Hoje teremos mais uma foto de Ferreira Júnior, tirada como fotógrado da ABI, reportando talvez a mais fantástica edição do Grand Prix Cidade do Rio de Janeiro de todos os tempos, a de 1937. Onde o David automobilístico derrotou o Golias de 500 cv.
Uma das formas preferidas de propaganda do estado nazista era a exibição de produtos e máquinas sofisticadas em eventos por todo o mundo ou quebras de recordes e de marcas. Podemos ter como exemplo o Zepellim, o enorme hidro DOX e logicamente o Auto-Union P-Wagen, em todas as suas configurações, em sua época o mais poderoso carro de corrida já feito.
Projetado por Ferdinand Porsche, com uma arquitetura revolucionária que já era pelo grande engenheiro estudada desde seus projetos para Tcheca Tatra e seu modelo Tatraplam, e que em breve seria usada, simplificada, pelo KDF-Wagem, o popular Fusca. Motor central-traseiro, no caso do P-Wagem uma enorme unidade de 16 cilindros com compressor volumétrico e mais de 500 CV na versão GP, que aliada a uma carroceria de magnésio e alumínio o transformavam em uma máquina imbatível, que de fato dominou todas as corridas até a guerra explodir.
Mas foi nesse dia, fotografado por Ferreira Júnior que o orgulho nazista sofria possivelmente sua única derrota num período de 3 anos. Por um carro ultrapassado, com menos da metade de potência, pilotado por um italiano sem muito juízo e preparado por ex-piloto da primeira guerra, que em breve emprestaria seu nome a uma mítica escuderia e ao carro esporte mais famoso.
O Trampolim do Diabo com mais de 100 curvas, com pelo menos 3 tipos de pavimento, anulava parte da vantagem do P-Wagen, pois seu piloto Von Hans Stuck tinha que na maior parte das curvas dominar as vigorosas estilingadas da traseira de sua máquina, sendo ultrapassado pelo Alfa de Pintacuda, mais convencional e com menos potência que o deixava mais dócil nas curvas da Niemeyer e Estrada da Gávea, mas a usina alemã falava mais alto nos trechos mais retos, como no Leblon e baixo Gávea, onde ultrapassava a já veterana Alfa Romeo P3 da equipe oficial de fábrica, a Scuderia Ferrari.
Mas em uma manobra insana Pintacuda, na última volta do GP, resolveu usar a gravidade como sua aliada e desceu toda a Estrada da Gávea na “banguela” sem usar freio motor, com isso ganhando velocidade e anulando a vantagem do P-Wagen, nesse trecho mais rápido. Com isso ganhando a prova.
A foto mostra um Leblon vazio, com a Visconde de Albuquerque praticamente sem construções e com algumas precárias, como o barracão de zinco ou madeira logo atrás do P-Wagen, que nos remete a recente post publicado pelo misterioso AD ( http://fotolog.terra.com.br/sdorio:1959 ) que mostra uma pequena favela nesta mesma avenida poucos anos antes da nossa foto.
Agradecemos mais uma vez ao Sidney Paredes por nos encaminhar as fotos feitas pelo seu padrinho.
Se a corrida fosse com tempo seco, o Pintacuda não teria a menor chance. O Auto-Union era muito superior.
O local mostrado parece ser em frente à praça Baden Powell, contudo não vejo a esquina da rua Codajás com a Visconde de Albuquerque.
Contava meu pai que chovia muito no início da prova e Stuck foi logo ultrapassado por Pintacuda, que abriu enorme diferença do alemão. Só que lá pelo meio da corrida (eram 25 voltas), a chuva parou e o piso começou a secar. Com isso, apesar das dificuldades com o percuso sinuoso, Stuck reduziu bastante a distância, aproximando-se do italiano. Certamente, dizem a lenda e os relatos de testemunhas, iria, gloriosamente, ultrapassá-lo na volta final, se Pintacuda corajosamente não recorresse à banguela na Estrada da Gávea. Contam que a diferença entre os dois, na chegada, foi de 5 segundos. O público foi ao delírio com a vitória de Pintacuda, cujo nome passou a ser sinônimo, em nosso país, de piloto rápido e destemido. Curioso que o maior nome da Alfa Romeu na época, Tazio Nuvolari, não veio disputar a prova.
Acho que é o local apontado pelo Victor, esquina da futura Codajás.
1. O cordão de policiais (ou bombeiros) é sensacional. Se alguém perdesse a direção, fazia um strike.
2. Tem um sujeito filmando a corrida, ou pelo menos tem algo ali que parece uma câmera, numa posição elevada, um excelente lugar para uma transmissão televisiva…
Antigamente tinha corrida de carros no que é hoje o Leblon. Hoje não pode ter corrida aérea em Botafogo e Flamengo. O avô do PHG não chegou a filmar algumas destas corridas na Gávea?
Augusto, naquela época o Leblon, Gávea e São Conrado eram bairros praticamente desabitados, muito diferente de Botafogo e Flamengo mesmo naquela época.
Algumas curiosidade da família sobre o “Trampolim do diabo”:
1. Meu pai costumava cantar uma música de carnaval que depois li ter sido feita muito depois deste feito em que o Pintacuda ainda era sinônimo de velocidade. Na Espanha, pelos idos de 1990, acontecia o mesmo com o Emerson. Se alguem estava muito rápido diziam: “parece um Fittipaldi”. Aquilo me chamou atenção e me deu um certo orgulho também.
2. Papai também contava sobre a brincadeira de falar rapidamente o nome dos ídolos da época: “VonStuck-Ptacuda-HelenNice!
3. Meu avô fototgrafou o trágico acidente que vitimou Irineu Correa em 35. À foto, pequena e com pouca definição definição, não foi dada muita atenção exceto pela curiosidade. Mas com a ampliação digital pode-se ver a importância do flagrante quando, 75 anos depois, a coloquei neste post: http://cariocadorio.wordpress.com/2010/04/12/trampolim-do-diabo/
Uma palavra sobre a foto de seu avô…..impressionante !!!!