Aterro da Glória, início dos anos 60

andredecourt's photo from 8/2/06

Aterro do Flamengo início da década de 60.

Vemos a construção do Aterro do Flamengo, no trecho conhecido como Aterro da Glória. Essa parte do aterro na realidade já estava concluída desde 1955, para sediar o Congresso Eucarístico.
Os planos para a construção do Aterro datavam já dos anos 40, quando o “Plano Mais” foi criado, por Reidy, mas o grandes espaços estavam sendo ameaçados pela mentalidade dos administradores da época que queriam encher o grande aterro já em 1949 de prédios, contra a vontade do arquiteto.
As obras de desmonte do Morro de Santo Antônio se arrastavam, inclusive envolvendo escândalos com os membros da igreja, mais detalhadamente D. Helder Câmara, numa maracutaia de superfaturamento do material retirado, argila ao preço de granito.
Com a criação da Guanabara, resolveu-se modificar todo o projeto urbanístico, ficando do anterior apenas o MAM e o Monumento dos Pracinhas, mas o que fazer com o resto, principalmente o sistema viário, era uma incógnita.
Somente com a entrada de Lota de Macedo Soares, que o urbanismo da região começou a tomar forma definitiva, defensora ferrenha do pedestre e do verde e inimiga dos automóveis, Lota vinha ha anos mostrando seu descontentamento com os alargamentos, abertura de avenidas e estacionamentos que vinham destruindo a velha cidade, e a não tão velha assim para transformar o Rio “em algum subúrbio qualquer de Los Angeles” nas suas palavras.
Ao contrário das 4 pistas totalizando 16 faixas de rolamento, mais prédios que segundo ela isolariam o homem de uma das paisagens mais fantásticas do planeta, as pistas foram reduzidas e os prédios retirados.
Lamentava Lota que a supressão definitiva das auto-pistas era impossível, pois algumas já tinham sido implantadas ainda durante as obras e não poderiam ser mais retiradas, mas teriam que ser humanizadas. É graças a Lota que todas as curvas do Aterro não possuem a inclinação e compensação correta de uma pista de alta velocidade, possuem sim a compensação de uma rua normal, ou seja, forma abaulada, pois não queria Lota que os carros usassem o Aterro como freeway, o que não ocorreu.
A foto de hoje nos mostra um período dessa indecisão no projeto, vemos no extremo esquerdo da foto as obras do MAM e no meio da foto o Monumento do Pracinha ainda sustentado por andaimes, pela área aterrada um provisória pista de serviço serpenteia em direção ao Flamengo, sumindo no horizonte

Comments (24)

