Desde os anos 10 do séc. XX os moradores de Copacabana requeriam às autoridades municipais a instalação de um mercado público, igual ao instalado em vários bairros e os quais muitos já apareceram nos flog’s amigos sobre o Rio de ontem.
Mas nunca foram ouvidos por essa sua reivindicação, Copacabana foi crescendo e comprando seus gêneros alimentícios, nos armazéns, secos e molhados, padarias, feiras livres, açougues.
Mas nos anos 40 um novo tipo de estabelecimentos surgiu no bairro, os “mercadinhos” na realidade grandes lojas, subdivididas em boxes, onde o consumidor em um só lugar poderia se abastecer, muito antes do surgimento do supermercado, sem dúvida os mais emblemáticos desses estabelecimentos foram os Mercadinhos Amarelo e Azul. Mas muitos se esquecem do maior deles, localizado na Rua Siqueira Campos.
Curiosamente o seu lugar, era um dos sugeridos pelo jornal O Copacabana em 1912, pois era a época o ponto mais central do bairro, perto da principal estação de bondes, mas o mercado aqui mostrado não era público, mas sim um estabelecimentos privado.
No grande galpão que se estendia por meio quarteirão à dentro entre as ruas Siqueira Campos e Figueiredo de Magalhães; aproveitando os profundos lotes dessa parte do bairro resultantes de as vias, notadamente a Siqueira Campos, serem as primeiras do bairro e ainda possuírem muito do urbanismo do séc. XIX, a Figueiredo Magalhães, foi sendo aberta em diferentes épocas, sendo o último trecho somente nos anos 60, mas uma pequena parte surgiu no séc. XIX, junto com as ruas Silva Castro e Edmundo Lins, para facilitar a comunicação do sanatório do Dr. Figueiredo Magalhães com a Rua do Barroso, hoje Siqueira Campos, e também com a praia onde eram ministrados banhos terapêuticos; foi instalado o mercado.
Segundo a revista Beira Mar, e o livro sobre Copacabana da João Fortes e editora Index, o mercado possuía interpretes estrangeiros, e recebia diariamente, inclusive por via aérea produtos de todas as partes do mundo, sem dúvida algo muito sofisticado para a época e que indicava que o bairro possuía um mercado consumidor diferenciado e que demandava tais produtos.
Nos anos 60, por motivo que desconheço o mercado foi fechado, talvez com a concorrência dos supermercados, o primeiro do Brasil, abriu a poucos metros do velho mercadinho, na esquina das ruas Siqueira Campos e Silva Castro. E foi substituído pelo Cine Flórida, reforçando a tradição deste trecho do bairro de possuir cinemas, sem dúvida por causa dos lotes profundos. O mercadinho, como seu sucessor o Cine Flórida se encontrava com outros cinemas do bairro o Ritz (demolido na época) e o Condor, desaparecido nos anos 90 por dentro do quarteirão.
A experiência cinematográfica do endereço foi breve, pois já nos anos 70 a rede Casas da Banha, abriu o seu supermercado 24 horas no lugar e com a quebra da rede o ponto foi substituído pelo grupo Mundial, que tem no local um dos mais infectos e rentáveis supermercados de sua rede. Imundo, mal cheiroso, desagradável, mas contraditoriamente sempre cheio. E cheio de idosas, que certamente perderam seu padrão, não só monetário, mas como consumidoras, pois certamente muitas delas compraram no sofisticado “mercadinho de Copacabana” que existiu no mesmo ponto no passado, e que guarda seus vestígios na estrutura metálica do teto abobadado.
Comments (20)
Não fazia idéia dessa história. Achava que o Cine Flórida era mais antigo. Mas a tal estrutura, é a mesma do antigo mercado, ou apenas foi construída no mesmo estilo?
Então aquele Pão de Açúcar da Siqueira Campos é o primeiro supermercado do Brasil? Quando foi inaugurado? Já surgiu como Disco ou houve algum outro antes?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Rafalel foi inaugurado no final dos anos 50, acho que em 1958 e já surgiu como Disco.
Já a estrutura do telhado do Mundial permanece a mesma até hoje, acho que até algumas pilastras que aparecem nessa fachada ainda estão lá.
O Cinema Flórida funcionou na Siqueira Campos nº 69/71 de 1959 a 1969 – aí assisti ao fabuloso “Duelo de Titãs” e “Guerra e Paz”.
Quando foi feito o cinema, a fachada mudou muito, com um grande cartaz na frente, onde era afixado o título do filme.
