Incêndio do Ed. Astória – 50 anos- parte III

No post passado contamos das tragédias e das vítimas do sinistro, hoje iremos contar dos atos de heroísmo notadamente dos bombeiros e da assistência de populares e empresas vizinhas, o que revelam o espírito carioca, hoje esvainecido por diversos fatores.
 

Nossa foto mostra o que poderia ser um salto para a morte, mas não foi.
O jovem Gildo Mata Nunes trabalhava em uma empresa no 13 andar do Astória, onde se inciou o incêndio e subiu até o último para pedir que fosse ligada a água, como sabemos em vão, pois a bomba de elevação bem como todos os circuitos elétricos do prédio haviam sido desligados de forma irresponsável pelo zelador, inviabilizando o funcionamento do sistema de combate do prédio, ao descer ficou encurralado com outros no 19 andar do prédio num cômodo que já se incendiava. Ele viu a chegada dos bombeiros no terraço do Hotel OK, mas achou que não teriam tempo de salvá-lo. E num ato de desespero, pois o fogo já o queimava fez o salto de uma altura de praticamente 6 metros atravessando a estreita Rua Embaixador Régis de Oliveira, achando que os bombeiros poderiam ampará-lo.
O que de fato aconteceu, ao ver a queda do jovem o Cabo Napoleão Pereira de Oliveira o amparou em pleno ar, salvando o jovem, que além das queimaduras de segundo grau em várias partes do corpo, quebrou um fêmur. Já o nobre combatente do fogo, que havia tentado salvamento igual no incêndio do Hotel Vogue 08 anos antes, tentando amparar o cantor americano Warren  Heyes, sem sucesso ao custo de uma clavícula quebrada; desta vez salvou uma vida ao custo de uma grave lesão em sua coluna vertebral. Na foto abaixo vemos o jovem Gildo tendo o primeiro atendimento ainda no asfalto da Senador Dantas

 
Já a outra história de heroísmo envolve o menino Paulo César Goettnauer Santos Couto que completava 10 anos no dia do sinistro, e foi com sua mãe, funcionária da Herbert Hichers,que  levou o garoto à Cidade, comprar sapatos na hora do almoço, mas foram pegos pelo incêndio, tendo sido a mãe do menino uma das que saltaram para morte em desespero. O garoto foi salvo pelo heroísmo do Soldado Hamilton Neves , que logo no início do fogo adentrou no prédio e alçou ao 13 andar logo antes de força ser cortada e o combate as chamas por dentro do prédio ser anulado pelo fim da água da caixa superior. No meio da fumaça achou uma sala com 9 pessoas encurraladas, entre eles o menino Paulo César, que pediu para ser salvo pois acabava de ter perdido a mãe. O soldado do fogo não pensou 2 vezes, abriu a farda, colocou o menino por dentro, alçou a corda para seus companheiros no terraço do Hotel Ok. , mas no meio do salvamento o lado da corda presa no Astória se rompe, possivelmente pelo calor e os dois vão em direção a fachada do OK. onde se chocam com muita força. O soldado Hamilton, mantem o menino dentro da farda, solta o nó da cintura e desce 15 andares pela corda até o chão, onde chega com as mãos em carne viva, desmaiando logo após ao tocar o chão de tanta dor.

Por fim não podemos deixar de mencionar os atos de solidariedade de muitos, como de vários restaurantes em volta, que mesmo privados de sua clientela na hora do almoço pelos cordões de isolamento, distribuíram gratuitamente aos bombeiros, água mineral, sucos, refrigerantes e comida no combate ao fogo e no rescaldo que durou a noite toda. Bem como bombeiros de folga e médicos que no mesmo estado foram ao local atender as vítimas. A DAE-GB além das manobras de praxe na rede para abastecer os hidrantes da região enviou todos os carros pipa, inclusive os reservados para órgãos governamentais para ajudar os bombeiros e algo impensável………A presença do Governador do EGB, que se dirigiu ao local no meio do fogo e ficou horas junto com os bombeiros no teto do Hotel OK, num calor de mais de 60 graus comandando por meio de seus ajudantes de ordens os serviços civis do estado. Algo muito diferente dos governantes atuais que só chegam ao local depois dos fatos para capitalizarem com um mórbido marketing político

8 comentários em “Incêndio do Ed. Astória – 50 anos- parte III”

  1. Várias histórias de anônimos que viraram heróis. É de se aplaudir de pé e ficar emocionado.
    Outros tempos, onde até as autoridades eram como deviam ser.
    As imagens continuam dramáticas.

  2. Só de ver as fotos, a única palavra que vem à minha cabeça é: TENSO! Imagina pra quem viu ao vivo, numa época em que não estavam acostumadas a cenas tão extremas… E a postura dos políticos é algo realmente impensável nos dias de hoje…

  3. Hoje, no Há 50 anos do Globo, saiu que a Herbert Richards seria responsabilizada pelo incêndio, por ter escondido existir material inflamável estocado no prédio.
    Alguém sabe como ficou a história? Em que época eles se mudaram para a Tijuca?

  4. Muito bom material!!
    Outros tempos. Mais solidariedade e calor humano (sem trocadilho).
    Ir com a mãe à cidade fazer compras… Fiz muito!

  5. Sou irmã do menino salvo pelo bombeiro Amiltom e filha da Ziza Goettenauer dos Santos Couto que faleceu no incêndio do Astória.
    Na verdade não tenho o que dizer, só hoje consegui ver essas fotos.
    Hoje tenho 64 anos, meu irmão completa 62 em 29 de junho.
    Só quero dizer que amo minha mãe, Agradeço a ela tudo que sou.
    Os 12 anos que tive o privilegio de ser sua filha, proporcionou a estrutura que sempre me manteve viva.
    Sempre vai doer a perda.
    Eu te amo mãe. Obrigada.

  6. Parabéns pelo material.
    Sou Bombeiro Militar e não conhecia a história tão bem contada aqui.
    Mesmo passado tantos anos as imagens continuam dramáticas e por isso devemos zelar para que incêndios não aconteçam.

  7. Foi meu pai que ajudou o menino e o entregou ao bombeiro. Meu pai ajudou os bombeiros amarrando as pessoas. Meu pai foi o penúltimo a sair do prédio. No.andar dele que foi exatamente no.13.

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