Rafael Netto 8/2/06 9:39 AM …
Eu sabia que o Aterro previa mais pistas, mas não sabia dos prédios! Com certeza queriam fazer da área algum arremedo de Brasília, como fizeram com a esplanada de Sto. Antônio.
Essas 16 pistas seriam um elefante branco. Até hoje o Aterro não tem problemas de tráfego, apenas nas extremidades, quando a “freeway” precisa se integrar ao resto da cidade.
Acho que a foto é um pouco anterior, pois o monumento foi inaugurado já em 1960.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
fco. patrício 8/2/06 9:40 AM …
Culto e Exemplar Decourt,
Magnifico este seu texto introdutório!
Considero a construção do Aterro do Flamengo, uma das maiores obras que foram realizadas na Cidade do Rio de Janeiro em qualquer época – era imperativo o alargamento da Av. Beira-Mar (insuficiente para atender ao fluxo de trânsito que já se fazia sentir) e adicionalmente, se criou uma esplêndida area de lazer.
Louvo sua atitude em trazer á memória dos participantes deste espaço virtual, o nome da Lota de Macedo Soares – uma visionária – pessoa com um currículo de vida fascínante! Todavia, como sucedeu com Sandra Cavalcante, nomes tão esquecidos do universo feminino na história da Urbe.
Abraço caro Amigo.
Marcelo Almirante 8/2/06 9:42 AM …
Mas que interessante essa da superelevação das pistas. Jamais poderia imaginar que foi por idéia ou culpa da Lota.
Digam o que digam, mas o aterro é a única e verdadeira “Park-Way” da cidade. Corrijam se estou errado.
photomechanica 8/2/06 10:00 AM …
Dr Decourt,
A história do projeto do aterro é interessantíssima, mas te peço um favor:
Prometa que voce não irá desandar para a história daquele esquisito Congresso Eucarístico que teve lugar ai do lado, cujas arquibancadas depois foram bentas pelo Papa e suas tábuas foram usadas como material de construção para casas de populações carentes.
:-)))
andredecourt 8/2/06 10:02 AM …
Congesso eucarístico a gente só fala aqui prá malhar
triunfodapintura 8/2/06 10:30 AM …
Lota Macedo Soares. Vou entrar no Google para tentar conhecer essa heroína e um crânio do urbanismo pelo que li aqui.
Wagner Bahia 8/2/06 11:27 AM …
Magnifica a foto e explendoroso o texto.
Por aqui passam histórias bacanas do nosso Rio.
jban 8/2/06 11:33 AM …
Quer dizer que aquelas curvas malditas do Aterro do Flamengo forem culpa de uma mulher ?????? Quem mais ? Ela era parente do AG ? Parece que os dois odeiam automóveis… :-))))
Proponho uma reedição da série do Congresso Eucarístico, juntamente com uma do Monroe que ficava ai pertinho….
Adorei o ponto de vista da Lota, de não transformar o Rio em um suburbio de Los Angeles… excelente !
Essa história dos prédios no Aterro parece filme de terror. Igual à idéia de aterrar a Lagoa para construir um bairro. Só de pensar dá arrepios.
luiz_d 8/2/06 12:49 PM …
COngresso Eucarístico de novo, não: o Tumminelli e eu mesmo já falamos demais nele…
edubt 8/2/06 12:59 PM …
Congresso Eucaristico??? Não conheço…
:-))))))))))))
Acho que tenho essa foto, ou uma muito parecida.
prfragoso 8/2/06 1:26 PM …
Magnífico texto, André!
Não tinha visto nenhuma foto como esta, mostrando o Aterro quase no início da construção.
Eis algumas informações sobre, colhidos num site da RioTour:
O Aterro do Flamengo, cujo nome oficial é Parque Brigadeiro Eduardo Gomes, possui 1.200.000² de área verde. Quando de sua inauguração em 12.10.1965, possuía 11.600 árvores de 190 espécies, nativas e exóticas, sendo que entre as 4.400 palmeiras, de 50 espécies, estão preciosidades como a Talipot que demora de 40 a 80 anos para florescer uma única vez, e depois morre.
Além do fato de ser um parque urbano, ele tem características especiais, como grupos de plantas da mesma espécie, e o uso de plantas brasileiras como o “abricó de macaco” e o “pau mulato”, que não eram comumente usadas em paisagismo.
http://www.rio.rj.gov.br/riotur/pt/atracao/?CodAtr=1880
Rafael Netto 8/2/06 2:18 PM …
Realmente o Aterro tem uns espécimes vegetais bem interessantes. Há alguns anos a Prefeitura espalhou pelo parque umas placas explicativas descrevendo a vegetação do parque. Como de praxe, já estão todas bem maltratadas (as placas).
O abricó de macaco é um horror! A árvore é interessante, mas os frutos caem e apodrecem com um fedor horroroso! Lá no Fundão também tem bastante.
Não sabia dessa palmeira Talipot. Tem uma outra que fica ali perto do Monumento que começa a florescer depois de uns 30 anos, mas continua florescendo durante vários anos. Soube dessa quando houve a primeira florada delas, não tem muito tempo, foi notícia.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
riodejaneiro_021 8/2/06 2:46 PM …
excelente obra
hj o aterro eh um dos melhores lugares pra se passar uma tarde de domingo
abs
Osnil Ramos 8/2/06 5:12 PM …
Ótimo post André, sobretudo porque menciona o nome do Flamengo (rs…!)
Veja o texto que copiei não me lembro exatamente de onde, há três anos atrás quando passeava lá no aterro com a minha filha mais velha, hoje com dez anos:
Parque Brigadeiro Eduardo Gomes
Contando com uma área de mais de 1.200.000 m2, o aterro do Flamengo possui museu, teatro de marionetes, coreto, espaço para aeromodelismo e nautimodelismo, quadras polivalentes de esporte, playground, jardins, uma praia artificial de 1.500 m de extensão e campos de futebol.
…”se o parque do aterro não tivesse mais nada, nada, só os campos de pelada lhe justificavam a existência. Pois ali é que vão se criar os nossos campeões do futuro. É onde eles se sentem realizados, brasileiros, eufóricos, benza Deus”.
(Raquel de Queiroz)
Viu só? Nos tempos dela tinha até coreto lá…
Ps.Como só poderia ser no Rio mesmo, veja o linke abaixo:
http://oglobo.globo.com/online/rio/plantao/2006/07/31/285065082.asp
Rafael Netto 8/2/06 6:41 PM …
O coreto ainda existe, fica numa das extremidades da “grande reta” da ciclovia próximo ao fim da praia, mas nunca vi ser usado. Em volta dele recentemente construíram umas pistas de skate.
O teatro de marionetes acho que ainda é usado, bem como a área para aeromodelismo a cabo. Museu tem 3 (MAM, Carmem Miranda e II Guerra). O espaço pra nautimodelismo é que foi abandonado.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
marianaslv 8/2/06 8:00 PM …
rs.. até eu juntar a quantidade de dirhams necessária p/ comprar a ilha já vão ter inventado uma pílula anti câncer de pele ou uma camada de ozônio artificial!! rs.. nem se preocupe com isso! rs…
leflaneur 8/2/06 10:03 PM …
A idéia é boa, de um parque. Mas aí, entregaram para a tartaruga paisagista. E aí, juntaram a paisagista com a tartaruga arquiteta. Resultado: um parque xoxo, que só atrai os moradores do lugar e ainda assim, cheios de medo. As espécies exóticas não precisavam estar lá. Nossa flora é boa o suficiente para prover de árvores e palmeiras qualquer jardim. Com a vantagem de atrair pássaros locais. Do jeito que foi feito só atrai aqueles periquitos grandes, maracanãs e… deixa pra lá. Tenho má vontade com as tartarugas.
Rouen 8/2/06 10:17 PM …
Sobre s prédios a serem construidos, lembro muito bem do caso, pois na época eu morava no Morro da Viúva estavamos indignados em talvez perder a vista que tinhamos.
Rouen 8/2/06 10:18 PM …
Jban, já viu quantos caros tem aí ppara fazer uma bela coleção ?
edubt 8/2/06 10:21 PM …
Mais uma vez faço côro com Lefla.
:-)))
Marcelo Almirante 8/3/06 12:12 AM …
Palmeiras também são exóticas no Rio de Janeiro. Foram trazidas da ásia.
O Parque do Flamengo tem muita cafonice, com aquelas quadras de esporte sem nenhum valor paisagístico.
ordemphoto 8/3/06 12:31 AM …
Hello
Suas fotos são espantosas. Excelente arquivo e parabens por sua pesquiza, sem duvida muito trabalhosa, mas que vale a pena.
Anibal
Lefla 8/3/06 12:50 PM …
Marcelo, há palmeiras brasileiras e essencialmente brasileiras. Um exemplo é a palmeira juçara e a palmeira de açaí. Há muitas palmeiras brasileiras, pois nossa terra, como dizia o outro, tem palmeiras onde canta o sabiá…
Marcelo Almirante 8/3/06 11:10 PM …
Lefla,
Palmeiras podem até ser “bonitinhas”, mas não fazem sombra nem amenizam o clima.

