Estrada do Galeão, obras de abertura, 1948

andredecourt's Foto von 16.02.06

Estrada Ribeira/Galeão

Mais conhecida hoje como estrada do Galeão
Com o aumento das atividades aeronáuticas na base aérea do Galeão, e a emintente inadequação das pistas do SDU para os novos aviões comerciais que despontavam no pós-guerra, começou-se a pensar em uma nova ligação tanto do aeroporto como da própria Ilha.
Nessa época a Ilha do Governador era ainda um paraíso incrustado numa suficientemente limpa baia da Guanabara, o único acesso era através das barcas, partindo da praça XV e indo até a praia da Ribeira, bairro chique da ilha com ótimas casas de veraneio, de lá pegava-se um bonde que tinha seu ramal até o bairro da Freguesia.
As praias segundo meu pai fala em sua juventude eram paradisíacas, a hoje destruída praia das Rosas era um paraíso onde se pescava siris com gravetos e a agua era absolutamente transparente, nessa época o Jardin Guanabara era um grande pântano arenoso e a ilha dividida por um muro de mar a mar indo da praia de Flexeiras até a de São Bento. Onde é hoje o Iate Clube Jardim Guanabara era um trapiche militar, onde o cimento para a construção da base aérea era desembarcado e armazenado.
Mas em 1948 tudo começou a mudar, o velho caminho do Galeão começou a ser retificado, desde a Ribeira até a base aérea e a ponte começou a ser construída, lidando a Ilha ao continente na altura de Ramos, conectando-a as avenidas de ligação dos subúrbios e estradas, que eram as Avenidas Brasil e das Bandeiras.
Em 1950 essas duas obras já estavam prontas e a ilha entrou num processo inexorável de destruição, estaleiros foram colocados na praia das Rosas, a ponta da Ribeira com sua praia ao lado de um enorme manguezal foi escolhida para um grande depósito e entreposto de lubrificantes da Shell,. E em volta da Ilha a situação também foi se agravando, esgotos, despejos industriais, ocupação desordenada da baixada fluminense, aterros etc….
Hoje a Ilha é só um bairro da zona da Leopoldina, todos seus atrativos e suas belas praias ficaram na memória dos que nos anos 40 podiam se lembrar de sua beleza.
Na foto um trecho da estrada do Galeão sendo asfaltada passando pelo deserto Jardim Guanabara em 1948.

Comments (22)

