Cada vez que vejo uma foto desses me convenço que a demolição dos dois quarteirões triangulares da Lapa, já nos anos 70, quando a Av. Norte-Sul nunca mais se uniria com a Perimetral como foi planejada nos anos 40 não passou de mero exercício especulativo para se lotear a área com espigões juntamente com a Esplanada de Santo Antônio.
Nesse foto vemos que a desculpa do primeiro governo Chagas Freitas, último da Guanabara, de se desimpedir a vista dos Arcos não passava de balela. Nossa foto mostra os Arcos bem visíveis no eixo da Av. Mem de Sá, como também eram no Largo dos Pracinhas e seriam com o Morro de Santo Antônio arrasado.
Nosso fotógrafo está na antiga Teixeira de Freitas, com sua largura pós Passos, com duas faixas de rolamento em cada pista e um largo canteiro central, que era arborizado e tinha postes franceses médios, com o arranjo pós eletrificação, pois esses postes no final do séc.. XIX eram os usados nas vias nobres da cidade com lampões a gás em substituição aos postes “ingleses” do tempo de Mauá e alternativa, com mais lampiões e potência aos franceses de tamanho pequeno que se espalharam até o mais remoto arrabalde da cidade e ainda hoje estão em vários locais, como Praça Paris e Passeio Público.
Essa foto nos dá uma ótima perspectiva do que significava a Mem de Sá de Passos, em alternativa à velha Riachuelo, ligando a nova Beira Mar, até a velha Mata Porcos, atual Frei Caneca, rumo a Z. Norte da Cidade, uma via auxiliar à Av. Central com variante para a Z. Portuária.
Os sobrados estavam ainda longe da decadência dos últimos dias de 20 anos para frente, embora a Lapa Boêmia já estava apunhalada de morte.
O mobiliário urbano ainda mantinha sua elegância com os postes da Light, sinais de transito GE Novalux, e o monumental lampadário, na esquerda da foto, indo para sua base, semi encoberta por um ônibus vemos um pedaço da mítica Estação de Bondes da Lapa. Mais para cima, no mesmo ponto da foto vemos o topo do antigo Edifício Revista (da Semana) e da Editora Americana que hoje abriga o MIS
Ao lado da Escola de Música da Universidade do Brasil, vemos o hoje desaparecido sobrado que abrigava o Café Indígena, nas sua loja e o salão de bilhar no segundo piso, um dos clássicos da boemia da cidade junto com o Salão Azul, do outro lado do Largo, entre o Hotel Bragança e o Cinema Colonial.
A foto é ótima para explorar detalhes dos passantes, dos carros e até mesmo da escondida banca de jornais no meio da imagem.
Comparação com os dias de hoje, um lugar estéril e sem alma.
Lembro um comentário do saudoso Etiel em que ele mencionava que “O bilhares entre o Colonial e o Bragança era o famoso Salão Azul, berço de uma geração sinuqueira, nos anos 40 e 50. Outro salão de sinuca que existia no local era o Indígena, no sobradão da esquina da Mem de Sá, logo após a Escola de Música, em cima do café de mesmo nome. Entre os imóveis, defronte a parada dos bondes e lamentavelmente derrubados, estavam o antigo Capela e cantinho do Hydrolitrol.”
Sempre achei que a demolição da velha Lapa tivesse tido uma motivação irresponsável e de fundo especulativo, mas começo a avaliar que outros motivos também existiram. Entre eles, uma simples “picuinha”, como no caso do Palácio do Monroe ou mesmo da faculdade de medicina da Praia Vermelha. Quem seriam os donos daquelas casas? Que “outros interesses ocultos” existiram?
A titularidade dos imóveis era diversificada, de particulares, passando por associações (como a dos músicos), passando por ordens religiosas e alguns do Estado. Não havia um só grande proprietário nesses quarteirões, como também na Rua dos Arcos.
Em um desses prédios da Lapa funcionava um estúdio fotográfico pertencente a um cidadão de ascendência árabe e que o herdou de um tio para que “começasse a vida”. Usando de expedientes pouco recomendáveis, passou a fotografar pessoas em situações comprometedoras para extorquir-lhes dinheiro. Ganhou nome, prestígio, dinheiro, e foi amigo de presidentes, ministros, reis, e teve até colunas nos principais jornais e um programa de televisão. Dizem que a série Cidade Proibida foi inspirada na vida de nosso personagem Será? “Ademã”…
Foto impressionante. Outra região da cidade devastada com argumentos no mínimo estranhos.
O monumental lampadário ainda está lá, de fronte à Sala Cecília Meireles.
Realmente muitas perguntas ficarão para sempre sem respostas. Apenas podemos conjecturar do que possa ter sido.
Eu fico imaginando, hoje, com uma cidade com quase 10 milhões de habitantes, em um Estado da Federação com uns 18 milhões ou quase 20, como seria da vida se mantivéssemos ruas coloniais, imperiais, ou oriundos de 100 anos atrás.
Não consigo imaginar do horror que seria.
A não ser que o RJ tivesse crescido para outras paragens de forma descente e não da forma como aconteceu talvez aí sim tivesse sido bom deixar do Centro com essas ruas e habitações antigas.
E mais: O fato do RJ hoje ser o que é e haver muitos lugares sem do mínimo de beleza ou aproveitamento, é fruto também do que nós, habitantes dessa urbe, quisemos para essa cidade através dos tempos, além, é claro, da classe Política e de outros mais que torceram e contribuíram para a desgraça daqui.
Já que resolvemos optar pela favelização e do abandono, além da corrupção plena, hoje colhemos os frutos que plantamos.
