Nossa aérea de hoje dá destaque a uma região extremamente modificada ao longo do séc. XX que é a região no entorno da Av. Pres. Vargas, principalmente após ao Campo de Santana.
Toda essa massa de prédios na parte central da foto foi desaparecendo com grandes ondas de demolições dos anos 40 até os anos 70 do século passado.
Inicialmente foi a construção da Pres. Vargas, que rasgou todo o quarteirão entre as Ruas Visconde de Itaúna e Sen. Eusébio, as varrendo do mapa, além de arrancar um grande naco do Campo de Santana, desfigurando o paisagismo de Glaziou, pois até lagos dos jardins sumiram. Além disso a abertura da Pres. Vargas destruiu a praça XI, que pode ser vista no topo da nossa foto.
A destruição das vias de da praça, causou já um desmembramento de uma comunidade bem ativa no local, que misturava descendentes de escravos e judeus ashkenazitas, originários da Europa Oriental, além da praça em si, teatros, cinemas, pontos de reunião, restaurantes e agremiações foram postos a baixo, fora que a comunidade ficou segmentada pela nova e larguíssima avenida, o que começou a causar um êxodo dos judeus para outras regiões da cidade, conforme iam melhorando de situação econômica, como Tijuca e Copacabana. Os imóveis começaram a entrar em decadência, principalmente os que ficavam entre a nova avenida e a Rua Gal Pedra, bem visível na parte direita da foto, tendo seu início bem ao lado da velha Central do Brasil.
Nos anos 50, a reorganização dos eixos de algumas ruas, como a Marquês de Pombal, criou uma nova onda de demolições, muito menor, é verdade, mas terrenos enormes ficaram vazios anos, alguns estão até hoje, o que ajudou a desarticular mais ainda a vida da comunidade que ali ainda existia.
Mas os anos 60 e 70 foram especialmente destrutivos para a região, primeiramente com a construção da Linha Lilás, que além de varrer do mapa o Bairro do Catumbi, vizinho à Cidade Nova, também provocou grande destruição da região, primeiro com a construção de viadutos e trevos e posteriormente com uma desastrada reforma urbana, que demoliu quarteirões inteiros para modificar as vias que existiam sem nada construir. Posteriormente a construção do Metrô, que colocou na região além de 3 estações, instalou sua sede, bem como oficinas e pátios de manobras, destruindo de vez todo o urbanismo que vemos na parte direita da foto, a Rua Gal. Pedra simplesmente deixou de existir.
Uma foto aérea da mesma região hoje, mostraria, uma região que embora ocupada com diversos equipamentos urbanos, é vazia, sem residências, comércio ou vida, com espaços enormes sub-utilizados ou até abandonados.
Na foto podemos ver à extrema esquerda a Casa da Moeda, com seu grande pátio central, recentemente restaurada abrigando hoje o Arquivo Nacional, na parte inferior esquerda temos com muitos detalhes a parte desaparecida do Campo de Santana, bem como o largo que existia na frente do velho Ministério da Guerra, onde hoje há o mausoléu de Caxias. No centro deste largo ficava a estátua de Benjamim Constant, que hoje está no centro do Campo de Santana.
Na parte inferior direita vemos um pedaço do velho Ministério da Guerra, bem como a velha estação da Central do Brasil com as suas gares.
Comments (17)
Imagine a velha Gare preservada, sendo utilizada até hoje.
Mas também, por que imaginar? As hordes populares sem a menor educação ou civilidade deste país grande e bobo, sequer iriam reparar, talvez pichar e destruior por “velharia”.
S E N S A C I O N A L, acredito que é a foto que todos esperavam a muito tempo,uma visão aerea rara, exibindo como era a região. PARABÉNS.
Na Praça XI existia uma vida noturna intensa, com bares famosos, cervejarias e a famosa gafieira “Kananga do Japão”.
PARABÉNS pelo seu trabalho, Guerreiro!
Tu é o melhor em fotos e história do RJ.
Mas uma dica…
Quando colocares citações de lugares, tido ruas e etc, coloque setas ou pontos colocridos ok?
Um abração e sucesso pra ti!
Fui…
Quer dizer que mesmo antes de ser formado o conceito de ecologia já cometíamos crimes ecológicos? Essa de tirar um pedaço do Campo de Santana eu não sabia. Só uma foto aérea para mostrar que é óbvio, pelo alinhamento com a Praça XI. Uma foto desta região, tirada hoje, tem a beleza e o frescor de uma boca banguela. Fotos aéreas antigas são o meu “fetiche”. A sugestão do jmascos parece exigente demais, mas seria bastante interessante. Parabéns.
Pronto, aprendi mais uma.
Obrigado, Dr. Decourt.
André, você podia escrever um livro: “História da Urbanização do Rio de Janeiro” com sub-título: ‘o que foi feito de bom e o que foi feito de ruim’…
O acervo que você tem permite isso!
Eu acho que a destruição do lugar começou ainda na década de 1850 com a construção da ferrovia. Ruas que já existiam, como a Marquês de Sapucaí e Carmo Neto (não sei se já tinham esses nomes) foram cortadas ao meio pela linha do trem, e sucessivas expansões da ferrovia foram distanciando cada vez mais o Santo Cristo do Catumbi.
A Presidente Vargas e reformas posteriores só vieram consolidar isso.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Muito bom isso aqui hoje !
Mais uma dobradinha de foto e texto que nao deixam duvidas. Grande Andre’.
E’ possivel datar essa foto com precisao?
Esta foto me ajudou a localizar o Fluminense Hotel no meu fotolog em http://fotolog.terra.com.br/bfg1:98 & 97 que foi destruido com a abertura da Avenida.
O efeito Johanesburgo…Lá foi a mesma coisa.Primeiro as demolições,acabando com prédios históricos e outras obras fantásticas de arquitetura.Depois os caras lotaram a cidade com o transporte ilegal das vans,camelôs espalhados pra todos os lados…É André,deu no que deu…Uma das cidades mais violentas do mundo.
Juro pra você que quando eu trabalhava lá em 1995 eu achava que a nossa cidade estava caminhando pro mesmo lado!
Três anos após, em 98,fomos assolados por oito anos da maldição do “desgoverno” do casal “mulequinho”(com U mesmo,de propósito)e vemos hoje a nossa cidade do jeito que está.
Guanabara Já!!!
Não quero que a “Cidade Maravilhosa” vire uma Johanesburgo!
Chega de populismo!
Otima foto, não havia observado até agora que o prédio da central mostrado em diversas fotos era em diagonal com a Avenida Presidente Vargas originalmente. Nessa ficou bem registrada a geografia do local.
A propósito, o amigo sulista acima pede pra marcar fotos com setas? Isso seria um absurdo, ninguém faz, pois tiraria a realidade e charme da foto postada.
http://www.flickr.com/photos/andre_so_rio/