Rua Uruguaiana, Casa das Fazendas Pretas, 05/09/1905

andredecourt's Foto von 13.06.07

Rua Uruguaiana

Nossa foto de hoje mostra a Rua Uruguaiana em plena obra de alargamento e reurbanização implementada na Administração Passos, mais precisamente no dia 5/9/1905.
Mais uma vez chamo atenção para a estreita largura da velha rua, que pode ser comprovada olhando os restos de uma fachada que ainda permanece de pé na base da foto. Regredindo nos séculos, a idéia que podemos ter é que a Uruguaiana colonial foi construída diretamente por cima da vala. E imaginamos o inicio de ocupação da rua, ainda com a água pútrida vindo do Largo da Carioca e depois com os lagedos de cantaria colocados por cima para melhora o transito do local, embora nos fale Vivaldo Coaracy que o forte cheiro de podre ainda minava pelas gretas.
Na foto dois estabelecimentos comerciais se destacam. Primeiramente a Casa das Fazendas Pretas, que esperava as obras da Av. Central terminar para ocupar sua nova sede, onde ganhou nome e importância.
Nesse anúncio de 1910 podemos ter uma idéia do ramo de seus negócios:
“Casa das Fazendas Pretas
Avenida Central 141/143
Lutos em 12 horas

Devido a uma organização especial e única no gênero, essa casa pode aprontar um luto, por mais importante que seja em condições irrepreensíveis e vantajosas no curto espaço de 12 horas.
Pedimos endereçar pedidos diretamente a nossa casa ou telefonar ao número 191, que prontamente serão atendidos por pessoal habilitado.”

Além do tingimento das roupas do enlutado, para o preto, esse famoso estabelecimento do início do século XX ainda vendia enxovais completos de luto, algo surpreendente para os dias de hoje.
A casa comercial seguinte era a “Casa Onça” de sapatos e calçados, que ficava no número 66, não sei se o estabelecimento ainda está lá, mas ele sobreviveu a várias mudanças de tempo e urbanas, como a obra do Metrô e os camelôs dos anos 80, talvez por ter sido sempre uma loja popular com destaque aos preços baixos.
O amigo Derani publicou uma interessante foto do interior da Casa Onça em seu flog, que pode ser vista aqui: http://fotolog.terra.com.br/nder:203
Foto de Malta

Comments (14)

Luiz 13.06.07 11:01 …
Outros tempos, havia respeito pelo morto, hoje o povo vai até de bermuda no enterro, desrespeito, põem uma calça ou então não vá.
Luiz D’ 13.06.07 11:08 …
Praticamente desapareceu aquela tarja preta na lapela.
Mas, enfim, os tempos são mesmo outros. Já nem se pode velar os mortos nas capelas, à noite…
http://fotolog.terra.com.br/luizd
Derani 13.06.07 11:37 …
Postei um close da Casa Onça e seu interior em:
http://fotolog.terra.com.br/nder:202
http://fotolog.terra.com.br/nder:202
angemon 13.06.07 11:37 …
belo registro, amigo…usos iimpensáveis nos dias de hoje…o negociante era extremamente profissional…que idéia fantástica, não?
PS: perguntinha que não quer calar…onde moravam Pereira Passos e Frontin, nas Laranjeiras?
valeuuuuuu
tumminelli 13.06.07 11:39 …
Essa foto eu já vi, ou alguém postou ou tenho ela aqui… sei lá. Acho que foi postada pq vc falou dessa loja, me lembro.
:-)))
js 13.06.07 11:54 …
Mais uma foto sensacional,verdadeiro registro histórico do que foi a Rua Uruguaiana. Vale lembrar que na época da vala,aí era a zona de baixo meretrício, com cabarés,boates,madames com impecáveis apresentações à francesa.
Lefla 13.06.07 15:07 …
Minha avó dizia que passara a maior parte de sua vida de preto ou cinza. A regra geral era “botar luto”. Viúvos usavam luto fechado até o fim de seus dias, caso não se casassem novamente. Tinha o luto fechado, vestido preto, mangas compridas, sem enfeites, sem decotes. Sapatos pretos, meias pretas. O viúvo usava terno preto, camisa branca ou branca com riscas pretas, meias pretas, sapato preto, gravata preta. Luto fechado sem ser pesado admitia roupas mais leves.
Já o luto aliviado admitia enfeites para as mulheres. Gozado é que luto de viúvos durava a vida toda. Pais, um ano fechado. Irmãos seis meses fechados e seis meses aliviado. Tios/sobrinhoos, três meses de cada tipo. Outros parentes e próximos, três meses aliviado. Afastados, um fumo no braço e outro no chapéu para os homens, enfeites negros para as mulheres.
Viúva que tirasse o luto antes do tempo ganhava má reputação, era “viúva alegre”. No mínimo 3 anos. Viúvos não podiam ir a festas e se fossem tinham que ficar quietos e sair cedo.
Para a alma do falecido não penar, de noite todos tiravam o luto. Vestiam roupas claras, de preferência brancas, caso ficassem em casa. Todos se referiam a quem havia morrido como o “finado fulano”. Para o luto só se escrevia em papel e envelopes com sinais pretos.
Nelson Rodrigues tinha fascínio pelo luto. Era um romântico.
Lefla 13.06.07 15:10 …
Esqueci: o luto era chamado de nojo”. Tem uma gravura famosa de Dom Pedro II com suas irmãs vestindo “nojo” por Dom Pedro I…
babilonia_viva 13.06.07 16:16 …
maneirissimo….
Marcelo Almirante 13.06.07 17:08 …
Belo registro, e ainda com nitidez.
Cristina 13.06.07 17:10 …
Interessante os códigos de luto descritos por Lefla. Cada época com seus ritos sociais.
Pelo menos para o funcionalismo público, não sei se a CLT também usa o termo,o período de luto do funcionário ainda é chamado “nojo”.
js 13.06.07 18:29 …
Realmente, época de outros valores,o enterro era funestro… aquele “cocho” (Carro normalmente preto com ornamentos dourados e vários penachos de cor roxa em cima).A ida para o enterro era chamado de cortejo.A tristesa parecia não ter limites.
Rafael Netto 13.06.07 18:55 …
Tenho a impressão que esse conjunto de sobrados onde ficava a Fazendas Pretas é aquele que foi demolido e reconstruído há uns 10 anos, no post 97 do meu fotolog:
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto:97
Apesar da numeração não bater, a casa vizinha ao novo sobrado se parece muito com essa que está do lado da Fazendas Pretas. O estilo do novo prédio também parece ser muito semelhante ao original, mas falta o frontão.
Adriano Gomes 14.06.07 15:12 …
Alguém sabe se essa “Casa das Fazendas Pretas” passou a se chamar “Ao Luto Elegante” ou eram estabelecimentos concorrentes?

Um comentário em “Rua Uruguaiana, Casa das Fazendas Pretas, 05/09/1905”

  1. O meu avô materno, Antônio Baptista Ferreira Alves foi contador (na época, chamado de guarda-livros) da “Casa das Fazendas Pretas” como diziam minha mãe e minha avó.
    Portanto,foi para mim motivo de grande satisfação, encontrar referências ao citado estabelecimento comercia que, na época, gozava de grande prestígio, na sociedade carioca.

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