No dia 28 último a cidade comemorou, de forma funesta, 50 anos de um dos seus maiores e mais impactantes incêndios o do Ed. Astória, na Rua Senador Dantas.
O Astória, irmão construtivo do velho Serrador era um dos bons prédios de escritórios da época na cidade, abrigando empresas importantes, entre elas a Art. Films LTDA e a Herbert Richers, onde tudo começou.
Por volta das 10 horas da manhã com o edifício já em pleno funcionamento, um pequeno curto circuito irrompeu num dos estúdios de dublagem localizado no 13 andar do edifício, possivelmente no aparelho de ar-condicionado ou num dos amplificadores de áudio, o foco por de trás da tela de projeção, de início pequeno começou a ser combatido pelos próprios funcionários da dubladora, mas uma densa fumaça preta tomou conta da sala e o foco aumentando rapidamente consumiu 8 extintores (possivelmente do tipo A) sem nenhum resultado. Apesar do alarme dado a todos os andares pelos funcionários da Herbert Richards que buscavam nos andares vizinhos as mangueiras das caixas de incêndio e logo depois das primeiras guarnições do CBEGB, muitos dos ocupantes do prédio minimizaram os riscos e não evacuaram o edifício. Mas em pouco tempo o incêndio, consumindo aparelhos eletrônicos escapou do estúdio inicial, revestido de lã de vidro e se propagou para os compartimentos vizinhos, com tapetes, cortinas e divisórias de eucatex, se iniciou a tragedia.
O incêndio foi ainda agravado pela administração do prédio que no meio do combate inicial do incêndio fechou o registro geral de entrada de água bem como desligou a mufla do prédio, desativando todos os circuitos elétricos, inclusive das bombas de elevação de água da cisterna para as caixas d’águas superiores, o que secou todas as caixas de incêndio de toda a edificação.
O forte incêndio mobilizou praticamente todos os quarteira da cidade, com o efetivo de mais de 600 bombeiros em 41 uma viaturas, entre elas as 2 lanchas da corporação que atracaram junto ao MAM e levaram água do mar para ajudar a debelar o incêndio, visto que as caixas d’água de todos os prédios vizinhos, bem como a rede da rua e os caminhões tanque dos bombeiros eram insuficientes para o combate do fogo
Impossibilitados de subir por dentro da edificação, e com as escadas magirus limitadas a 30 ou 33 metros os bombeiros começaram a usar de expedientes variados para salvar as vítimas, uma delas foi a criação de pontes usando escadas de alumínio e cordas de nylon, entre o terraço do Hotel Ok, pouco mais baixo onde grande parte das vítimas estavam e as janelas do Astória, de lá os bombeiros também lançavam jatos d’água.
Em pouco tempo o fogo dominava vários pavimentos do prédio, devorando tudo, derrubando os elevadores parados nos andares sinistrados no poço, e jogando milhares de cacos de vidro, restos de esquadrias em chamas,e outros objetos mais leves deslocados pelo vento quente do incêndio, na rua abaixo. Isso causou diversas baixas nos bombeiros além de começar a cortas as mangueiras que partiam dos moto-bombas e dos hidrantes na rua.
A densa fumaça encurralou todos acima do 15 andar, pois o prédio como muitos da cidade, construídos antes do código de incêndio, não possuía escadas segregadas e com portas corta-fogo, todos rumaram para o 16 andar onde a fumaça e o calor eram mais fracos, e aonde começou o drama.
Continuamos na segunda….
Que tragédia!
Estava, neste ano, terminando o ginásio e fiquei impressionado com as imagens passadas nos telejornais da TV Rio e na TV Tupi, no Repórter Esso (salvo engano).
A queda de uma pessoa no meio daquela fumaceira foi impactante. Nunca esqueci.
Cena que se repetiu depois em outros incêndios no Rio e São Paulo e teve sua maior incidência na tragédia sem nome do 11 de Setembro, já neste século.
Alvíssaras! O “Foi um Rio que passou” está de volta!
Andre você está de volta. Muito bom. Até segunda.
Não conhecia esses fatos, tinha meses de vida.
Informações muito boas, apesar da tragédia.
Acompanhei o incêndio pela TV Tupi. Lembro das cordas estendidas entre o prédio do cinema e o edifício em frente. A cidade parou.
Feliz retorno, Andre!
Lembro mal-mal dos detalhes desse incêndio, certamente um dos que marcaram a nossa cidade. Foi bom ler o relato acima, cheio de informações de como a tragédia se passou.
Até hoje desconfio dessas portas corta-fogo, algumas – como as do meu prédio – parecem um improviso para “cumprir a lei”. Ainda há muito a ser feito para garantir um mínimo de segurança às edificações, principalmente as mais antigas, se considerarmos os recentes desabamentos e incêndios no Centro. Parece que ninguém mais se lembra de cobrar fiscalização a sério.
Não conhecia esta história! Vou ler a série!