Metrô…. Não há necessidade de se entupir nas ruas de carros. Aliás se sumirmos com a Barra e seu automóvel percapta misteriosamente boa parte do trânsito da cidade desaparece. Não precisa de avenidas de 9 pistas, basta um bom sistema de.transporte de massa.
O problema não é o transporte de massa sim a falta de interesse para implementa-lo. A linha 6 do Metrô Rio rodaria onde circula o lixo suburbano que tem o nome de BRT, mas o conluio natural entre o poder público e as empresas de ônibus desvirtuou um projeto por excelência em uma gambiarra de mau gosto. Com vias mal pavimentadas, ônibus em quantidade insuficiente, e atravessando a maior parte de tempo territórios mais selvagens do que as savanas africanas e povoada por seres com hábitos toscos e selvagens, o sistema está nos seus estertores. Existe um projeto para prolongar o VLT até Copacabana, mas fortes pressões de empresários de ônibus já estão trabalhando em contrário. O Brasil tem jeito mas as soluções serão sangrentas. Não há outro caminho.
O VLT em Copacabana, o bairro tem 4 estações de metrô, a ZS precisa é da Linha 4 de verdade e o fechamento da 1 via Gávea-Uruguai. O VLT seria bom para a Barra ligando as estações de metrô no eixo das Américas com os condomínios isolados como a Penisnsula, e os que ficam ao longo do Canal de Marapendi.
Muito boa foto e grandes mazelas nos dias de hoje.
Fotos muito boas.Não conheci o Rio nessa época mas se parece com o centro de Niterói, que desde aquela época já tinha a melhor qualidade de vida do Brasil. E parabéns por ter ultrapassado o concorrente no número de comentários.
Andre: Explica melhor o fechamento da 1 via Gávea-Uruguai .
A estação Gávea está em linha reta pouco mais de 1.0 km da estação Uruguai a escavação é barata por ser praticamente toda por dentro de rocha e a estação Gávea tem duas plataformas. Fechando o anel da linha 1 vc faz os trens rodarem sem nenhuma manobra o intervalo entre um trem e outro pode cair para aproximadamente 70 segundos. Hoje é 5 minutos.
Pelo que todos nós conhecemos do “esquema” de transportes aqui do Rio de Janeiro, o metrô pode chegar à China, mas nunca esta ligação Gávea – Uruguai será realizada.
O cerco está apertando e esse dia está bem perto, aguardem. As grandes obras aqui ocorreram nos governos militares e isso é fato. Está havendo uma invasão silenciosa do congresso nacional, onde dezenas de generais estão comparecendo diariamente às sessões para silenciosamente observarem os trabalhos. Seria um aviso?
Os militares não conseguem nem desbaratar essas quadrilhas de pés rapados nas favelas do Rio.
Engano seu André, não é tão simples assim. Essas quadrilhas dos morros cariocas nada mais são do que “puxadinhos” toscos de cabeças pensantes que estão alojadas em casas legislativas das três esferas. Mas as coisas vão retornar ao seu “estado de direito”, tenha certeza disso.
O golpe de 1964 foi armado e imediatamente gerou uma grande repressão. O trauma e a violência foram mais incisivos, o que não tira, evidentemente, a gravidade do que está acontecendo agora.
Eu penso que, em 64, muitos militares eram mais estúpidos do que corruptos, mas o importante é que a população demorou muito tempo para perceber a corrupção que existia. Agora, com este governo aí, até quem apoiou o golpe conhece a imensa corrupção do governo.
Entendido Andre. Essa ligação Tijuca-Gávea via Rua Uruguai que eu acredito nunca saia do papel para nós Tijucanos sería ideal pois evitaria darmos uma volta imensa até chegarmos a estação Jardim Oceanico.
Fica mais rapido eu ir de carro pelo Alto.
Congratulo a participação do titular do espaço na seção dos leitores do jornal O Globo de hoje e peço licença para recomendar dois artigos do mesmo jornal.
O do Veríssimo e o do Carlos Alberto Sardenberg.
Boa tarde.Gostaria de saber onde fica essa Niterói que você tanto elogia.Deve ser na Suiça porque eu moro em Niterói/RJ (Jardim Icaraí) e a qualidade de vida está muito ruim.
São mais de 6km entre as duas estações. Veja no google maps.
E o trecho entre a gávea e a zona sul também está incompleto.
Não é fácil fazer 10km de túneis que não vão agregar quase nenhum passageiro ao sistema.
Eu moro na tijuca e queria muito que esse trecho fosse feito, mas não vai rolar mesmo.
Pra fazer 10km sem estações, eu acho mais coerente fazer os 5km que faltam entre Jardim Oceânico e a Alvorada com duas estações que vai gastar ainda menos.
Agrega e muito, vc praticamente aumenta em 25% a capacidade de carramento do sistema. Colocar gente no metrô não é só abrir estações.
Eu vi o último PDTU. O tramo com maior demanda realmente é o entre o Nova América e a Zona sul, quase uma linha reta que compreende o trecho do Metrô entre Uruguai e Gávea.
Sendo assim, em uma primeira vista, realmente parece urgente fazer este trecho, certo? Errado.
Sem uma ligação até a area do Nova América (não lembro exatamente, porém é por ali) este trecho aumenta a CAPACIDADE do sistema, porém não agrega mais DEMANDA.
E a linha 1 está com sobra de capacidade nos dois lados. Só fica absurdamente lotada entre a Uruguaiana e a Central, por problemas estruturais da Supervia e pela falta do lote 29 da linha 2 do metro.
Sendo assim, eu ainda acho melhor levar até a Alvorada ou até JPA o metro, e obviamente, terminar a linha 2.
Sou contra esticar o metrô enquanto não levar a 2 até a Carioca e fechar o anel da 1.