Na nossa foto de hoje vemos o ônibus elétrico que circulou na Av. Central, na linha Palácio Monroe-Praça Mauá.A linha foi originária do ganho, em 1916, da concessão de operação da mesma pelo engenheiro inglês H. L. Wheatley, que empregou carros completamente diferentes dos vistos até ao momento no Rio.
Os ônibus construídos pela J. G. Brill Company, eram uma adaptação feita por cima de um chassis de carro ou caminhão com vários elementos estruturais de bonde, mantendo muitas das características dos carris, como as laterais abertas, capacidade de passageiros, curvatura do teto etc….
Mas o grande diferencial do veículo era a sua autonomia, pois não dependia de trilhos, redes elétricas e suspensórios para circular. O veículo era alimentado por um conjunto de baterias que ficavam abaixo do piso e que transferiam energia para um motor elétrico de bonde aos truck’s, que ao invés de rodas de bonde possuíam rodas raiadas de madeira maciças, revestidas de uma camada de borracha, também maciça, algo muito comum nos veículos de carga do início do séc. XX, quando os pneus não eram lá muito confiáveis.
Os veículos entraram em operação em Agosto de 1918, tenho Wheatley passado sua concessão rapidamente para a Light, já em 5/12/ 1918. A Light que proibida de instalar trilhos na Av. Central queria naquela época o monopólio de todas as linhas de ônibus que trafegassem ou pudessem trafegar pela avenida.
As datas à cima foram fornecidas por Charles Dunlop, um dos maiores pesquisadores e historiadores da expansão da Light na área de transportes em nossa cidade, porém elas não batem com uma reportagem feita no órgão de comunicação da própria Brill Company, fornecedora dos ônibus que num exemplar de Maio de 1918 dizia que estava enviando carrocerias de 7 veículos elétricos, Auto-Omnibuses, para a Parson Engineering a fim de terem sua mecânica instalada para atender a encomenda da Rio de Janeiro traction, Light and Power, para circularem de forma moderna nos belos bulevares da capital brasileira. Auxiliando o sistema de bondes operados pela companhia.
Ou seja, algo não bate, ou algo está imoral. Dunlop apesar de todo seu valor para a história da cidade era um empregado da Light e talvez tenha mudado os fatos e datas para não macular a imagem da companhia.
Especulo que o Sr. Wheatley era um “testa de ferro” da companhia canadense, que ou proibida ou receosa de entrar no mercado de ônibus na Av. Central usou-o para ser a figura pública da concessão. Embora tenha entrado com todo o capital para a aquisição dos veículos nos Estados Unidos.
A verdade talvez só será descoberta com pesquisas na Biblioteca Nacional em periódicos da época ou até mesmo em arquivos nos EUA.
Na foto o ônibus passa por diante ao Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro, quase na esquina da Rua de São José, indo para a Praça Mauá.
Comments (8)
derani 14/01/08 09:15 …
Interessante.. tanta dificuldade para se fazer um carro elétrico hoje em dia, autonomia, armazenamento de energia, etc… e já existiu onibus elétrico sem esses problemas aparentemente.
Aí tem coisa…
photomechanica 14/01/08 10:52 …
Lá no museu da Light tem um caminhão elétrico exposto. Foi fabricado ao redor de 1907 nos EUA.
Fabricante – Commercial Truck Co. of America
Modelo – 3 1/2 Ton
Fabricação – Ao redor de 1907
Movido a 4 motores elétricos montados diretamente nas rodas e alimentados por 10 baterias que ficam guardadas embaixo de sua carroceria, 5 de cada lado.
As baterias não estão mais lá.
Na cabine não existem instrumentos, apenas o volante c/a barra de direção absolutamente vertical em relação ao chão.
O acelerador, na verdade um imenso reostato, fica ao longo desta barra de direção, entre as pernas de seu motorista, e é acionado por uma alavanca logo abaixo do volante.
O freio é outra alavanca acionada pelo pé direito.
No painel a frente do motorista tem uma placa curiosa:
AVISO – NA BOLEA, AO LADO DO MOTORISTA, SÓ É PERMITIDA MAIS UMA PESSOA. ORDEM SUPERIOR
As rodas são de madeira e os pneus são de borracha maciça.
Foi adquirido nos anos 20 e era utilizado apenas para serviços diurnos (trocas de lampadas e serviços de emergência) pois não tem farois.
:-))
luiz_o 14/01/08 10:55 …
Nunca tinha visto este modelo.
flaviom 14/01/08 10:58 …
Era um bonde com motorista ao invés de motorneiro!
As rodas não parecem ter muito “jogo”. E dá para ver que, no teto, existem vistas com o destino nos dois lados. Será que este “ônibus” tinha duas frentes, com dois comandos?
De quanto em quanto tempo sera que ele precisava recarregar as baterias? Ou será que trocava as baterias por outro conjunto já recarregado?
Concordo com o Derani. Que pena que os motores de combustão interna cortaram o desenvolvimento dos motores elétricos.
Uma curiosidade: o metrô de Paris chegou a ter trens sobre pneumáticos. Não sei se eram Michelin…
jban 14/01/08 11:27 …
Um Bondônibus !!!
famadas 15/01/08 04:58 …
Me desculpem se eu estiver errado, mas fiquei impressionado com a semelhança do prédio com o colégio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado.
http://www.flaviorio.globolog.com.br/E%20Amaro%20Cavalcanti.jpg
andredecourt 15/01/08 07:24 …
O Amaro Cavalcanti é muito mais antigo que o Hotel Avenida, mas é do mesmo arquiteto do conjunto do Liceu, o qual uma das partes aparece por de trás do ônibus na extrema esquerda na foto.
famadas 15/01/08 07:37 …
É verdade! É curioso como nossos olhos nos pregam peças. rsrsrs Além do mais, acabei de encontrar umas janelinhas do Amaro que não aparecem na foto do bonde da Rio Branco. Obrigado pelos esclarecimentos!
As rodas parecem mesmo ter pouco jogo.
Alguma idéia de como funcionava a direção?
Direção nas quatro rodas?
Motores em cada roda e parando um lado, como os veículos de esteira?