Sempre achei que esse prédio era parte do Serrador. Show
Confesso que não sabia deste incêndio. Estou impressionado com a riqueza de comentários e fotos. Parabéns.
Era Aspirante a Oficial do Corpo de Bombeiros e este foi o 1º grande incêndio de que participei em minha carreira.
Eu e parte da guarnição do 1º socorro subimos de elevador (de madeira!) e chegamos ao 16º andar. Em rápida inspeção no 15º andar verificamos que não havia como chegar ao 14º andar onde o fogo começara e que seria impossível as pessoas descerem, pois a escadaria totalmente aberta do prédio era uma chaminé por onde subia fumaça e um calor insuportável.
Voltando ao 16º andar constatamos que não havia mais como usar o elevador, pois as portas já estavam começando a queimar.
Subimos alertando a todas as pessoas que encontramos para subirem para o terraço do prédio onde haveria maior possibilidade de serem resgatadas.
Chegando ao terraço do prédio, descubrimos que apenas um muro de cerca de 1,5 m o separava do terraço do prédio do Hotel Serrador (que forma o mesmo bloco de construção).
Arrombamos a porta da casa de máquinas do elevador do hotel que dava para o terraço e a outra porta que dava acesso ao último pavimento do hotel, e pela escada do hotel alcançamos a rua, seguido de inúmeras pessoas que nos acompanharam.
Muitas pessoas que se encontravam no interior das salas simplesmente não tinham conhecimento do que estava acontecendo e, muitas delas, apesar de por nós alertadas nos corredores do perigo que corriam, voltaram para buscar pertences e ficaram bloqueadas pelo fogo.
Ao chegar à rua a 1º vítima já havia caído quando tentava atravessar uma ponte de cordas que nosso pessoal conseguira estabelecer como se pode ver na 2º fotografia.
Pouco tempo depois, uma senhora que estava no 16º andar colocou o filho de tenra idade sobre um aparelho de ar condicionado externo ao prédio e ela mesmo se dependurou no aparelho, sendo a 2º vítima a cair por seus braços não suportarem seu próprio peso.
A criança foi resgatada posteriormente pelo soldado recruta HAMILTON CARLOS DAS NEVES que passou a ser conhecido como Cabo Astória por haver sido promovido por ato de bravura (Atravessou a ponte de cordas para o prédio incendiado e de lá voltou com a criança.
Minutos depois, um homem que estava no 17º andar do prédio saltou cainda no terraço do prédio visivel na 2º foto, caindo sobre o Cabo NAPOLEÃO.
O homem se salvou praticamente sem ferimentos, mas o Cabo NAPOLEÃO ficou sem o movimento das pernas.
Outro homem que assistiu a esse fato, tentou fazer o mesmo, mas não conseguindo atingir o terraço, caiu sobre a marquise da loja do prédio.
Uma quarta vítima foi encontrada. já na fase de rescaldo, com o corpo incinerado na escadaria do prédio.
Em dado momento, funcionários do Hotel Serrador nos avisaram que estavam ouvindo batidas nas paredes do final do corredor dos andares do prédio (em forma de ferradura) e no 16º andar já aparecia um buraco na parede que foi rapidamente ampliado, sendo por nós verificado que a parede dava para o banheiro de uma das salas do prédio incendiado, onde se encontravam várias pessoas.
Um senhor de idade avançada, arrancara a torneira da pia para molhar a porta de madeira do banheiro para que ela não queimasse, e com a torneira, começou um paciente trabalho, quebrando os azulejos e a parede sob eles até conseguir abrir o buraco já na parede do hotel.
Todas as pessoas que se encontravam nesse banheiro foram retiradas pelo buraco ampliado aberto na parede e, dai em diante, esse procedimento foi repetido em todos os andares, sendo salvas mais de sessenta pessoas.
Eu, particularmente, deixei o local por volta das 1700 h e psicologicamente muito abalado fui para casa, tendo durante a noite febre muito alta, diagnosticada posteriormente pelos médicos da Corporação como de fundo nervoso.
Na Reserva desde 1987 tive a curiosidade de revisitar as reportagens da época nos 50 anos de ocorrência do incêndio.
Que meu testemunho sirva de exemplo para moradores de prédios que hoje dispôem de portas corta fogo nas escadarias e que não tendo noção de sua serventia danificam seu dispositivo de fechamento permanente e até calçam as portas para mantê-las abertas, não sabendo de sua importância para manter a incolumidade das escadarias aos efeitos da fumaça e do calor, possibilitando sua utilização como meio seguro de saída em caso de incêndio.
MARCO ANTONIO
Marco Antônio, muito obrigado pelo seu depoimento pessoal, são essas participações, de quem de fato viveu os fatos históricos por nós narrados no site, que nos dão razões para continuar o trabalho não obstante o cansaço do torabalho oficial.
Novamente muito obrigado !
Sou Bombeiro da ativa e só posso dizer parabéns e meu muito obrigado. Foram profissionais como o sr. que tornaram a nossa profissão tão honrada.