O São José fazia parte da história da Praça Tiradentes, lar do séc. XIX até os anos 60 do séc. XX de diversas casas de espetáculo, do primal S. Pedro de Alcântara às dezenas de casas de espetáculos, de teatros, cines teatros e cinemas que exisitam na região nos anos 20 e 30 do séc. passado.
A história do S. José começa em 1880, quando foi construído no local do antigo Hotel Itália como um teatro de verão, nomeado de Príncipe Imperial, inaugurado no ano novo de 1881, possivelmente de instalações precárias como outros de seus vizinhos sofreu modificações em 1885 e novamente em 1886, renomeado de Édem, tendo virado um café-teatro, tão na moda naqueles anos, uma rápida sucessão de nomes ocorreu entre 1886 e 89; Édem Fluminense, Recreio Fluminense e por fim Variedades Dramáticas, mas continuava mal edificado e acanhado, diziam seu interior ser “sufocante”. Luiz Edmundo considerava o Variedades, o Maison Moderne e o Recreio Dramático casas de quinta categoria para práticas e comportamentos sórdidos.
Talvez pelo tipo de espetáculos que ofereciam indo de revistas ligeiras como até mesmo lutas de boxe como descrevia com perspicácia João do Rio uma noite dessas no Moulin Rouge, novo nome do Variedades: “Eram dez horas da noite. Toda a praça parecia viver na estrídula iluminação do music-hall, uma iluminação violenta de lâmpadas elétricas em candelária pelas duas faces e de holofotes escandalosos que investigavam e alanhavam a sombra do square de segundo em segundo. (…) À posta, ente a entrada para o jardim e um bricoete estreito onde se instalara o bilheteiro, a multidão acotovelava-se nervosa e febril: rapazes de sport, de carne esplendente e grandes gestos, sujeitos com cara de azaristas, burgueses pacatos, cocottes de alto tráfico, fúfias com boás magros a escorrer pelos pescoços, sujeitinhos cujo moral oscila entre o miché e o amante grátis (…) estávamos no Moulin Rouge para ver a luta romana”
Em 1903 nova mudança de nome, desta vez para o definitivo e final, Teatro São José. Foram abandonadas as revistas, espetáculos circenses e pelejas e voltou-se ao teatro, mas a precariedade estrutural de algo construído para ser para um verão assustava os mais precavidos, nos anos 20 a imprensa anunciava que o S. José era um acidente anunciado, além de sua aparência de “coliseu barato” mas não obstante as críticas ao calor absurdo no seu interior o vetusto prédio chegou a completar 50 anos quando em 12 de setembro de 1931 foi devorado por um incêndio.
Reconstruído por Segreto como um cinema usando o estilo art-decó tão a moda naquela época, o prédio acompanhou a era do ouro da praça e sua decadência como polo de diversão, eclipsada pela cinelândia e afetada pelo verdadeiro inferno que se transformou nos anos 60, onde os bondes que tanto contribuíram para o afluxo do público desde o séc. XIX, como um importante hub entre as Zonas Norte e Sul da cidade foram retirados e dezenas de pontos finais de ônibus foram lá instalados, transformando a praça numa rodoviária envolta em fumaça negra e cheiro de diesel.
Nossa foto do início dos anos 70 mostra o ocaso do S. José, transformado em cinema de filmes B (normalmente policiais e de filmes de karatê) e teatro de revista para shows de travestis, no lado esquerdo o imóvel que abrigou no séc. XIX e início do XX a cervejaria Stadt Munchen e o Cinema Brasil já havia sido demolido para o alargamento da Rua Silva Jardim, como determinado pelo Plano Agache.
Ameaçado de demolição desde 1981 o S. José não teve a mesma sorte do Carlos Gomes e do edifício Pascoal Segreto na esquina da Praça com a Rua Pedro I, com a venda das empresas Segreto em 1982 todo o patrimônio teatral e de cinema do grupo foi ameaçado, diversas tentativas foram feitas para tentar preservar todo o conjunto, inclusive com a colocação da PM para garantir que o embargo feito pela prefeitura do Rio em 1984 surtisse efeito, pois os novos proprietários começaram a demolir sem licença o prédio, que tinha sido incluído no Corredor Cultural e teoricamente não poderia ser demolido.
