Arco do Telles, anos 50

andredecourt's photo from 12/14/06

Arco do Telles, possivelmente nos anos 50.

O pitoresco Arco do Telles remonta a cidade colonial, ponto de passagem da Praça XV para a Travessa do Comércio assim ganhou o nome por passar através das construções da família Telles de Menezes, família ilustre que por séculos teve a concessão dos cartórios orfanológicos em nossa cidade e que também abrigou em seus ramos o Barão da Taquara, aliás a família era dona de quase a totalidade do Bairro de Jacarepaguá como conhecemos hoje nos sécs. XVIII e início do XIX. E que tinham com seus sobradões a propriedade de todo um lado do Largo do Paço
Foi nesse conjunto de sobrados que se deu início a uma das maiores confusões fundiárias da cidade dos dias atuais, a quem pertence de fato da Barra da Tijuca. No século XVIII, o arquivo da cidade ficava em parte do conjunto de prédios do arco, e apesar da importância do que se guardava em cima. As lojas no seu térreo eram ocupadas por estabelecimentos que honravam a tradição do lugar, ou seja, ligadas ao Mercado da Praia do Peixe, logo à frente. Pois numa dessas lojas, que vendia ervas e demais produtos do gênero um incêndio começou, se alastrando destruindo todos os documentos fundiários da cidade. Rapidamente os maços que continham registros das partes importantes da cidade foram restaurados, mesmo a de arrabaldes, desde que fossem produtivos. Mas aquela restinga, que para nada servia, como também uma parte de Copacabana foram esquecidos por absoluta falta de interessados para “tocar”o processo de restauração. Originando-se assim as confusões que vimos primeiro na região do Lido, que se arrastou por mais de 50 anos e a da Barra que até agora não possui um final juridicamente seguro.
No final do séc. XIX a região era decadente, passar através do arco, sempre ocupado por desocupados, que segundo Vivaldo Coaracy deixavam no local uma constante catinga, que piorava nos dias de chuva, era a garantia de ser molestado no mínimo, mas os assaltos com armas brancas e porradas na cabeça eram comuns.
Mais uma vez, tivemos aí a ação de Passos, que expulsou os vagabundos, pintou e iluminou o local com luz elétrica, deixando a passagem novamente transitável.
Nessa foto vemos que o local apesar de satisfatoriamente limpo e desobstruído estava decadente, certamente o tombamento ainda não existia, metade do sobrado acima do arco ganhou estilo eclético, e o outro ainda se mantinha totalmente colonial, inclusive nas arcadas na loja térrea.
Nos anos 60 a construção de um prédio usando o terreno do arco causou polêmica, mas o resultado final o qual vimos hoje, não é dos piores com a vantagem do Arco do Telles ter chegado aos nossos dias sempre bem tratado, pois a portaria deste prédio usa a centenária passagem como porta de acesso

Comments (15)

natureco 12/14/06 7:24 AM …
Se você pudesse fazer um livro com tudo que já postou eu certamente seria o primeiro comprador!!
derani 12/14/06 8:10 AM …
Foto inédita para mim!
E sensacional, mostra o Arco em detalhes e numa época em que não era muito retratado.
Esse mesmo livro do Coaracy conta também que um dos governadores-gerais, tentando acabar com a vagabundagem e outras atividades não muito “católicas” que existiam sob o Arco, mandou colocar lá um nicho com uma santa para ver se intimidava os frequentadores, pois naquela época muito se respeitavam tais imagens.
Consta que a imagem ficou rubra de vergonha…
edubt 12/14/06 8:10 AM …
O hábito de fazer xixi nas ruas, jogar lixo no chão e outras atitudes tá no DNA do brasileiro, não adianta.
Vendo revistas antigas a reclamações eram as mesmas, lixo, imundicie por todos os lados, etc. Esse papo que era mais limpa a cidade, mais humana, melhor, pode até ser em determinados aspectos, porém a violência já existia, falta d’água era uma constante, falta de enrgia, roubalheira da classe politica.
Sei lá, pelo visto não mudou muita coisa, só o modus operandi, que consequentemente aumenta as coisas ruins.
Luiz D’ 12/14/06 8:19 AM …
Excelente foto.
Gostei do “cartórios orfanológicos”!
Concordo com você sobre o estado atual do Arco.
E sobre o Lido, consta que um certo Conde Bertoni estava por trás desta história de posse de terra em Copacabana.
edubt 12/14/06 8:54 AM …
Ah!!! Gostei mesmo do Citroën ali!!!
:-))))
Antolog 12/14/06 9:39 AM …
Hoje, na entrada, é um reduto de baile FUNK!!!
photomechanica 12/14/06 9:52 AM …
Vou passar neste lugar daqui a pouco.
“cartórios orfanológicos”! Isto é o máximo!!!
Era um cartório para orfãos?
:-)))
jban 12/14/06 10:03 AM …
Mais um termo cunhado pelo nosso causídico do Bairro Peixoto.
belo Citroën
Waldenir 12/14/06 10:09 AM …
Boa tarde,André.
O arco ficaria,então,exatamente na divisa de propriedade do prédio acima,e o lado eclético (de feição bastante neoclássica,diga-se de passagem)está à direita da foto.
Quanto ao incêndio,já vi pinturas mostrando o fato.Certamente,foi muito relevante,devido aos documentos perdidos.Uma vez,eu li que os registros da origem de várias famílias cariocas se perderam naquele dia.Isto é correto?
andredecourt 12/14/06 10:11 AM …
Cartórios orfanológicos são as atuais varas de órfãos e sucessões, ainda chamadas pelo costume judicial pelo velho nome, não inventei nada, só dei ao costume a sua origem
andredecourt 12/14/06 10:13 AM …
Waldenir, a propriedade de todo o conjunto era de uma família originalmente, com o tempo certamente o prédio deve ter sido dividido e a divisão nesse ponto calhou de ter ficado na metade do arco, talvez por isso dele ter sido salvo das demolições que fizeram desaparecer o resto do conjunto que ia da Rua Direita à do Mercado
glenlivet 12/14/06 11:26 AM …
Eu também compraria o livro de Decourt.
Rafael Netto 12/14/06 7:50 PM …
A construção que existe lá hoje é extremamente curiosa. Trata-se do tal prédio dos anos 60 que o Decourt falou, mas nos dois primeiros andares, tem feição colonial, sendo a fachada moderna do edifício relativamente recuada.
Gostaria de saber se a estrutura dos sobrados coloniais foi preservada e restaurada (como o Arco) ou se toda a construção é moderna, apenas foi feita reproduzindo a aparência original (como aqueles sobrados da Uruguaiana/Gonçalves Dias).
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Evelyn 12/15/06 12:37 PM …
Rafael
Em visita guiada por arquiteto do I.A.B.há alguns anos, foi dito que vários sobrados ali apenas as fachadas foram preservadas,para compor o casario.

Um comentário em “Arco do Telles, anos 50”

  1. Foto muito linda, e relatos perfeitos.
    Melhor de tudo foi saber que “meus antepassados Teles de Menezes” tinham um tremendo bom gosto!
    Afinal de contas sou, Adelson Roberto DE MENEZES, né!!!

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