Estamos no início dos anos 70, todo o antigo Bairro da Misericórdia desapareceu, os últimos vestígios sumiram há menos de 10 anos para a construção do prédio do Palácio da Justiça, que vemos no extremo esquerdo da foto, mostrando a empena na qual se conectaria a segunda lâmina só nos anos 90.
Junto ao Fórum vemos algumas construções que faziam parte da estrutura do velho Mercado Municipal ainda de pé, mas que certamente deviam estar servindo só para a construção do prédio do Palácio da Justiça.
A região antes ocupada por um dos primitivos bairros do Rio é um enorme vazio, com uma via elevada e com a superfície tomada de carros, formando um tapete que reflete o sol. Dos tempos que o bairro ainda existia só vemos o prédio do Ministério da Agricultura, construído em 1922 para a exposição do Centenário da Independência, por onde antes havia o Largo do Moura e o velho quartel. E que sumiria em pouquíssimo tempo, demolido pela ditadura junto com o Monroe e outros antigos prédios federais.
A parte baixa da fotografia é ocupada pela Santa Casa da Misericórdia, primeira do gênero no país, fundada na Praia de Piaçaba, na descida da principal ladeira do Castelo, junto ao guindaste dos jesuítas e a Porta da Cidade ainda no Séc XVI. Juntamente com a igreja da Misericórdia, sendo ambas as primitivas construções de taipa e pilão.
A origem do hospital remonta de 1582 quando uma frota em viagem para o Pacífico entrou no porto atacada pelo escorbuto. A instituição começou a se desdobrar para o outro lado da Ponta do Calabouço, nas areias de Santa Luzia, em terras doadas por Gonçalo Gonçalves quando da construção do recolhimento das órfãs. Tendo, com a vinda da família real mais um novo prédio construído no complexo, para abrigar a Faculdade de Medicina. Com a epidemia de Cólera Morbo em 1852, as órfãs foram retiradas e a faculdade e hospital se expandiram ainda mais.
Com a proibição do sepultamento em áreas urbanas ficou a Santa Casa incumbida de construir uma necrópole, bem como cuidar dos sepultamentos, o que aliás já era tradição da irmandade desde tempos idos.
Com essa importância no Rio antigo a irmandade foi ganhando poder e patrimônio, chegando nos anos 60/70 do séc. XX como uma grande proprietária de terras na cidade do Rio de Janeiro, terras estas espalhadas por todos os bairros.
Porém mesmo com esse patrimônio e importância ela começou a perder receita e colidir muitas vezes com a sociedade. Defendendo dogmas católicos num estado laico, como foi a instalação de um forno crematório da cidade, que se arrastou por décadas, e só foi construído quando o atual perfeito em seu primeiro mandato ameaçou a ordem com a perda da administração dos cemitérios se ela não construísse tão importante equipamento. Que foi construído num buraco escondido do Cemitério do Caju, de difícil acesso e junto ao ossário e cemitério de indigentes, colado à uma favela….um absurdo
Hoje vemos uma das maiores crises, de uma instituição que foi operante e poderosa, além de ter tido enorme importância social na nossa cidade. Nem parece que nomes importantes da medicina como Ivo Pitangui operaram graciosamente em suas dependências até pouco tempo atrás. Hoje até o hospital, tão antigo e inserido na história do Rio está fechando.
Comments (7)
Quanta roubalheira…..
Por que seria que está fechando?
Quem está dilapidando o patrimônio da Santa Casa?
O Governo, federal e estadual, diz que vai intervir mas é uma instituição particular.
Merecia uma olhada da polícia.
O Eu-Rico Miranda foi um dos provedores da Santa Casa….. Quem proveu quem ?