Há 58 anos a cidade do Rio, ainda capital da república recebeu um grande evento católico, o Congresso Internacional Eucarístico, que mudou a rotina da cidade por vários dias, notadamente com a presença de autoridades eclesiásticas e peregrinos inclusive jovens de várias partes do mundo. Missas lotaram espaços como o Maracanã e a cidade teve que usar residencias particulares, inclusive com construtoras cedendo prédios recém construídos e ainda vazios para o abrigo de padres e freiras, como ocorreu em Botafogo
Uma grande área foi tomada das águas, e um enorme palco de linhas modernistas, projetado pelos traços iniciais de Lúcio Costa e modificado para a execução pelos arquitetos Alcides da Rocha Miranda, Elvin Mac Kay Dubugras e Fernando Cabral Pinto foi montado em área aterrada para abrigar vários eventos inclusive uma vigília que cruzou a noite.
Filme repetido nos dias de hoje, NÃO,……….. na época do Congresso Eucarístico a cidade recebeu um número de centenas de milhares de pessoas, algo muito próximo proporcionalmente se levarmos em conta a população da cidade na época e a de hoje, MAS, nenhum bairro precisou ser fechado e ninguém ficou privado do seu direito de ir e vir, bem como nenhum hospital ficou bloqueado.
O que vemos hoje com a série de abusos perpetrados pela atual administração municipal ferem os princípios basilares da constituição e se não estivéssemos num pais ainda tão adormecido e com uma população ainda tão alienada seria caso de impeachment do atual alcaide. Primeiro por ter permitido o licenciamento ambiental para desmatar e terraplanar um área de mangue e de preservação permanente, gastando milhões em obras de apoio para valorizar essa área que já se encontra até arruada em plantas da prefeitura e até mesmo no Google como podemos ver: http://goo.gl/maps/VqWmZ . É dinheiro público viabilizando um crime ambiental para beneficiar particulares.
Depois, o festival de absurdos continua, ao contrário de 1955, onde a área foi aterrada pela própria PDF como parte de um projeto de urbanização planejado desde os anos 20, o área permaneceu seca e não se precisou as pressas usar um dos bairros das cidade para sediar o evento.
Continuamos, bairro este que ficará praticamente bloqueado por 4 dias, e o pior é o bairro que tem a maior densidade habitacional do Brasil e a maior população de idosos, além de ter um hospital que tem uma das maiores emergências pediátricas da cidade e uma das unidades coronarianas mais importante do estado. Além deste hospital há outro, de grande tamanho e com grande atendimento de emergência e UTI.
Possivelmente o prefeito acha que este bairro, já usado sempre como a casa de sua genitora, é o salão de eventos da cidade, que pode ser usufruído de qualquer maneira e sem nenhuma conservação, onde uma das suas ruas mais importantes está com os conjuntos semafóricos desfalcados há mais de 6 anos, onde a manutenção e o zelo são nulos e onde algumas ruas, recapeadas em 2011 até hoje aguardam a pintura da sinalização horizontal. Não vamos falar da iluminação pública aos cacarecos, do mobiliário urbano podre, das redes de drenagem desqualificadas, da população de rua, da especulação imobiliária desenfreada nas favelas “pacificadas”, dos puteiros não fiscalizados, inclusive quase na frente do papa, onde as meninas devem estar ajoelhando bastante para peregrinos. Enfim ônus mil – bônus zero !
Se em 1955 viviamos a realidade de um pais totalmente católico a realidade de hoje, passados quase 60 anos é diferente, e tais violações de um direito constitucionalmente garantido como o de ir e vir para um evento de uma religião abrem precedentes perigosos !