Aqui estamos, uma foto daquelas que podemos chamar de “mosca branca” pois a casa que vemos a famosa “Casa do Vaticano” sempre foi “encantada” para aparecer em fotos, fora já em ruínas. Na nossa foto embora com cara de fechada ela está perfeitamente íntegra.
A história da casa daria certamente uma ótima história em tons novelescos. Construída nos anos 10 ela fazia parte da segunda geração dos imóveis da Av. Atlântica, não mais uma casa de veraneio, mas longe de ser um dos palacetes ecléticos construídos nos anos finais da década de 10 início da de 20. Era um imóvel praiano, com uma grande varanda e talvez sua única excentricidade fosse uma pequena torreta no outro extremo do imóvel, como vemos nessa foto do misterioso AD ( http://fotolog.terra.com.br/sdorio:1729 ) o terreno era enorme, e a casa só ocupava um dos vértices, no fundos na Rua Aires Saldanha, no outro vértice do terreno havia uma garagem se não me engano de 3 portas.
Sabe-se pouco de quem construiu o imóvel, e seus primeiros proprietários, mas foi nos anos 30 que a história que deixou a casa famosa começou a ser construída. Ela foi comprada pelo Conde Innodare e sua esposa, com a sua morte a casa foi passada a sua esposa, que doou em testamento o imóvel ao vaticano, visto que os herdeiros italianos não mostravam muito interesse.
Só que, a velha condessa era cuidada por uma enfermeira, eslava, polonesa certamente, de nome Estephania Paskovitej, além da casa da Av. Atlântica os velhos condes eram propietários de vários outros imóveis, apartamentos e lojas. E surpreendentemente no final dos anos 60, a velha condessa transformou em sua herdeira única a sua cuidadora, a revelia dos parentes italianos e acho que até mesmo do Papa.
Com o falecimento em 1973 da Condessa Innodare a Sra. Estephania, tomou posse do imóvel e então começou uma guerra judicial que até a demolição da casa, já como Help para a construção do novo prédio do Museu da Imagem e do Som, não havia sido terminada, como bem dissecou o ex-prefeito Cesar Maia, em seu ex-blog ( o qual não acho o post..raiva), tendo sido inclusive o dinheiro da expropriação do imóvel depositado em juízo. A briga judicial se arrastava nos corredores do STF e o andamento do processo no TJ-RJ mostrava várias reviravoltas jurídicas
Certamente por esta briga a casa foi abandonada e foi se arruinando durante todos os anos 70 e início dos 80, mesmo com o muro sendo levantado, portões sendo lacrados mas a casa ficava sem vigilância, algo impensado hoje, foi depredada e depois ocupada por mendigos, que provocaram alguns incêndios destruindo telhado e no final boa parte das paredes internas, que desabaram, a foto do AD mostra a casa após o seu primeiro grande incêndio.
Por volta de 1982 a garagem também se incendiou, junto com parte do mato que tomava conta do jardim e foi demolida pois ameaçava desabar.
Em 1983/84 a casa foi alugada por um grupo de empresários espanhois, Chico Recarey, incluso, para fazerem um grande complexo, usando os jardins para a construção de uma grande discoteca e estacionamento subterrâneo e usando as ruínas da casa para dois restaurantes, um informal no nível da Av. Atlântica e um sofisticado na parte superior.
Possivelmente pela a briga judicial, que envolvia a igreja, os descendentes italianos e a cuidadora, herdeira de última hora, a casa não pode ser demolida e foi envolta pela nova construção e podia ser vista nesse mesmo ângulo saindo por fora do complexo dos espanhois ( http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto:351 ).
A foto além da casa mostra um pedaço da concessionária Nova Texas, da bandeira Dodge e uma panorâmica da emparedada Rua Djalma Ulrich, uma das mais antigas do bairro,conhecida como Santo Expedito, e que derivava do velho Caminho do Caniço. Vemos que inclusive um dos horrendos prédios de conjugados proibidos uns 8 anos antes por Lacerda ainda subia, certamente por problemas em sua incorporação.
Por fim vemos elementos urbanos como o pirulito padrão EGB com a lixeira metálica da SLU-GB, um típico poste padrão Light de braço reto, tipo que dominou Copacabana após uma reformulação do sistema de iluminação do bairro nos anos 40 e os vários tipos de carros comuns nas ruas do Rio há época, muitos nacionais e alguns ainda importados dos anos 50.
Foto de Gyorgy Szendrodi