Nossa foto de hoje mostra a Rua Uruguaiana em plena obra de alargamento e reurbanização implementada na Administração Passos, mais precisamente no dia 5/9/1905.
Mais uma vez chamo atenção para a estreita largura da velha rua, que pode ser comprovada olhando os restos de uma fachada que ainda permanece de pé na base da foto. Regredindo nos séculos, a idéia que podemos ter é que a Uruguaiana colonial foi construída diretamente por cima da vala. E imaginamos o inicio de ocupação da rua, ainda com a água pútrida vindo do Largo da Carioca e depois com os lagedos de cantaria colocados por cima para melhora o transito do local, embora nos fale Vivaldo Coaracy que o forte cheiro de podre ainda minava pelas gretas.
Na foto dois estabelecimentos comerciais se destacam. Primeiramente a Casa das Fazendas Pretas, que esperava as obras da Av. Central terminar para ocupar sua nova sede, onde ganhou nome e importância.
Nesse anúncio de 1910 podemos ter uma idéia do ramo de seus negócios:
“Casa das Fazendas Pretas
Avenida Central 141/143
Lutos em 12 horas
Devido a uma organização especial e única no gênero, essa casa pode aprontar um luto, por mais importante que seja em condições irrepreensíveis e vantajosas no curto espaço de 12 horas.
Pedimos endereçar pedidos diretamente a nossa casa ou telefonar ao número 191, que prontamente serão atendidos por pessoal habilitado.”
Além do tingimento das roupas do enlutado, para o preto, esse famoso estabelecimento do início do século XX ainda vendia enxovais completos de luto, algo surpreendente para os dias de hoje.
A casa comercial seguinte era a “Casa Onça” de sapatos e calçados, que ficava no número 66, não sei se o estabelecimento ainda está lá, mas ele sobreviveu a várias mudanças de tempo e urbanas, como a obra do Metrô e os camelôs dos anos 80, talvez por ter sido sempre uma loja popular com destaque aos preços baixos.
O amigo Derani publicou uma interessante foto do interior da Casa Onça em seu flog, que pode ser vista aqui: http://fotolog.terra.com.br/nder:203
Foto de Malta
Comments (14)
Outros tempos, havia respeito pelo morto, hoje o povo vai até de bermuda no enterro, desrespeito, põem uma calça ou então não vá.
Praticamente desapareceu aquela tarja preta na lapela.
Mas, enfim, os tempos são mesmo outros. Já nem se pode velar os mortos nas capelas, à noite…
http://fotolog.terra.com.br/luizd
Postei um close da Casa Onça e seu interior em:
http://fotolog.terra.com.br/nder:202
http://fotolog.terra.com.br/nder:202
belo registro, amigo…usos iimpensáveis nos dias de hoje…o negociante era extremamente profissional…que idéia fantástica, não?
PS: perguntinha que não quer calar…onde moravam Pereira Passos e Frontin, nas Laranjeiras?
valeuuuuuu
Essa foto eu já vi, ou alguém postou ou tenho ela aqui… sei lá. Acho que foi postada pq vc falou dessa loja, me lembro.
:-)))
Mais uma foto sensacional,verdadeiro registro histórico do que foi a Rua Uruguaiana. Vale lembrar que na época da vala,aí era a zona de baixo meretrício, com cabarés,boates,madames com impecáveis apresentações à francesa.
Minha avó dizia que passara a maior parte de sua vida de preto ou cinza. A regra geral era “botar luto”. Viúvos usavam luto fechado até o fim de seus dias, caso não se casassem novamente. Tinha o luto fechado, vestido preto, mangas compridas, sem enfeites, sem decotes. Sapatos pretos, meias pretas. O viúvo usava terno preto, camisa branca ou branca com riscas pretas, meias pretas, sapato preto, gravata preta. Luto fechado sem ser pesado admitia roupas mais leves.
Já o luto aliviado admitia enfeites para as mulheres. Gozado é que luto de viúvos durava a vida toda. Pais, um ano fechado. Irmãos seis meses fechados e seis meses aliviado. Tios/sobrinhoos, três meses de cada tipo. Outros parentes e próximos, três meses aliviado. Afastados, um fumo no braço e outro no chapéu para os homens, enfeites negros para as mulheres.
Viúva que tirasse o luto antes do tempo ganhava má reputação, era “viúva alegre”. No mínimo 3 anos. Viúvos não podiam ir a festas e se fossem tinham que ficar quietos e sair cedo.
Para a alma do falecido não penar, de noite todos tiravam o luto. Vestiam roupas claras, de preferência brancas, caso ficassem em casa. Todos se referiam a quem havia morrido como o “finado fulano”. Para o luto só se escrevia em papel e envelopes com sinais pretos.
Nelson Rodrigues tinha fascínio pelo luto. Era um romântico.
Esqueci: o luto era chamado de nojo”. Tem uma gravura famosa de Dom Pedro II com suas irmãs vestindo “nojo” por Dom Pedro I…
maneirissimo….
Belo registro, e ainda com nitidez.
Interessante os códigos de luto descritos por Lefla. Cada época com seus ritos sociais.
Pelo menos para o funcionalismo público, não sei se a CLT também usa o termo,o período de luto do funcionário ainda é chamado “nojo”.
Realmente, época de outros valores,o enterro era funestro… aquele “cocho” (Carro normalmente preto com ornamentos dourados e vários penachos de cor roxa em cima).A ida para o enterro era chamado de cortejo.A tristesa parecia não ter limites.
Tenho a impressão que esse conjunto de sobrados onde ficava a Fazendas Pretas é aquele que foi demolido e reconstruído há uns 10 anos, no post 97 do meu fotolog:
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto:97
Apesar da numeração não bater, a casa vizinha ao novo sobrado se parece muito com essa que está do lado da Fazendas Pretas. O estilo do novo prédio também parece ser muito semelhante ao original, mas falta o frontão.
Alguém sabe se essa “Casa das Fazendas Pretas” passou a se chamar “Ao Luto Elegante” ou eram estabelecimentos concorrentes?