Os Arcos cujas formas foram dadas pela reforma definitiva pelo Governador Geral Gomes Freire o Conde de Bobadela, que substituiu o precário feito em 1723 com estrutura de madeira, embora a verba fosse para um de pedra e cal, chegou a metade do séc XX em péssimas condições.
Com a sua perda de importância para o abastecimento de água da cidade no séc XIX várias construções se apoiaram em suas arcadas, algumas sendo feitas dentro das próprias arcadas. Fora a total falta de manutenção das estruturas, não obstante sua importância com viaduto dos carris para Santa Teresa.
Em 1872 para melhorar o acesso pela Rua dos Arcos, caminho natural de quem vinha do Centro pela Rua dos Barbonos, hoje Evaristo da Veiga, duas seqüências de arcadas foram retiradas, formando um enorme arco único.
Já em 1896 quando da inauguração da linha de bonde sobre os Arcos, uma pequena amurada foi construída no seu topo, e tinha elementos de formas ogivais vazados. Com a abertura da Av. Mem de Sá no período Passos, a Lapa sofreu a sua primeira grande transformação, e os Arcos receberam os primeiros cuidados para a sua preservação, muitas das casas que ocupavam os arcos foram retiradas e na parte central as novas construções foram afastadas do velho aqueduto começando a lhe dar destaque no cenário urbano como monumento.
Mas se essas reformas foram benéficas para os Arcos, que só perto das encostas do Morro de Santo Antônio e na Ladeira de Santa Teresa, permaneceu com construções coladas em sua estrutura, a criação da Av. Mem de Sá que se consolidou como um importante eixo viário ligando Centro e Zona Sul à Zona Norte, via Rua Frei Caneca e Largo do Estácio, sendo motivo para mais uma modificação nas feições das arcadas.
Na década de 30, o encontro da Rua do Riachuelo com a Av. Mem de Sá começava a ficar tumultuado, e um dos agravantes era a presença dos Arcos no local, utilizou-se então o expediente de 1872, mais uma grande arcada dupla foi aberta no encontro das duas vias.
Na década de 60 o estado dos Arcos é precário, algumas das construções que eram coladas em sua estrutura perto das fraldas de Santo Antônio foram removidas, no decorrer dos anos como parte do desmonte do Morro de Santo Antônio e construção da Av. Norte-Sul; inclusive pequenos prédios já de concreto armado.
Mas o estado geral não era bom, infiltrações, esfarelamento das bases, deslocamento de blocos de pedra pela presença de vegetação, até árvores cresciam nas fendas, queda de revestimento em quase toda a estrutura e risco de desabamento na abertura feita nos anos 30.
A região antes ocupada pelas construções entre a Rua dos Arcos e as encostas do Morro de Santo Antônio eram as piores, restos de estruturas saiam dos Arcos, que em muitos pontos estavam deformados com restos de paredes e vigas. Como chamava atenção o IAB em publicação dos anos 60.
Lacerda como governador da Guanabara, incluiu o velho aqueduto em seu enorme pacote de obras, e começou a primeira restauração dos Arcos e não apenas uma mera reforma.
As duas arcadas duplas foram fechadas, voltando os Arcos a ter sua volumetria colonial, como não era possível eliminar as amuradas junto a via de carris no topo, as aberturas, fontes de infiltrações no revestimento, foram tapadas, todo o revestimento foi trocado e nas bases o esfarelamento combatido com modernas técnicas.
Os Arcos ainda ganharam duas reformas, em 1988, quando sofreu uma intervenção tão ampla como da época de Lacerda e em 1995 quando os constantes problemas de infiltrações causados pelos trilhos de bonde no seu topo foram resolvidos.
Nossa foto, do arquivo do Jornal O Globo mostra a restauração do período Lacerda em andamento na abertura da Rua dos Arcos. No meio do madeirame as duas arcadas inferiores já estão com as suas formas prontas e o pilar par a separação das arcadas superiores já sobe. No extremo direito da foto vemos uma das partes inferiores do arcos em estado bem precário.
Foto: Arquivos do Jornal O Globo
Comments (13)
Que aula!
Histórica!
Os textos têm sido cada vez mais completos por aqui.
O de hoje está supimpa. Parabéns!
http://fotolog.terra.com.br/luizd
Os estudos que culminaram com o assentamento dos trilhos para a passagem dos bondes foram feitos pelo Engº Caminada, italiano, que era casado com uma tia bisavó do Photomechanica, D. Lulli Langaard de Menezes.
Essa eu também ignorava, nunca tinha visto uma foto da época. O arco com um buraco desses tinha ficado totalmente descaracterizado. Ainda bem que deu para consertar. Não duvido que algum dos técnicos tenha sugerido a pura e simples demolição em 1930.
bondinho duplo!
Nossa, muito legal esse post, essa história das arcadas sempre me intrigou, porque em algumas imagens antigas se via a arcada grande e nas atuais não, e nunca ninguém tinha me dado uma explicação satisfatória.
Valeu Andre, mais uma aula de nossa história escondida.
Muito bom.
Evitou-se assim o desaparecimento de um importante marco na história do Rio de Janeiro.
Todas as minhas dúvidas sobre a história dos Arcos foram sanadas. Parabéns Andre pela aula.
Parabéns pelo texto, excelente!!!
Santa Teresa tem muita história interessante. Esperamos outras.
Como sempre, o Lacerda… Que falta faz homens como ele…
Parabens pela forma como vc elucida essas questoes. COmpartilhei esse assunto com outras pessoas tao curiosas como eu. Obrigado!
Espetacular texto, elucidativo.
Uma pergunta sobre a infiltração pelos trilhos dos bondes.
Não é o caso de manutenções periódicas, pois todo produto que se colocar tem vida útil e, no mínimo, resseca.
Existe a possibilidade técnica de criar saídas ou canalizações para as águas infiltrantes?
Apenas correção do nome e do email
Muito obrigado pela aula sobre as mudanças ocorridas nos Arcos da Lapa e sobre a história do aqueduto, afinal.
Trabalhei na CENTRAL (Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística), que herdou a operação dos bondes de Santa Teresa com o desaparecimento da CTC (Companhia de Transportes Coletivos), onde também atuei, antes. Entre 2012 e 2014, fiz parte da equipe que acompanhou a obra de reconstrução da via permanente do sistema (implantação dos novos trilhos), que incluiu, em sua primeira etapa, além de todo o restauro da base da Rua Joaquim Murtinho, a reforma do leito sobre os Arcos da Lapa, que estava sem tráfego desde o acidente de agosto de 2011. A impermeabilização, nessa ocasião, foi mais uma vez revista.
Sou mais importante do que isso Arcos da Lapa