3 comentários em “Aterro da Glória, início dos anos 60”

  1. A maior parte da vegetação do Aterro é constituída de espécimes exóticas. Dizer que Burle Mark valorizou a flora brasileira é um engodo. Lá na chácara dele, sim, tem muitas espécies nativas. Mas o Aterro, pelo amor de Deus, é uma tristeza. Não tem fruteiras, devia estar coalhado de fruteiras. Por falta de fruteiras, só aparecem por lá os passarinhos ciscadores – pombos, rolinhas, pardais -, que não sabem cantar, não gostam ou não foram dotados de fisiologia pra isso. Com o nascimento dos primeiros cocos (flora nacional e internacional), surgiram as maritacas, que fazem uma algaravia danada. E pronto. Deveríamos plantar fruteiras, como fazem muitas capitais brasileiras, Brasília principalmente (sem falar nas centenárias mangueiras de Belém, cujas mangas amassam os automóveis, mas ninguém as quer tirar de lá).
    E fazer pistas sem superevalação é uma bobagem que eu não sabia se originou nas ideias de Lotta Macedo Soares, uma engenheira brilhante, até porque complica o escoamento pluvial. Sem falar no risco de instabilização dos veículos em velocidade. E ainda estão programando fazer corridas de automóveis ali…
    Quero estar cá no alto de Santa Teresa no dia em que os bólidos começarem a voar sobre a cabeça dos espectadores bem antes da pista de decolagem adequada do Santos Dumont.

  2. Quanto aos frutos do abricó dos macacos acredito que eles tragam, tambem, em seu bojo sementes que dariam arvores bem interessante.cabe ao homem.
    Com relação aos pássaros temos aroeiras, pitangueiras, cajueiros etc.. Eles iriam adorar e isso não faria mal nenhum ao urbanismo.

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