Hoje nosso assunto é o alargamento do corte da rua Farani, executado em pista simples no governo de Passos, como via de articulação entre Botafogo e Laranjeiras e Cosme Velho.
Com o projeto do Túnel Catumbi-Laranjeiras ainda nos anos 20 ( fazia parte do Plano Agache) esse eixo de ligação ganhou importância, ultrapassando as colinas de Santa Teresa e virando um eixo entre as zonas Norte/Central e a Sul, mas a morosidade das obras do túnel, culminado com o grave desabamento ocorrido nos anos 50, onde um grande bloco de rocha desabou no meio das escavações vitimando diversos operários e suspendendo as obras, até que um estudo geotécnico assegurasse que não haveria mais blocos em processo de destaque do resto do morro.
As obras começaram de forma modorrenta em 1959, pois as obras do túnel também caminhavam de forma lenta, nos últimos momentos da PDF, o prefeito Sá Freire Alvim publicou a concorrência em 1958 e no início de 1959 a empresa ganhadora, junto com a SURSAN começavam as explosões para duplicar o corte de forma que as pistas ficassem com as largura mais próxima possível das pistas do túnel.
As obras fora poeira, confusão administrativa caminharam com relativa tranquilidade até meados de outubro de 1960 onde um desabamento rochoso, além do planejado nas explosões caiu sobre um importante duto que levava gás em altíssima pressão do gasômetro de São Cristóvão ao gasômetro de Botatogo, na Rua Jornalista Orlando Gomes, um dos pequenos gasômetros descentralizados que existiam na cidade nos tempos do gás de nafta, causando um vazamento gigantesco e o corte do fornecimentos de gás em toda a Z. Sul por mais de 24 horas, causando um festival de acusações entre a SAG e a SURSAN, pois pelo projeto o duto já era para ter sido deslocado para o outro lado da Farani, mas o órgão e a empresa se batiam meses em questões técnicas de como seria construído o novo duto.
Passado o susto e a polêmica a obra do corte se encerrou, mas a larga via só existia no trecho rochoso e na frente do Palácio Guanabara, dificuldades de desapropriações na ponta de Laranjeiras com o estádio do Tricolor, que chegaram a uma conclusão célere já em 1961. Mas na ponta de Botafogo a situação era bem mais complicada, como deixou-se construir grandes prédios de apartamentos da Rua Farani no final dos anos 50 a solução seria fazer uma variante pelos terrenos da Embaixada Argentina e passar também pelos terrenos de uma instituição educacional católica e pelos terrenos de um edifício do IPAG, projetado pelos irmãos Roberto e com jardins de Burle Marx, prolongando-se e retificando a rua Fernando Ferrari.
O governo Argentino de pronto ofereceu a área para desapropriação, mas ao se analisar a documentação descobriu-se um enrosco fiscal, findo da época da permuta da mansão com o terreno da Praia do Flamengo, onde Carlos Guinle conseguiu nos anos a total isenção fiscal da operação junto ao Cônego Olímpio de Melo e Getúlio Vargas, iniciou-se uma discussão se o terreno, dada essa isenção era indenizável ou não, a solução que se arrastou por mais de ano foi só resolvida com brilhante parecer da PGEGB onde se separou a parte fiscal com o valor imobiliário da área.
Com o prédio do IPASE, a questão poderia ser tranquila, mas mais uma fez a confusão administrativa, transformou a questão que envolvia uma área de recuo em uma ópera bufa. Tanto o instituto de previdência como os moradores das unidades já quitadas queriam que a SURSAN ao alargar a rua deslocasse a portaria do edifício, movesse o PC de luz e o PI de gás e fizessem uma nova rampa de acesso ao terreno, tudo factível, que se desenrolava de forma burocrática até que o órgão público entrou com um Mandado de Segurança na II Vara de Fazenda do Distrito Federal (em 61 o poder judiciário ainda não tinha passado para o novo estado), oferanto informações inverídicas ao magistrado que deu tutela para que a obra fosse realizada à força, o resultado que as 6:00 horas da manhã máquinas do EGB destruíram os jardins do prédio, matando todas as carpas e tartarugas do lago, derrubando árvores, postes de iluminação, a portaria e o PC de luz, além de cortar a rampa de acesso do prédio bloqueando o acesso as garagens. Polícia chamada, gente presa e até a abertura do fórum das 11 da manhã, onde o magistrado inverteu sua decisão, obrigando o EGB a reparar todos os danos e adequar as instalações, iniciou-se uma peleja judicial que também se arrastou por um par de anos, atrasando ainda mais a conclusão das obras.
Mas mesmo depois de aberta, embora sua embocadura com a praia de Botafogo só seria resolvida com a construção do Viaduto San Tiago Dantas, o alargamento da Farani não teve dias tranquilos, com as fortes chuvas de 1966 e 67 grandes lascas de pedras desabaram da encosta, reduzindo a nova via a largura de 1906, a solução para esse problema foi a de atirantar todo o novo lado com profundos pinos de metal, que em 2017 foram novamente refeitos, pois a encosta corria risco novamente de desabar. De curioso podemos ver o sistema de iluminação improvisado, usando postes de concreto e bases dos postes da Av. Pres. Vargas, num momento que a Light abandonava o sistema de iluminação da cidade, com a constituição da CEE-GB e a instalação da iluminação a vapor de mercúrio