do Sapê na realidade se mistura com a Bartolomeu Mitre dos dias de hoje, a Rua do Pau que são a Dias Ferreira de Hoje e a Conde de Bernadote. Curiosamente no passado a Rua do Sapê se chamou durante um tempo Dias Ferreira nos trechos perto do Largo da Memória e Largo das 3 Vendas.
      Quero ver esses mapas, é só combinar !!!

  3. Esses mapas do JBAN são sensacionais. Já tive ocasião de vê-los e são uma preciosidade.
    O campo de Flamengo foi inaugurado, salvo engano, em 1938 e nessa foto aparece quase tudo pronto.
    A tal língua de aterro que aparece nessa foto corrobora a impressão dos que me corrigiram há dias quando datei como sendo da década de 50 uma foto em que ela aparece quase igual a aí em cima.

  4. André, gostaria de lhe sugerir o livro recém lançado pelo Arquivo Nacional “Grandjean de Montigny: da arquitetura revolucionária à civilização nos trópicos”, de Angela Telles, sobre o arquiteto francês. Inclui projetos urbanísticos feitos para o Rio e não realizados. A publicação foi uma das vencedoras do Prêmio Dom João VI de Pesquisa.

  5. E a favela do Leme não para de crescer, dentro de pouco tempo se transformará numa Rocinha/Vidigal. Tudo isso como apoio do poder público que não move uma palha e ainda fornece luz aos invasores, no maior lançamento imobiliário da ZS.
    O sonho de viver na zona sul está cada vez mais cerceado. Essa é a democracia social.

  6. Parece haver um engano no texto. A rua Adalberto de Campos não seria Humberto de Campos ou Adalberto Ferreira?

  7. Caro André,
    fazendo pesquisa na rede sobre história do leblon, me deparei com o seu blog, muito bem realizado por sinal, gostaria de entrar em contato com o JBAN, preciso ter acesso aos mapar que ele disse possuir, como posso entrar em contato com vc caso possa me ajudar a achar o JBAN.
    Grato desde já
    Eduardo Abreu
    [email protected]

  8. Fala-se de remoção, expulsão e eliminação de favelas de uma maneira arrogante, indiferente e excludente, como se fossem os autores o supra sumo da humanidade. Querem resolver o problema deles, qual seja, afastar do seu campo visual a imagem dos pobres e da pobreza, isolar e abandonar aquela gente sofrida que carregou, no lombo, a construção desse país.
    Ah, ia me esquecendo, o próprio site, apesar do esmero e utilidade, poderia se chamar perfeitamente http://www.zonasulquepassou.com.br, que ia passar despercebido.

  9. tenho um imóvel na Rua João Lira 32 desde 1954(1ª locação) e gostaria de saber se antes de ser edifício de apartamentos ele tinha outra destinação. Na Escritura só consta como proprietária anterior à Sra Angela Gebara e não há qualquer menção a que funcionasse algo anteriormente no local. É para esclarecer uma controvérsia de que no local funcionava um hospital, coisa sobre a qual nunca ouvi falar. Sei de uma Mayernidade que existia no Leblon(onde meu cunhado nasceu) mas que era na Gal Artigas. Agradeço se puderem me esclarecer este fato. Celia Maciel

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