Além dos mercadinhos Azul (ao lado do Cinema Copacabana e em frente à Rua Dias da Rocha), havia os seus “irmãos”: o Amarelo (entre a Rua Santa Clara e a Rua Figueiredo Magalhães) e o Verde (mais à frente, todos na Av. N. S. de Copacabana).
Eu me lembro desta fachada…
Tu é velha , hein tia Milu!!
Fui ontem a casa de meu pai, de 83 anos e ficamos viajando no tempo e nas lembranças dele pelo seu flog, obrigada pelo bons momentos que passei com meu pai, e este maravilhoso flog.
Heloisa.
Esses arcos da sobreloja ainda existem, escondidos atrás da fachada falsa do CB/Mundial. Anos atrás, houve um princípio de incêndio no CB e as ripas de alumínio da fachada falsa tiveram que ser trocadas, deixando à mostra a arquitetura original.
Sobre o Disco da Siqueira com Silva Castro, tenho quase certeza que é de 1954. O primeiro supermercado do Brasil – mais um pioneirismo de Copa.
P.S.: Na década de 60, funcionavam na sobreloja deste mercadinho uma sinuca e um salão de barbeiro (o mesmo Internacional que hoje está na Domingos Ferreira quase Siqueira)
As pilastras da loja estão examente no mesmo lugar dessa foto, acabei de comprovar, inclusive as duas centrais recuadas
Rafael o primeiro Supermercado Disco surgiu no inicio da década de 60 na Rua Volutarios da Pátria.
Claude, o primeiro Disco foi na Siqueira mesmo, a loja inclusive foi premiada pelo IAB como um projeto revolucionário na época, como várias outras lojas do Disco, onde hoje é o Zona Sul da praça Gal Osório também ganhou um prêmio anos depois pelas soluções da fachada
Grande informação. Obrigado mestre.
O Mundial fica cheio porque dizem que é mais barato que os outros… atitude fruto da classe média e aposentados com renda achatada nas últimas décadas… um perfil bem diferente dos frequentadores da foto descrita pelo André.
Lembro do incêndio falado pelo Jason, pois na hora estávamos no antigo consultório de minha mãe e pai que ficava no décimo andar do CCC, Da janela viamos tudo!
:-))
Andresíssimo, boa noite.
Minha mãe me falava de um Mercadinho São Nicolau na Teixeira de Melo e do Mercadinho Santo Antônio na Visconde de Pirajá ao lado da Sorveteria Moraes ou Sorveteria das Crianças.
(posso ter trocado os nomes)
Seriam esses os mercados públicos que Copacabana tanto queria ver instalados lá também ?
Segundo minha mãe eram muito bons. Mas segundo o velho Arnaldo, meu pai, eles fediam a galinheiro e quem pisasse naquele lajedo descalço, no mínimo, adquiria micose.
Confesso que quando olhei a foto, de relance, achei que era a sede do Vasco em São Januário. Pensei: “-Pronto, o André quis me homenagear.”
Depois vi que estava errado mas, que diabo, o ramo de secos e molhados tem muito a ver com o sangue português que corre-me nas veias.
Para variar aprendi muito lendo o teu texto. Fico imaginado o que perdi nesses meses que não venho a esse bar.
Se a fachada ainda existe por trás do letreiro, podemos torcer para que um dia seja feita uma restauração nos moldes da que foi feita no Cine Palácio e da antiga Ultralar (hoje Ponto Frio) na Uruguaiana.
Aliás eu tenho a impressão que a Americanas da Uruguaiana também chegou a ser coberta por uma fachada falsa, alguém confirma isso?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Encontrei um referência que dá 1952 como inauguração do primeiro supermercado Disco (Distribuidora de Comestíveis), do qual era sócio o poeta Augusto Frederico Schmidt. Li, aliás, que ele também foi um dos fundadores da Panair do Brasil.
Também aprendi um bocado, André. Não fazia a menor idéia que esta estrutura tinha tanta história.
O Disco No 2, na Voluntários, tinha a característica de ter um lago com peixes “de verdade”. Uma idéia maravilhosa para distrair as crianças (como eu) enquanto as mães e tias faziam compras.
Sim, lembro-me de ter assistido o “Guerra e Paz” lá. Vendiam caldo de cana a litro (enchia uma leiteira de alumínio). Se não me engano, na parte de cima tinha local para jogar bilhar. O nome desse mercadinho era Balalaika ?
