Fábrica da Brahma, a absurda destruição


Ontem, dia 5 de Junho de 2011 um dos mais antigos complexos industriais da Cidade do Rio de Janeiro, quiçá o mais antigo, foi ao chão com propósitos bem pouco nobres,   por um somatório de absurdos e erros do poder público e da esperteza de seus proprietários.
Com a destruição de quase todos os seus imóveis na época de nossa imagem, para a construção dos viadutos da Linha Lilás, somando-se a política de se arrazar partes do Catumbi e Cidade Nova que vinham desde o Estado Novo, nada mais cômodo que a mudança do local de desfile de Carnaval para a Rua Marquês de Sapucaí, via larga e com farta área livre em suas laterais, visto a inadequação cada vez maior da Av. Pres. Vargas para toda a estrutura que era montada.
E assim passou-se vários anos até a tomada de poder pelo socialismo moreno, que numa de suas manobras populistas afirmou que o carnaval ganharia um pouso definitivo. No açodamento do momento, onde o show era mais importante que os estudos técnicos foi determinado que o local para aquela estrtura  seria o mesmo que já era utilizado para o carnaval provisório, mesmo que isso fosse segmentar de vez um bairro ou eliminar-se uma via do sistema de trânsito da cidade.
Construiu-se então ó árido sambódromo, demolindo-se o que sobrava da velha via, exceto o seu imóvel mais caro, produtivo e que ainda por cima era tombado, além de seus proprietários na época terem oferecido forte resistência, pois o prédio abrigava não só uma das principais plantas da cervejaria Brahma, muito antes da criação da Ambev, mas também toda a área administrativa em um grande complexo que começou a ser erguido na segunda metade do séc. XIX por um imigrante judeu-alemão.
Possivelmente como  vingança a fachada historicamente mais relevante, e que não foi implodida hoje, pois já tinha ido ao chão, foi emparedada por estreita lâmina que praticamente a encobria sendo ainda  mais alta que ela, anulando o efeito do tombamento e privando a cidade de sua apreciação, algo bem comum ao já feito antes pelos dois maiores nomes do modernismo brasileiro em outros momentos e de maneiras diversas, mas sempre se chegando ao mesmo fim.
Com a criação da Ambev, e a posteriore da Imbev, todas as velhas plantas do grupo, não tão rentáveis, ou dentro de áreas urbanas como a histórica fábrica da Bohêmia de Petrópolis foram fechadas e abandonadas, sendo algumas quando possíveis vendidas para outros fins. Mas as tombadas foram criminosamente relegadas à ruína.
À Imbev interessava o valor fundiário a velha fábrica da Cidade Nova, que mesmo numa área totalmente decadente, decadência esta causada pelo poder público com atabalhoadas reformas urbanas, tinha potencial construtivo a médio prazo pela exaustão de áreas para se construir na zona central da cidade, mas o tombamento era um impencílio.
Junta-se então a prefeitura ávida para conseguir dar uma sobrevida ao exaurido monumento a mediocridade arquitetônica, que como já era de se imaginar não tinha mais capacidade de abrigar seu público com um razoável conforto e a dona do imóvel na parte mais estreita do sambódromo ávida para poder demolir tudo de vez, pois metade do trabalho já tinha sido realizado pelo abandono do local.
Numa imoral operação foi votado o destombamento de um bem tutelado e de quebra alterados os padrões de zoneamento para permitir prédios muito superiores ao gabarito local para serem ali erguidos, nas sobras de terrenos livres das novas arquibancadas de seus Oscar, ficando todos muito felizes exceto aqueles que pensam na cidade sem populismo e no integração de seu conjunto urbano.
A foto mostra o viaduto Trinta e Um de Março praticamente pronto para atuar ainda como trevo da Pres. Vargas, sem ligação direta com o Túnel Santa Bárbara, à direita o conjunto fabril da Brahma, ainda em perfeito estado estrutural e operacional.
Foto do arquivo da família
O site passa a operar agora com um sistema de controle de comentários em virtude da avalanche de spans que vem acontecendo no último mês.
O comentarista para ter seu texto aprovado terá que executar, num campo abaixo do dos comentários, uma pequena conta de soma. Somente com o resultado correto que ele terá o seu comentário autorizado e publicado.