jaymelac 16.02.06 08:24 …
André, se você pesquisar, ainda existem na ilha alguns recantos interessantes, com boas casas, ruas arborizadas, e vida aparentemente provinciana. É importante que não olhe para os lados e siga o roteiro estabelecido por um bom guia local.
Praias, realmente nem pensar. Além do lixo e do esgoto, o mar tem placas de óleo. Tudo muito diferente do que encontrava por lá na minha tenra infância, quando meu pai nos levava “à praia na Ilha”. A ponte já existia…
Acho que é de sua autoria uma das cartas, no Globo de hoje, sobre o famigerado show em Copacabana. Se for verdade faço minhas as suas palavras.
Abraços!
luiz_d 16.02.06 08:34 …
Bom resgate de uma área que pouco vemos nos fotologs.
http://fotolog.terra.com.br/luizd
henrii 16.02.06 08:35 …
morador deste bairro , achei ótimo o post de hoje , parabens !!!
jban 16.02.06 09:07 …
Suburbio: Do Paraíso ao Inferno em 60 Anos!
produto 16.02.06 09:10 …
é..
é a velha “destruição em nome do progresso”
Rafael Netto 16.02.06 09:10 …
Loucura total!!!!
Como sempre faço, fiquei olhando a foto antes de ler a descrição, especulando onde seria. Imaginei que poderia ser a Av. Brasil nos primórdios, ou a Av. de Santa Cruz, ou mesmo a N.S. de Copacabana em 1900 (à direita, o morro do Inhangá…) mas não pensei na Ilha!!!
Eu nunca tinha parado pra pensar que hoje em dia se entra na Ilha “pelos fundos”. Esse muro de mar a mar ficava onde? Eu não conheço as praias mencionadas no texto… Seria por acaso a divisão entre a área da Aeronáutica e o restante da ilha? No vetusto Guia Rex havia uma linha pontilhada neste local.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
andredecourt 16.02.06 09:18 …
Exato Rafael o muro separava a área militar da civil da Ilha, como não tenho esse guia Rex fica difícil confirmar se a linha corresponde ao muro, mas é bem possível
edubt 16.02.06 09:22 …
realmente na Ilha tem uns lugares e casas interessantes, como Jaymelac falou.
Quer se perder, tente dirigir na Ilha. Pra quem não conhece é um labirinto digno dos jardins dos casarões ingleses.
:-))
jaymelac 16.02.06 09:43 …
Realmente a Ilha é um perfeito labirinto. Já me enrolei horas tentando sair de lá, de dia, durante a semana, mesmo pedindo informações…
antolog 16.02.06 09:51 …
Que a Ilha é um labirinto é verdade, mas não acho que se perca nela, pois todos os caminhos acabam te levando para a Estrada do Galeão. É só rodar um pouco… o problema é que se tornou um local perigoso, como quase todo o Rio.
Rafael Netto 16.02.06 10:19 …
O mapa da Ilha do Governador parece um prato de espaguete. Não existe nenhuma rua reta por lá!!!
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Sergio Luis dos Santos 16.02.06 10:44 …
Cada vêz mais assustador ter a certeza que a cultura humana prioriza o destruir… sem volta.
k1r3n1 16.02.06 11:25 …
te tengo como f/f en mi flog
gracias por enseñar cultura!!!
karina
/ravin 16.02.06 12:17 …
acabei de me mudar deste bairro após relutar durante alguns anos. não cheguei a pegar os bons tempos mas minha familia se instalou no Bananal vindo da Penha em 1954 sendo uma das primeiras a fixar residência e não mais veraneio.
A orla desde a Ribeira até o Bananal tendo um percurso de quase 5km, lembra muito a Urca, tendo predominantemente casas e as belas árvores na beira do cais. Ainda hoje pode-se ver os trilhos dos bondes no mesmo trajeto nas partes mais esburacadas do asfalto.
É uma pena mesmo tudo estar do jeito que está.
pikyto 16.02.06 12:56 …
A imagem de infância que guardo da Ilha é de uma espécie de base militar, com muito poucas casas e águas aceitáveis (anos 50). Há alguns anos atrás, estive lá para consertar um monitor (mora lá um dos melhores técnicos que conheço) e na volta, peguei um atalho equivocado e me perdi. Quando vi, estava no meio de uma grande favela que nem sabia que existia. Passei o maior sufôco prá sair dali.
Mandaste muito bem no Globo de hoje. É isso aí!
Abs.
AG 16.02.06 13:16 …
Graaaaande André,
pegou na veia a tua carta aos leitores. É isso mesmo. Muito bom, cara.
Quanto a degradação da Ilha do Governador é aquela coisa que já foi dito e redito aqui nos nossos flogs do coração; houve muito pouco amor por esta cidade. Estou falando da parte dos governantes, da elite, dos empresários que deviam ter colocado o bem, o direito, a verdade acima de suas ambições mesquinhas.
Agora só nos resta olhar chorar. Progresso: teu nome é desperdício, lixo e cupidez.
AG 16.02.06 13:17 …
Ops, “carta dos leitores”;
o AG errou.
Rafael Netto 16.02.06 14:49 …
Seguindo um link no flog da Milúdica acabei de descobrir um novo fotolog de antigas imagens do Rio:
http://fotolog.terra.com.br/nder
O autor assina apenas “derani” e não preencheu o perfil. E infelizmente os comentários são fechados. Mesmo assim vale a visita, a maior parte das imagens é muito boa e inédita nos fotologs.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Marcos Souza Costa 17.02.06 05:24 …
Em 1941, a Companhia Imobiliária Santa Cruz já anunciava os lotes de terrenos no Jardim Guanabara. Uma visita ao escritório da imobiliária, no Edifício Martinelli (Av Rio Branco 108), oferecia aos interessados um pedaço do paraíso:
“Jardim Guanabara, localizado como está, a 40 minutos do centro enervante desta grande metrópole, oferece a todos quantos almejam viver no campo e na cidade essa ventura! Os seus terrenos maravilhosos, bem feitos, salubres, ao lado de exuberante vegetação, ao pé de ótimas praias de banho, estão ao alcance de todo aquele que aspira uma vida melhor, mais tranquila e feliz!
Visite-o, pois, no domingo próximo. E para esse passeio cheio de encanto, alegre, contemplando toda a beleza sem par da maravilhosa bahia (sic) de Guanabara, não deixe de levar sua família.
Ficará conhecendo o Jardim Guanabara, onde estão à venda, a longo prazo, sem juros, os melhores terrenos do Rio de Janeiro!”
O Jardim Carioca, nesse mesmo ano, era loteado e vendido pela Companhia Geral de Habitações e Terrenos, que assim anunciava: “Mais de 3000 lotes de terrenos vendidos para pessôas (sic) da melhor sociedade do Brasil! Lotes desde 6 contos! Prestações desde 90$000 mensais!”
“Jardim Carioca é um outro bairro de grande futuro no Rio de Janeiro. Tem ótima praia de banhos, tem bond, ônibus, água, luz e telefône. Barcas de hora em hora. Seus terrenos estão ao alcance de todos”
(Revista da Semana, 1941)
Marcos Souza Costa 17.02.06 05:43 …
As imobiliárias consideravam a compra de terrenos na Ilha como um negócio lucrativo para os possíveis compradores, como foi para os pioneiros da Zona Sul no início do século XX. Com isso, aqueles que consideravam a Ilha do Governador um lugar ainda sem “habite-se”, poderiam mesmo assim comprar um lote da imobiliária a título de investimento:
“Incontestavelmente, meu amigo, a compra de um terreno no Distrito Federal representa sempre um bom negócio. O terreno se valoriza dia a dia. Todos quantos adquiriram por compra terrenos em Copacabana, Ipanema e Leblon, fizeram a sua independência. Um terreno de 10 contos passou a valer 200 contos alguns anos mais tarde.”
Lefla atrasado 17.02.06 06:45 …
Eu não vi sua carta…
andredecourt 17.02.06 07:04 …
Marcos, sensacional a sua transcrição, de fato se a Ilha não tivesse sofrido as consequências do progresso e da destruição da baia da Guanabara, os que tivessem comprados terrenso em 1941 poderiam ter feitos grandes negócios como os pioneiros de Copacabana em 1890 !!

Um comentário em “Estrada do Galeão, obras de abertura, 1948”

  1. Bom Dia!!
    Vi que falaram sobre a Companhia Geral de Habitações e Terrenos. Sabem se ainda existe??
    Att,
    Wilanna Tostes

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