O mercadinho amarelo sobreviveu e continua lá para quem quiser resgatar um pouco as lembranças do passado, pertenceu ao meu avô. como faço para compartilhar a matéria no meu Facebook?? abraço
Regina von Arx
Eu cheguei a entrar diversas vezes neste mercadinho, quando saí do Palacete Veiga no Lido e fui morar na Toneleiros 218, e assisti também a inauguração do Supermercado Disco que foi em1955.
Me lembro como se fosse hoje a inauguração do Disco.Levaram os holofotes do exército e como eu era tão pequeno, que não alcançava a varanda do apartamento que morava, tive que me contentarcom o clarão dos holofotes embora morasse no 7° andar.
Prezados amigos, não obstante os magnificos comentários sobre o supermercado, gostaria, visando resgate historico familiar, de indagar a respeito de uma sapataria existente quase em frente ao supermercado, que fora demolida para construção de parte da Caixa Economica. Em sua faixada existia o seguinte nome SCHATARAMMACHIA. Quem pode ajudar ? Grato Sds Júlio .:
SUPERMERCADO EM BOTAFOGO MUDOU O NOME (Parte 1 – 2012) – por Fernando Moura Peixoto
Mudou de nome a filial 1629 do supermercado Extra de Botafogo, situada na Rua Voluntários da Pátria, nº 311, inaugurada em 2010. Depois de reformas, trocou a bandeira e passou a se chamar Pão de Açúcar, integrando-se ao grupo do qual faz parte. O espaço abrigou anteriormente outros supermercados, dentre eles, Disco, Charque, Paes Mendonça e Sendas.
O pioneiro dos supermercados no Brasil, o DISCO, teve como um de seus criadores o carioca Augusto Frederico Schmidt (1906 – 1965), empresário, poeta, escritor, editor, jornalista e diplomata, autor de inúmeros discursos proferidos pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902 – 1976), que governou o país entre 1956 e 1961. Amigo e assessor de JK, Schmidt idealizou o slogan do seu plano de ação, o famoso “50 Anos em Cinco”.
Em meados dos anos 1950 foi criada a empresa DISCO, Distribuidora de Comestíveis S.A., de autosserviço em condições práticas de higiene, que teve a primeira loja aberta na Rua Siqueira Campos, em 11 de agosto de 1956, em Copacabana, recebendo premiação do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, pelo seu projeto revolucionário. Está em atividade até hoje como o supermercado Pão de Açúcar.
Em 2012 registrei funcionários, seguranças, entregadores e pessoal da limpeza no democrático Extra Voluntários. Em clima descontraído, no ambiente de labor, e, em sua maioria, nos momentos de descanso e lazer, a espontaneidade dos fotografados revelava um clima sadio de amizade, coleguismo e satisfação. Foram feitas fotos também no estacionamento da empresa, e em estabelecimentos próximos (lojas de fast-food, eletrodomésticos e polo de moda). Flagrei até uma cervejinha noturna, numa escapada pós-expediente, para relaxar mente e corpo. Tudo serviu de ensaio a um trabalho mais consistente e profundo que realizei no ano seguinte, em 2013.
Este vídeo é dedicado a Augusto Frederico Schmidt, conhecido como “o gordinho sinistro”, um dos fundadores da Panair do Brasil, e, sobretudo, um homem de visão. Nascido no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, educado na Suíça, viveu um tempo em São Paulo, foi morador ilustre de Copacabana – um cidadão do mundo, com certeza, pode-se afirmar. Intelectual, polemista, lobista e político, em 1942 articulou a fusão entre os clubes de remo (o qual presidiu de 1941 a 42) e o de futebol do hoje Botafogo de Futebol e Regatas, o glorioso Alvinegro da Estrela Solitária.
São de Augusto Frederico Schmidt os versos finais, extraídos de seu belo poema “A Partida”, de 1930:
“Quero morrer esta noite –
As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.
E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais volverei
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.”
O Trio Caiowás (piano e arranjos, Cido Bianchi; baixo, Arismar do Espírito Santo; e bateria, Albino Infantozzi) interpreta a trilha sonora, clássica e nostálgica: “Days of Wine and Roses” (H. Mancini/J. Mercer), “As Time Goes By” (H. Hupfeld), “I Left My Heart in San Francisco” (G. Cory/D. Cross), “Somewhere in Time” (J. Barry), e “Sabor A Mí” (A. Carrillo).