29 comentários em “Fábrica da Brahma, a absurda destruição”

  1. André,
    No meio do morro parece que exitem grandes prédios!
    A rua, ao lado da fábrica da Brahma, não existe mais, correto?
    O morro nessa época já estava com vários barracos.

    1. Aqueles prédio ficam em Santa Teresa, antigo bairro do Rio. O maior deles é do extinto Hospital 4o Centenário.

  2. André,
    Parece que no meio do morro existem grandes prédios!
    A rua, ao lado da fábrica da Brahma, não existe mais, correto?
    O morro já possuia vários barracos!

    1. Aqueles prédios são em Santa Teresa no eixo da Alm. Alexandrino, já a ocupação desses morros remonta até mesmo as favelas, eram em sua maioria casas antigas simples e térreas entremeadas com sobrados em ruas como a Eliseu Visconti e Falet que subiam para Santa Teresa, os espaçõs vazios foram sendo favelizados, processo este que já existia nessa época, que culminou com a fagocitação de toda a região nos anos 80.
      A Rua paralela ao viaduto era a a Marquês de Sapucaí

  3. Sinceramente, acho que depois de tudo que já tinham feito na região, o melhor a fazer seria mesmo “terminar” o Sambódromo, que ficará mais amplo e mais harmonioso, simétrico, e dar um fim útil ao terreno.
    Claro, melhor mesmo seria tirar o Sambódromo dali, mas….

  4. Andre, com menor repercussao, tambem foi abaixo o casario no largo do Campinho, criminosamente destombados. Entre os imoveis derrubados, uma antiga hospedagem usada por Tiradentes nas viagens para o Rio.
    PS – Quanto ao novo sistema de controle, nao vai funcionar para quem usa os livros do MEC…

    1. Este é o intuíto…..
      Assinei a petição pública para se poupar a velha hospedaria, mas a gana da grana das olimpiadas e da copa falam muito mais alto para as empresas de ônibus e suas sócias nesse corredor expresso que deveria ser metrô, a as adm. estaduais e muncipais.

  5. Ïmoral operação de destombamento¨ você disse tudo Andre.
    Estamos realmente perdidos . Dizem que a tal implosão do
    conjunto que restou foi acertada num acordo entre o governo
    e a Imbev.Será construído no local camarotes vips para natural-
    mente acolher os amigos do prefeito e governador astros do
    cimema e tv estrangeiros e o pessoal da Globo. Como diz o di-tado: ¨Tudo como dantes no quartel de Abrantes¨

  6. Augusto, possivelmente vc deve estar usando um email gmail ou hotmail, os preferidos pelos robots de spam, ou então usando algum servidor sem proxy, tb usado por robots.

    1. O Anti-Spam foi ressetado, aparentemente os spans de minuto a minuto do último mês o deixaram com uma lista negra maior que os honorários do Palocci, acho que está tudo funcionando bem, ponto para o nosso departamento avançado de informática, que não sou eu logicamente.

  7. André,será que os envolvidos na demolição leram esse texto ?
    E os textos anteriores sobre outros assuntos ? Seria bom que sim.Saberão que nem todos compactuam com as arbirtrariedades cometidas,hoje, ontem e sempre .

  8. Pessoal, quanta mágoa… pelo Amor de Deus. Aquela era uma área podre, sem valor, uma fábrica velha que não era mais produtiva por estar dentro da cidade. Muito melhor ter um lugar que gere empregos e movimente a região e seu comércio, dando oportunidades a muitos. A cidade tem que parar com essa mania de engessar tudo. A cidade só perdeu empegos para outras capitais nas últimas 3 décadas.

  9. Pelo que sei, além do Sambódromo servir de palco para o carnaval carioca, o que não é pouco, funciona uma escola embaixo das suas arquibancadas, solução criativa, bem brasileira, que foi até elogiada pelo ex-Ministro da Cultura da França, Sr. Jack Lang, quando visitou o local.
    Além disso, o local é utilizado como arena de espetáculos musicais e artísticos.
    Ou não?
    Por último, gostaria de lembrar uma frase que ouvi do grande Paulinho da Viola:
    – Eu não vivo no passado. O passado é que vive em mim…

    1. A escola funciona de forma esparsa pelo complexo, um prédio normal daria conta tranquilamente da demanda, impactando muito menos a área.
      O único pedaço usado durante todo ano para shows é a praça da Apoteose, o resto permanece fechado e inoperante, inclusive para o tráfego durante o ano todo.
      Concluindo, é um grande elefante cinza !!

