Nessas duas imagens possivelmente do início dos anos 60 vemos a favelização que existia nas abas restantes do Morro de Santo Antônio, pelos lados das também condenadas Ruas dos Arcos e do Lavradio antes de seu arrasamento final. uma favela tão esquecida como a do Castelo, já publicada aqui ( http://www.rioquepassou.com.br/2017/11/24/favela-do-castelo-anos-50/ ) Aparentemente os barracos são montados com os restos dos imóveis, muitos já em ruínas, da duas vias condenadas.
Na primeira foto temos uma orientação aproximada pelas duas construções mais altas que conseguem ser vistas no meio dos sobrados, muitos nitidamente coloniais, em ruínas. Um dos prédios está na Av. Mem de Sá e outro na Rua do Lavradio, bem perto do Bar Brasil. O que nos indica que as ruínas a esquerda estejam na Rua dos Arcos e a direita na do Lavradio.
Na segunda foto, em ângulo mais fechado nos impede de tecer uma localização mais precisa, pois os dois sobrados que vemos através do lote vazio não mais existem, numa análise mais rasa poderíamos responder de pronto que eles estariam na Rua dos Arcos, mas a Rua do Lavradio no seu período de decadência galopante nos anos 60, 70 e 80 também perdeu vários imóveis no lado sobrevivente, muitos inclusive nesse pedaço entre a Rua do Rezende e da Relação.
A miséria e a desolação é total, no meio dos entulhos e prédios a beira do colapso.
O Morro de Santo Antônio ao contratio do Castelo sempre foi abrigo de pessoas mais pobres, como nos mostra Luiz Edmundo e nunca foi totalmente ocupado, favorecendo, desde o final do séc. XIX ocupações precárias pelos desvalidos da cidade, principalmente nas suas faces menos nobres viradas para a Lapa.
Removidas várias vezes, elas voltavam a cada processo de abandono do morro para seu arrasamento, que era anunciado desde os anos 20 do séc. XX e que foi se arrastando até os 50, quando de fato a demolição começou a ocorrer primeiramente rasgando a Av. Chile e demolindo as partes mais valorizadas junto ao Largo da Carioca e a Sen. Dantas, deixando a região da Lapa esquecida até os final dos anos 60, quando o morro e quarteirões inteiros seriam arruinados.
Aos que acompanham o “Há 50 anos” do O Globo viram que em maio de 1967 um grande incêndio destruiu praticamente meio quarteirão do lado par da Rua dos Arcos e logo depois, após fortes chuvas um conjunto de imóveis do lado impar quase na esquina da Rua do Lavradio desabou, levando os vizinhos a posterior demolição por risco de também desabarem.
Nessas duas reportagens mostra-se que os imóveis apesar de estarem em estado lastimável, eram ainda ocupados por seus proprietários, que não faziam a mínima manutenção esperando sem dúvida o pagamento da desapropriação, que afetada toda a rua. Negócios como metalúrgicas, oficinas mecânicas, gráficas e escritórios e ofícios de pequenos profissionais como contadores e costureiras também ocupavam os sobrados, além de um número espantoso de residentes que eram proprietários ou inquilinos formais dos prédios e não invasores ou sub-locatários.