Cine Pax, início dos anos 60


Hoje temos um post duplo com o Saudades do Rio, que postou uma foto da Igreja de Nossa Senhora da Paz, nos anos 20 fazendo uma menção ao Cinema Pax, em terreno da igreja ( http://fotolog.terra.com.br/luizd:2757 ).
O Pax foi uma das realização do Frei Leovegildo, possivelmente o primeiro padre empresário e marqueteiro do país, ainda nos anos 50, inclusive se associando a fundos de investimentos e construtoras que destruíam Ipanema no final dos anos 60 início dos 70. Segundo o mestre Ruy Castro “Frei Leovegildo talvez não vendesse sua alma para o Diabo-mas aceitaria reunir-se com ele para discutir o negócio”.
O cinema inaugurado em um prédio da própria igreja em 1952 ficou famoso principalmente pela programação sendo um dos 3 grandes cinemas do bairro junto com o Ipanema e o Astória, o prédio que o abrigava construído em estilo neo-clássico por de cima do antigo “hospício” da igreja de Nsa. Sra. da Paz tem a aparência de ter sido projetado bons anos antes da inauguração do cinema, arriscando dizer que no final dos anos 30, num dos últimos espasmos desse movimento arquitetônico, e por ser uma obra da igreja, feita por doações ter demorado alguns bons anos para ser concluído.
Infelizmente a fama do cinema se sobrepõe a do prédio que o abrigava, sendo muito difícil apurar sua autoria e anos de construção. Mas mesmo sendo de 8 pavimentos numa Ipanema ainda horizontal, ele poderia ter sido já construído no início dos anos 40 quando un novo PA para as duas principais ruas do bairro permitia prédios mais altos desde que contassem  com recuos generosos, frontais no caso da Rua Visconde de Pirajá e forntais e laterais no caso da Prudente de Morais, hoje ainda sendo mais notados nessa, pois na Visconde de Pira´já esse recuo hoje virou regra sendo excessão apenas as velhas construões ainda debruçadas na rua que insistem em resisitir n0 bairro.
Mas pouco tempo depois de sua inauguração oFrei Leovegildo pretendia demolir tudo, inclusive a igreja, para a construção de um grande shopping, com uma pequena capela dentro. Seus planos, combatidos arduamente pelo IAB e principalmente pelo barulhento O Pasquim, a luta se arrastou durante todos os anos 60, e curiosmamente depois do Pax ter sido reformado, e num pequeno terreno colado à igreja ter subido um prédio, o que demonstrava que o lobbie perdia força, em 1979  o prédio de 8 pavimentos foi derrubado a toque de caixa, sob protestos, e em seu lugar subiu o bodoso Forum de Ipanema, primo de uma série de prédios construídos no final dos anos 70 e início dos 80 que descarecterizaram em definitivo o bairro.
A foto, escaneada de uma velha publicação não é nova no site, tendo sido publicada ainda nos tempos do fotolog se não me engano em 2004. O período aproximado é o da primeira metade dos anos 60, vemos as obras de criação do estacionamento da 45 graus que até hoje existem com pavimentação de bloquetes hexagonais de concreto, bem com os últimos momentos dos bondes e dos lotações. Contraditoriamente a base de poste canadense que vemos na direita da foto não significava sua remoção, mas sim sua instalação, num período que a iluminação incandescente na cidade já começava a morrer.

16 comentários em “Cine Pax, início dos anos 60”

  1. Que saudades do Pax!
    Este cinema foi inaugurado em finais de 1952, sendo mais um empreendimento da Casa Nossa Senhora da Paz. Em 1977 transformou-se, após a reforma informada no texto, no Novo Pax, passando de 926 lugares para 670 lugares. Acabou por ser demolido em meados de 1979.
    A Igreja Católica, após o COngresso do Office Catholique International du Cinéma, em 1947, recomentou a formação de circuitos de cinemas católicos, pois o Papa Pio XI defendia a tese de que “não havia um meio de influência capaz de exercer sobre as multidões uma ação mais decidida que o cinema”. No Rio foram quatro: o Pax, o Santo Afonso (na Tijuca), o Fátima (em Santa Cruz) e o Roma (na Tijuca). O Pax começou a ser construído em abril de 1948.
    Havia uma escadaria para subir até chegar à bilheteria e à portaria. O cinema tinha dois andares e a bombonnière/lanchonete ficava fora do cinema, à direita de quem subia as escadas. Lembro que, talvez pelo controle dos padres, os porteiros eram muito rigorosos na entrada, exigindo comprovar a idade para filmes proibidos para menores de 14 e 18 anos.

    1. Morava no Leblon, assisti muitos filmes no Pax, principalmente as sessões de Tom&Jerry as sabados de manhã. Me lembro tambem dos filmes do Maciste, uma especie de super-herói de força descomunal e suas historias eram recheados de exageros que tornavam os filmes mais comicos do que outra coisa.
      Com relação a Ipanema estudei em um colegio chamado Padilha na Rua Paul Redfern 52, proximo ao Bar 20.
      O que me deixa saudade, era a tranqulidade do bairro, o vendedor de pirulito e casquinha, com seu badaque (leco-leco) para anunciar sua chegada, a carrocinha da Kibon com seus picolés Chica-bon, Kalu, etc

  2. O que primeiro chamou minha atenção na foto foi o enorme comprimento do bonde. Eram todos assim, ou estou enganado?
    Excelente foto.

