Nossa foto de hoje mostra o derradeiro prédio do Cinema Paris, na Praça Tiradentes, nos anos 20 do século passado.
O Paris remonta aos pioneiros e improvisados cinemas da cidade, ainda no séc. XIX, o primeiro Paris que se tem notícia foi o Salão de Novidades Paris, inaugurado em 1897 da Ouvidor 141, com instalações precárias e altamente inflamáveis (sistemas elétricos amadores a geradores, veludo e tecido nas paredes e muita madeira) ele se incendiou em 1898 sendo reinaugurado em janeiro de 1899, com 200 lugares. Em 1907 o Paris sob a administração de Pinto Ferreira & cia era inaugurado na Praça Tiradentes do prédio de número 50, que não chegou aos nossos dias. Não sabemos se era o mesmo cinema da Ouvidor, pois este era de Pascoal Segreto, a informação sobre uma possível venda do fundo de comércio está no momento perdida.
O Paris passou toda a década de 10 como uma das melhores salas da cidade, mas novas exigências, principalmente referentes a segurança e ao conforto dos espectadores eram cada vez mais prementes, como oficiava o comissário de diversões em 1918, que apontava o Paris como excelente exceto nas condições de entrada e saída dos espectadores “confusa e acanhada” segundo o comissário.
No entanto dada a evolução das salas o Paris inaugurava em prédio próprio e completamente adaptado para ser uma sala de projeções suas novas instalações na Praça Tiradentes 42, o prédio com o interior em estilo egípcio, cadeiras de primeira e segunda classe, potente exaustor, ventiladores oscilantes e cabine de projeção com revestimento a prova de fogo, dada a instabilidade dos filmes de nitrato da época, em 15 de julho de 1921. Ficava bem na esquina da praça com a então Rua Bárbara Alvarenga, renomeada pouco depois Imperatriz Leopoldina.
O prédio teve vida efêmera, em 1941 estava no meio de um litígio entre o locador do cinema e a proprietária de parte do imóvel e o espólio de Pinto Ferreira, o locador, desde 1928 reclamava que tinha direito a renovatória do aluguel e manutenção do fundo de comércio, pois quando da locação da sala adquiriu todos os equipamentos do cinema. As partes rés tentavam vender o imóvel desde 1940, quando de uma liminar da primeira instância da justiça distrital.
A questão ultrapassou a Corte de Apelação, indo ao STF, onde foi dada razão ao Sr. Vidal Ramos de Castro que legalmente tinha direito a renovatória, pois ao alugar o imóvel e adquirir o maquinário continuou com o mesmo negócio preexistente e a função da justiça pátria era defender o Fundo de Comércio e os empregos ali gerados.
Embora com a vitória em Junho de 41, praticamente exatos 20 anos da inauguração do cinema que assegurava todos os direitos da permanência do cinema em seu local, 10 dias depois os jornais em classificados surpreendentemente anunciavam a venda dos equipamentos e mobiliário do Cinema Paris, encerrando abruptamente a história desse pioneiro da imagem projetada em nossa cidade. Possivelmente foi feito um polpudo acordo extrajudicial entre as partes, encerrando-se a questão.
No final de 44 era anunciado a construção de um prédio residencial no local, que nunca se concretizou, sendo suas estruturas modificadas e palco de mortes, fraude, corrupção e estelionato, que ficam para um próximo post.