FERNANDO MOURA PEIXOTO (ABI 0952-C)
Supermercado em Botafogo Mudou o Nome – Parte 1 (2012)
Meu vídeo: http://youtu.be/3_n2yjPj6cg
SUPERMERCADO EM BOTAFOGO MUDOU O NOME (Parte 2 – 2013) por Fernando Moura Peixoto
“Mais de quarenta anos depois que eu tiver desaparecido quem se lembrará de que passei por este mundo? Quem, abrindo os olhos da memória sobre minha ausência, me reverá?”
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT (1906 – 1965)
A ideia original era retratar o dia a dia de um grande e movimentado supermercado da zona sul do Rio de Janeiro. Mais exatamente o Extra da Rua Voluntários da Pátria, 311, no bairro de Botafogo, em cuja inauguração, ocorrida em 2010, estive presente. Fui cliente dos outros estabelecimentos que o precederam naquele perímetro – Disco, Charque, Paes Mendonça e Sendas.
Não se imaginava que, transcorridos quatro anos, já fosse sofrer reformas substanciais de melhorias e “trocar a bandeira” – jargão comercial que significa mudar o nome – para Pão de Açúcar, outro gigante de sua cadeia no ramo de venda de mercadorias.
As fotos foram efetuadas em 2013 e cabe aqui um agradecimento especial à encarregada da frente de loja do Extra, Maria Lúcia Andrade (fã de fotografia, como eu), a quem dedico este trabalho, pelo apoio e compreensão que recebi.
Deve-se a criação dos supermercados no Brasil graças à iniciativa pioneira do intelectual e empreendedor carioca Augusto Frederico Schmidt (1906 – 1965) – seu cinquentenário de falecimento ocorreu em 8 de fevereiro de 2015, quase sem registro na mídia. Em 11 de agosto de 1956, um sábado, era aberto o pioneiro DISCO (Distribuidora de Comestíveis S.A.), em Copacabana, na Rua Siqueira Campos, no lugar onde hoje funciona o Pão de Açúcar.
O jornal CORREIO DA MANHÃ, em sua edição de domingo, 12 de agosto de 1956, sob o título INAUGURADO UM SUPERMERCADO EM COPACABANA, assim noticiou o fato:
“Inaugurou-se ontem, na Rua Siqueira Campos, nº 89, o primeiro de uma série de supermercados que vão ser instalados, pela empresa ‘Disco’ S.A., em diferentes pontos da cidade.”
“O mais exigente consumidor poderá servir-se a seu gosto e segundo seu poder aquisitivo de cerca de quatro mil artigos domésticos e gêneros alimentícios nacionais e importados. Tudo o que os mais supridos armazéns e quitandas possam ter, pode ser encontrado no supermercado da ‘Disco’, com a diferença das condições práticas de higiene. E tudo poderá ser adquirido sem atropelos, podendo o comprador examinar minuciosamente a mercadoria já pesada, limpa de impurezas, empacotadas ou ensacadas e com os preços afixados nos invólucros. Compareceu à inauguração o prefeito Negrão de Lima.”
Os versos finais, VAZIO (“Pássaro Cego”, 1930), são de autoria de Augusto Frederico Schmidt (1906 – 1965), “o gordinho sinistro”, um homem de bastidores, um visionário, cosmopolita, o poeta da Estrela Solitária, integrante da segunda geração do Modernismo:
“A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.
A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso matar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar.”
Com a habitual categoria, o TRIO CAIOWÁS interpreta a trilha sonora, repleta de clássicos da MPB: “Anos Dourados” (T. Jobim/C. Buarque), “As Rosas Não Falam” (Cartola), “Carinhoso” (Pixinguinha/João de Barro), “Começaria Tudo Outra Vez” (Gonzaguinha), “Corcovado” (T. Jobim/C. Buarque) e “Travessia” (M. Nascimento/F. Brant).
Supermercado em Botafogo Mudou o Nome – Parte 2 (2013)
Meu vídeo: http://youtu.be/zKf_hAy5vdE
Adorei a reportagem. O meu tio avô era um dos sócios do mercadinho de Copacabana, dono do açougue Casa Puga, na Barata Ribeiro. A vida toda cresci ouvindo falar no mercadinho. Mas não sabia o nome, graças a sua reportagem ,conheci o famoso mercadinho. Acima do mercadinho tinha uma sala de bilhar. Meu tio avô era um senhor muito simpático João Puga. O açougue acabou porque meus outros tios foram para Portugal e no lugar do açougue , o tio João abriu uma lotérica. Infelizmente em 1980, faleceu vítima de câncer.