Vemos nessa foto a rua Senador Dantas após as reformas sofridas por ela durante o mandato de Passos, por ser uma rua nova à época, tendo sido aberta na década de 80 do século XIX ela não precisou de obras de realinhamento e alargamento como outras ruas do Centro, apenas obras de rearborização, e troca de pavimento, pois nessa época ela era uma das principais vias de transito de coletivos da cidade, pois ligava o Centro a Zona Sul pelas linhas da Jardim Botânico que contornavam o Passeio.
Nessa época a rua carregava uma fama, fama essa que até hoje persiste. Essa alcunha de a Senador Dantas ser rua de “senhouras de vida fácil” remonta de sua abertura, quando os imóveis novos atraíram para a morada pensionatos de “artistas”, sendo essas artistas nada mais nada menos que as famosas cocotes que arruinavam os casamentos no final do séc. XIX. Daí foi um pulo para os pensionatos se transformarem em casas com outras atividades, lar das Suzanes e das Valeries, a mesma atividade dos estabelecimentos congêneres na Praça Tiradentes, ou até mesmo pelos lados da Rua de Santana, só mudando o valor pago e a formosura e outras qualidades das “artistas”.
As pessoas de “bem” da sociedade rapidamente ficaram ultrajadas por tal atividade se desenvolver tão faceiramente numa das ruas de maior movimento, e o pior, movimento para a nova e nobre cidade que surgia após a Glória. Pois depois de uma grande campanha a polícia fechou os estabelecimentos e as suas locatárias foram para lugares mais discretos, como talvez um bar na Igrejinha, no final de Copacabana.
Depois do surto moralizador a rua voltou a ser residencial, mas talvez por pouco tempo, nos anos 30/40 do séc. XX a proximidade da rua com o poder ( palácios Pedro Ernesto e Monroe ) como também a parte boêmia da cidade, no meio do caminho entre a Lapa e a Cinelândia. A construção de hotéis e grandes prédios residenciais trouxe a volta das “Valeries e Suzanes” logicamente numa versão mais moderna e menos provinciana. Segundo as más línguas quartos do velho Rex tem histórias que corariam um certo marquês.
Se repararem bem, apesar da troca dos velhos sobrados por enormes prédios residenciais ou de escritórios já a partir dos anos 20 o PA da rua não se modificou, ao contrário de grande parte da cidade não houve um recuo das fachadas quando da construção de prédios mais altos, principalmente do lado par da via.
Não sei qual foi o motivo de o PA não ter sido avançado, principalmente no Plano Agache, talvez seja algum resquício da abertura da rua em 1884, onde o poder público com uma verdadeira cara de pau abriu a via nos terrenos de fundo do Convento da Ajuda, sem nenhuma indenização, que rendeu posteriormente uma grande e ruidosa briga judicial, tendo se resolvido com a normal desapropriação da área.
Comments (12)
Ainda até bem pouco tempo “Valeries e Suzanes” ainda a habitavam, pelo menos na calçada em frente ao cinema que lá existia.
…e a proximidade com o poder no passado está bem descrito num texto de Gil Cordeiro Dias Ferreira:
“Na porta do edifício São Borja, nº 277 – colado no Civitas, que faz esquina com a Santa Luzia e vai até a Rua México – o movimento era grande: sede do PTB de Getúlio ….. E num dos andares mais altos…o Senadinho, onde os políticos que não faziam nada encontravam as meninas que faziam de tudo…”
Ótimo texto Derani !!!!
As “Valeries e Suzanes” de hoje são as “modelos”, que “estão na pista” em qualquer evento.
O indivíduo à direita era um varredor ou o encarregado de desviar o trilho do bonde?
http://www.fotolog.terra.com.br/luizd
Luiz, fico na dúvida se o sujeito desviava os trilhos ou limpava a ranhura do trilho de terra e sujidades
ESSE FOTOLOG É UMA DAS COISAS MAIS INCRIVES QUE JÁ VI EM TODA MINHA VIDA!!!
PARABÉNS E FELIZ 2007!!!
Isso é brincadeira de vocês, ou realmente as “senhouras de vida fácil” eram mesmo chamadas popularmente de Suzanes e Valeries?
Derani, até fins dos anos 80,quando o Vitória ainda funcionava,as “senhouras” ficavam misturadas com as pessoas que esperavam ônibus ( principalmente o 107)no ponto diante da esquina da Alcindo Guanabara.
É impressão minha,pelo que diz o texto,mas a rua parece bem mais larga do que hoje.Talvez pelo fato de os prédios serem menores.
essa das modelos esta ótima foi exatamente o q pensei…e no brasil é o único lugar do mundo onde vc diz a uma garota na hora da foto olha o passarinho e elas viram o traseiro
Waldenir, Valerie e Suzane foram duas das cafetinas de maior prestígio na cidade no final do séc. XIX, que desfilavam as suas “mercadorias” em lugares como a Colombo, Teatro Lyrico, Cafés Teatros e outros lugares frequentados pela burguesia.
Viraram sinônimo de michês de alto preço por muitos anos aqui no Rio
Olá. Sou português mas tenho uma enorme paixão pelo maravilhoso Rio. Já venho acompanhando seu fotolog e o do Luis D’ faz um bom tempo. Cada dia aprendo mais sobre as maravilhas desaparecidas da cidade que mesmo assim permanece maravilhosa.
Parabéns e muito obrigado!
É engraçado que o lado par da Senador Dantas quase não tem calçada, mesmo sendo tomado de prédios dos anos 30 pra frente. Do outro lado as calçadas são mais largas e os prédios, mais novos.
Alguém chutaria em que lugar a foto foi tirada? Parece logo após a Evaristo da Veiga.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
O rapaz está limpando os trilhos do bonde, onde se acumulava sujeira de uma forma geral.