    1. Gustavo, esse bonde é um bataclã da série 2500, fabricado no início da década de 1940. Era o tipo de bonde mais comprido. Tinha 13 bancos, capacidade de 65 passageiros sentados.
      Em termos de capacidade e quantidade de bancos, não diferia de alguns outros tipos, inclusive dos seus irmãos gêmeos, os bataclãs da série 2000. Mas a curvatura frontal e traseira da lataria da série 2500 era bem mais acentuada do que a da série 2000, fazendo com que os 2500’s fossem os bondes mais compridos existentes. Tinham 5 vidraças na frente e traseira, enquanto os 2000’s tinham somente 3.
      Os reboques dos 2500’s constituíam a série 3500 e não são muito comuns de serem vistos em fotos. Até porque foram fabricados 74 carros-motor mas apenas 35 reboques, que em sua maioria circulavam na área da Penha, região da cidade não muito comum de ser mostrada nos FRA’s. Ainda assim, há alguns meses enviei (acho que para o Luiz d’Arcy) uma foto em que aparecia um bonde desses completo: carro-motor e reboque, circulando na rua Francisco Sá.

      1. Curiosa essa história. Não sabia que na década de 1940 ainda se fabricavam bondes com o layout do início do século 20 (abertos, com estribos e bancos inteiriços), achava que nessa época os bondes já eram mais modernos, como os “Camarões” e “Gildas” de SP, e que os bondes cariocas eram todos anteriores a 1930.
        Um bonde desses com reboque devia ser um “trem” e tanto. Qual era o comprimento desses veículos?

  3. Foi aqui, Andre:
    http://www.rioquepassou.com.br/2005/01/17/cine-pax/
    Eu lembrava da foto mas achava que tinha sido publicada com melhor qualidade. A impressão já não era boa e o estado do papel não ajuda.
    Imagino que se fosse hoje o prédio do Pax não seria demolido e sim “retrofitado”, poderia até mesmo abrigar um shopping esnobe (como dito no outro post) sem alterar sua fachada, eventualmente até comportando uma grande academia com piscina como foi feito no Copacabana.

  4. Dados sobre o cinema:
    CINE PAX – Prop. Casa N.Sra. da Paz
    R. Viscode de Pirajá 351 – Fund. 1952 – Cine teatro – 926 lugs. Ap. 35 m/m
    Func. diário – Média anual – 2.000 sessões – 620.000 espectadores

  5. Eu e meu irmão Paulo morávamos em Ipanema, onde hoje fica a Padaria Eldorado, e andávamos muito pelo bairro. Lembro-me de pegar bonde andando na subida da rua, fazer o balão do Bar 20 e saltar em frente de casa. Vimos a inauguração da Sorveteria Moraes, bem em frente. Eles nos deram um monte de provas de sorvetes de sabores estranhos para a época, como de banana ou de coco queimado. Atravessando a esquina havia um terreno baldio com areia azul, onde muito tempo depois seria construida uma filial do Bob’s. A praia era deserta. A garota de Ipanema ainda estava mamando nestes dias de paraíso. Onde hoje está a Cruzada, foi montado um enorme parque de diversões, tão grande que só vi igual depois em Orlando (OK, mal comparando). Mas para baixo, eu e o Paulo fomos a uma quermesse da igreja NS da Paz, num corredorzinho ao lado de uma construção. É claro que fomos espionar a tal construção, andar por andar. De repente, nos vimos dentro de um templo, iluminado por um holofote místico que só os meninos vêem. A luz beijava uma enorme parede com um retângulo ao centro. Era o espaço onde seria o Cinema Pax! Talvez neste momento eu jurei que faria as duas atividades da minha vida: arquiteto e cineasta. Os sons e os sabores deste evento ficam tatuados na memória: At Sundown, com Frank Petty Trio, e os refrigerantes Guará, os sabores Pep (limão, laranja e morango) e o fortíssimo Bidu de uva. E, last but not least, as Balas Ruth que eu colecionei e não completei (dava uma casa de prêmio!), enroladas numa balinha sem-vergonha com sabor ignorado.

  6. Boa tarde sou historiadora e faço uma pesquisa sobre teatros no Rio de janeiro fiquei interessada nesta foto já que no prédio do cine pax tambem funcionava um teatro. Você poderia me indicar o autor da foto ou onde você a encontrou.
    Desde já muito obrigada.

  7. Fui apaixonada pelo Pax desde criança. Lembro até do cheiro do cinema e das cadeiras, cujos assentos se mexiam pra frente pra pessoa recostar. Era maravilhoso, enorme. Passei grande parte da minha infância e adolescência no Pax. Fui até a uma ou duas apresentações de escola, ou algo assim, que aconteceu no palco, sem a tela. Num dos andares do prédio funcionava, no final dos anos 1950, a Aliança Francesa, onde também estudei. A entrada para o prédio, com acesso às escadas e elevadores, era pela bombonière, à direita de quem subia aquelas escadas de mármore preto. Um lugar maravilhoso!

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