Por anos o empresário da especulação imobiliária Rômulo Dantas, novo proprietário da Pascoal Segreto “mordeu e assoprou” as esperanças do local, mas sempre demonstrou querer demolir o Cinema S. José, inclusive com um hotel construído por nosso querido Tartaruga Touchè, logicamente com a promessa de um teatro embaixo, sua ideia inicial era demolir tudo e construir um conjunto com a “grife Niemeyer” o que felizmente não ocorreu.
Em 1988, vendo que seus planos de demolição do Carlos Gomes e do Ed. Pascoal Segreto deram em água, posou durante uns dois anos de mecenas e trocou o teatro com a prefeitura por 3 terrenos na área do Teleporto, e vendeu todas as salas, lojas e apartamentos do Pascoal Segreto. Não sei o destino do Hotel Presidente, que também era dos Segreto e foi passado junto com os teatros e cinemas, já o S. José, arruinado por demolições clandestinas ao longo de 1984, acabou demolido….
No lugar do S. José temos um hotel Ibis e nenhuma poltrona de cinema ou teatro.
Trabalhei muitos anos na rua Pedro I e quase diariamente passava no local. O Íbis é um hotel de três estrelas e de bom padrão, com instalações modernas. Já o hotel Presidente continua em atividades e seus clientes, pelo que pude observar, são de um padrão bem modesto. Uma pena que o Cine São José fosse sub-utilizado nos seus últimos tempos. Em um passado nem tão remoto era palco do “baile dos enxutos”, festividade carnavalesca voltada para o público homossexual: “viados, fanchonos, travestis”, etc, e que era submetido ao crivo da Delegacia de Diversões. Mas hoje em dia a falta de moral e a promiscuidade tão comum nessas práticas, acontecem livremente, mostrando a face decadente da sociedade brasileira.
Triste história da cidade e do cinema. Os bondes como fazem falta até hoje.
Bom dia.
Após o André informar o que existe hoje no local, reconheci a esquina e o prédio ao lado, onde há alguns anos aconteceu uma explosão de gás.
Isso, do lado!!!!
Gente, não sei não. Hoje em dia todo o cuidado é pouco.
Poderia ter virado mais uma filial da Igreja Universal isso aí.
Seria mais uma desagradável igreja do “PEDIR MAIS CEDO”, do que algo de bom.
Não me conformo até hoje dos cinemas da Zona Norte e daquele cinema na Cinelândia ter virado uma dessas igrejas dessa horrenda seita.
O cinema Icaraí foi tombado e não virou igreja pentecostal. Fica em bucólico recanto entre Ingá e Icaraí. Em estilo ar-déco,é uma das muitas razões para atravessar a baía.
A modernidade acabou fazendo surgir o “Teatro Odisséia”, “casa de diversões” situada na Av. Mem de Sá, uma típica excrescência do Século XXI. Lá acontecem shows para “diversos gostos”, para pessoas normais e “anormais”, festas para gays, travestis, sapatões, etc. As filas na porta são enormes e os “tipos” são os mais diversos.
Quem tem coragem de frequentar a Praça Tiradentes hoje em dia? Sair de qualquer espetáculo tarde da noite é um risco tremendo.
Uma boa pergunta de Luiz D’: Quem? Até a Estudantina fechou suas portas. O Elite, na Praça da República, tem uma frequência “assim assim”, ou seja não é qualquer evento que pode ser considerado “adequado”. A Lapa conta com um programa de “Segurança presente” e mesmo assim a violência, o tráfico e o consumo de drogas são imensos, concluindo-se que a Lapa não é segura. Resumindo: O Rio não é seguro, o Brasil não é seguro. As razões? Todos aqui sabem e não nos resta senão lembrar da vida normal que levávamos e admitir que não volta mais. Acredito que enquanto houver pessoas que acreditam que esse estado de coisas é circunstancial, haverá alguma esperança, mas o número dessas pessoas é cada vez menor. A memória é um dos valores mais preciosos para um homem civilizado. Perde -la significaria mais uma larga passada em direção à bestialidade crescente…
o senhor é bem preconceituoso…tome tenência!!