  10. Projeto esse que foi desvirtuado com o tempo e agora tão so-
    mente serve para alimentar os alunos meu caro Sidney.
    Permita-me discordar de você no que toca ao carnaval tão im-
    portante , prara a cidade já que tambem foi desvirtuado deixan-do de ser polular para servir a elite atuante. Há muito tempo,
    que o sambódromo pertence aos turistas e a rede Globo.

  11. As leis não deveriam dificultar o destombamento? A ponto de praticamente impossibilitar? Simto-me inclusive tolhido quanto ao estado de direito quando o destombamento torna-se tão simples. Como se o tombamento fosse só um estado ou um status que não tem o menor compromisso de ser definitivo. Como se nada estivesse assegurado.

  12. A genialidade do projeto está em poder abrigar atividades tão distintas, como o carnaval, espetáculos artísticos e uma escola.
    Foi como ensinou Aristóteles, uma coisa pode ser e também não-ser…
    Se, eventualmente, o espaço está mal aproveitado com a escola, por que não exigirmos que tenha um uso mais intenso? Com a escola pública ou qualquer outra atividade de ensino…
    O mesmo argumento vale para a área de desfile/”shows”. Por que não pensar em uma utilização mais diversificada, para viabilizar espetáculos de natureza distinta?
    Que tal uma ópera para o povo? Ou a execução de música clássica, tipo “Concertos para a Juventude” ou como no velho projeto da Quinta da Boa Vista? Ou balé clássico e contemporâneo? As instalações seriam um palco maravilhoso para isso tudo…
    Por que não exigimos isso dos governos?
    Afinal de contas, fomos nós que os elegemos…
    Eu, pelo menos, tenho o hábito de cobrar atitudes e ações dos candidatos em que votei! E de até dizer a eles, que perderam o meu voto quando agem de modo aético ou incompetente.
    O problema não é do projeto de Niemeyer, mas do uso modesto que os governos vem dando a ele.
    Eu posso estar muito distraído, mas o que vejo nas arquibancadas do sambódromo, durante o desfile carnavalesco, são brasileiros, em sua esmagadora maioria.
    Tem turistas, sim! Mas isso é ruim?
    Tem Rede Globo, sim, que faz uma cobertura magnífica, que as outras emissoras não tem sido capaz de realizar. Lembro, que quando o Brizola deu exclusividade à TV Manchete, a cobertura caiu muito de nível.

    1. Sidney, primeiramente a região está vazia habtacional,ente praticamente não há mais jovens nos bairros do Catumbi e Estácio, a Cidade Nova praticamente desapareceu, portanto os jovens deveriam vir de outros bairros, acontece uqe eles já são servidos de escola. Além do mais quando o carnaval acontece tarde no ano, como foi o caso deste ano, as aulas ficam muito prejudicadas pois só poderão ser inciadas após a desmontagem e entrega dos camarotes.
      Outro ponto a ser levantado é que para shows concertos e etc.. o único lugar a ser possiível o uso é a Praça da Apoteose o resto não serve. O único uso que vislumbro para a reta dos desfiles é para arrancadas de carros, mas as ruas transversais teriam que ser fechadas aos transito, enrolando o tráfego da ligação norte-sul da cidade

  13. Pois é, André…
    O grande desafio é recuperar aquela área que foi muito degradada.
    Meus casaram-se ali perto, no Catumbi, na bela igreja de N.Sª da Salette e moraram nesse bairro. Era familiar e agradável, vizinho do Rio Comprido, onde nasci.
    Isso ocorreu, por exemplo, com Puerto Madero, em Buenos Aires e no extremo sul de Manhattan/NY, onde houve um grande renascimento.
    Concordo com você, quanto ao esvaziamento populacional e cultural da região do Sambódromo.
    Mais que tudo, isso é uma oportunidade!
    E o ponto-de-partida pode bem ser o Sambódromo.
    A região tem no seu entorno o Metrô, a Central do Brasil e a Av.Pres.Vargas, com seus muitos ônibus. Isso não é pouco…
    No retão do Sambódromo poderiam ser exibidos (quem sabe?) espetáculos simultâneos de teatro e cinema ou outros. Além das corridas de carro, aos domingos, quando o trânsito diminui bastante.
    Quanta atividade interessante as salas embaixo das arquibancadas poderia comportar…
    É uma área central, tem fartura de transporte, já tem área construída…
    Está faltando, André, idéias, iniciativa, vontade política, respeito pelo povo, amor à cultura etc etc
    Aprendi, na vida, André, que mudança depende de saber, querer e poder.
    Nesse caso do Sambódromo, penso que está faltando, mais que tudo, o QUERER!!!

  14. Não entendo por que esses eternos insatisfeitos tentam preservar imóveis tão feios, inúteis e já desfigurados, como a fabrica em debate. Em NADA engrandeceria o patrimonio histórico, bem como casas ridiculamente sem estilo, feias e mal construidas, que deveriam ser preservadas apenas pq um agitador lá passou algumas noites? Está faltando razoabilidade nos comentários… Completamente impetinente esses lamentos pelo fim de imóveis que nada representam, tampouco são úteis.

    1. O trollzinho de quinta categoria agora quer dar uma de “decorador” e de cientista político….
      É impressionante que ele ainda consiga fazer contas de somar primárias para postar essas idiotices por aqui! Deve estar se achando mais inteligente que Einstein..

  15. Prezados!
    Fiquei CHOCADO com os seguintes argumentos:
    1. “Aquela era uma área podre, sem valor, uma fábrica velha que não era mais produtiva por estar dentro da cidade. Muito melhor ter um lugar que gere empregos e movimente a região e seu comércio, dando oportunidades a muitos. A cidade tem que parar com essa mania de engessar tudo”.
    2. “Esses eternos insatisfeitos tentam preservar imóveis tão feios, inúteis e já desfigurados, como a fabrica em debate. Em NADA engrandeceria o patrimonio histórico, bem como casas ridiculamente sem estilo, feias e mal construidas, que deveriam ser preservadas (…).Completamente impetinente esses lamentos pelo fim de imóveis que nada representam, tampouco são úteis.
    Sobre o argumento 1:
    A área não é podre e não é sem valor. Bem pelo contrário. Os imóveis da área tem um valor real bem maior do que qualquer imóvel de parede fina e alicerces discutíveis das grandes construtoras de hoje, pois foram muito bem construídos. Há casas que tem mais de cem anos e não possuem sequer uma rachadura e olha que nunca foram manutenidas. Além disso fazem parte da história da cidade, o que as valoriza subjetivamente. E… Se a cidade fosse mesmo engessada – uma pena que não foi, ela iria ser muito mais linda e fluiria muito mais. Muitos aqui não perderiam horas no trânsito para se concentrarem no Centro ou na Zona Sul. O Centro seria somente antigo. O Brasil não tem escassez de terras.
    Sobre o argumento 2:
    Bonitas e cheias de estilo “new carioca”
    são as últimas obras da cidade, como a Ponte Elefante Branco do Metro, Passarela do Metro Cidade Nova, Prédio Espelhado do Tribunal de Justiça, Arquibancada do Sambódramo (a conferir)…
    Uma fábrica pode ser tanta coisa, inclusive uma fábrica…
    Mas… Vai ver… Talvez um dos nossos filhos vai achar que Estácio de Sá fundou o Rio de Janeiro na Barra da Tijuca mesmo, ainda que eu reze a base de educação e “noção” para que isso não aconteça.

  16. Sou carioca, fico triste imensamente arrasado. Nasci na Rua Marques de Sapucaí em 1952,vivi toda minha infância nela, no pé da ponte que atravessava a linha do trem para quem continuava a rua Marques de Sapucai rumo ao Morro do Pinto. Quando nasci a ponte era de madeira.Era menino quando foi construída em concreto. Ainda morava lá quando comecei a ver os casarões serem demolidos. Inicio dos anos 70 esse viaduto começou a ameaçar a área onde morava e vi tudo ser demolido. Atualmente moro no Espirito Santo, não tenho nenhum prazer em ir ao Rio, não tenho nada de minha época para rever, só ruínas. Até a Escola onde estudei o primário foi demolida: a Escola José Pedro Varela que ficava na Rua Joaquim Palhares. Fico triste de vez tanta falta de respeito e preservação histórica. Meus amigos de infância eram portugueses e italianos em geral.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

+ 53 = 63