Mercadinho de Copacabana, anos 50

andredecourts foton från 2007-01-10

Mercadinho de Copacabana

Desde os anos 10 do séc. XX os moradores de Copacabana requeriam às autoridades municipais a instalação de um mercado público, igual ao instalado em vários bairros e os quais muitos já apareceram nos flog’s amigos sobre o Rio de ontem.
Mas nunca foram ouvidos por essa sua reivindicação, Copacabana foi crescendo e comprando seus gêneros alimentícios, nos armazéns, secos e molhados, padarias, feiras livres, açougues.
Mas nos anos 40 um novo tipo de estabelecimentos surgiu no bairro, os “mercadinhos” na realidade grandes lojas, subdivididas em boxes, onde o consumidor em um só lugar poderia se abastecer, muito antes do surgimento do supermercado, sem dúvida os mais emblemáticos desses estabelecimentos foram os Mercadinhos Amarelo e Azul. Mas muitos se esquecem do maior deles, localizado na Rua Siqueira Campos.
Curiosamente o seu lugar, era um dos sugeridos pelo jornal O Copacabana em 1912, pois era a época o ponto mais central do bairro, perto da principal estação de bondes, mas o mercado aqui mostrado não era público, mas sim um estabelecimentos privado.
No grande galpão que se estendia por meio quarteirão à dentro entre as ruas Siqueira Campos e Figueiredo de Magalhães; aproveitando os profundos lotes dessa parte do bairro resultantes de as vias, notadamente a Siqueira Campos, serem as primeiras do bairro e ainda possuírem muito do urbanismo do séc. XIX, a Figueiredo Magalhães, foi sendo aberta em diferentes épocas, sendo o último trecho somente nos anos 60, mas uma pequena parte surgiu no séc. XIX, junto com as ruas Silva Castro e Edmundo Lins, para facilitar a comunicação do sanatório do Dr. Figueiredo Magalhães com a Rua do Barroso, hoje Siqueira Campos, e também com a praia onde eram ministrados banhos terapêuticos; foi instalado o mercado.
Segundo a revista Beira Mar, e o livro sobre Copacabana da João Fortes e editora Index, o mercado possuía interpretes estrangeiros, e recebia diariamente, inclusive por via aérea produtos de todas as partes do mundo, sem dúvida algo muito sofisticado para a época e que indicava que o bairro possuía um mercado consumidor diferenciado e que demandava tais produtos.
Nos anos 60, por motivo que desconheço o mercado foi fechado, talvez com a concorrência dos supermercados, o primeiro do Brasil, abriu a poucos metros do velho mercadinho, na esquina das ruas Siqueira Campos e Silva Castro. E foi substituído pelo Cine Flórida, reforçando a tradição deste trecho do bairro de possuir cinemas, sem dúvida por causa dos lotes profundos. O mercadinho, como seu sucessor o Cine Flórida se encontrava com outros cinemas do bairro o Ritz (demolido na época) e o Condor, desaparecido nos anos 90 por dentro do quarteirão.
A experiência cinematográfica do endereço foi breve, pois já nos anos 70 a rede Casas da Banha, abriu o seu supermercado 24 horas no lugar e com a quebra da rede o ponto foi substituído pelo grupo Mundial, que tem no local um dos mais infectos e rentáveis supermercados de sua rede. Imundo, mal cheiroso, desagradável, mas contraditoriamente sempre cheio. E cheio de idosas, que certamente perderam seu padrão, não só monetário, mas como consumidoras, pois certamente muitas delas compraram no sofisticado “mercadinho de Copacabana” que existiu no mesmo ponto no passado, e que guarda seus vestígios na estrutura metálica do teto abobadado.

Comments (20)

Rafael Netto 2007-01-10 05:59 …
Não fazia idéia dessa história. Achava que o Cine Flórida era mais antigo. Mas a tal estrutura, é a mesma do antigo mercado, ou apenas foi construída no mesmo estilo?
Então aquele Pão de Açúcar da Siqueira Campos é o primeiro supermercado do Brasil? Quando foi inaugurado? Já surgiu como Disco ou houve algum outro antes?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
andredecourt 2007-01-10 06:01 …
Rafalel foi inaugurado no final dos anos 50, acho que em 1958 e já surgiu como Disco.
Já a estrutura do telhado do Mundial permanece a mesma até hoje, acho que até algumas pilastras que aparecem nessa fachada ainda estão lá.
Luiz D’ 2007-01-10 07:11 …
O Cinema Flórida funcionou na Siqueira Campos nº 69/71 de 1959 a 1969 – aí assisti ao fabuloso “Duelo de Titãs” e “Guerra e Paz”.
Quando foi feito o cinema, a fachada mudou muito, com um grande cartaz na frente, onde era afixado o título do filme.
Além dos mercadinhos Azul (ao lado do Cinema Copacabana e em frente à Rua Dias da Rocha), havia os seus “irmãos”: o Amarelo (entre a Rua Santa Clara e a Rua Figueiredo Magalhães) e o Verde (mais à frente, todos na Av. N. S. de Copacabana).
Milu 2007-01-10 08:24 …
Eu me lembro desta fachada…
luvito 2007-01-10 08:30 …
Tu é velha , hein tia Milu!!
alo_helo 2007-01-10 09:02 …
Fui ontem a casa de meu pai, de 83 anos e ficamos viajando no tempo e nas lembranças dele pelo seu flog, obrigada pelo bons momentos que passei com meu pai, e este maravilhoso flog.
Heloisa.
Jason 2007-01-10 09:31 …
Esses arcos da sobreloja ainda existem, escondidos atrás da fachada falsa do CB/Mundial. Anos atrás, houve um princípio de incêndio no CB e as ripas de alumínio da fachada falsa tiveram que ser trocadas, deixando à mostra a arquitetura original.
Sobre o Disco da Siqueira com Silva Castro, tenho quase certeza que é de 1954. O primeiro supermercado do Brasil – mais um pioneirismo de Copa.
Jason 2007-01-10 09:32 …
P.S.: Na década de 60, funcionavam na sobreloja deste mercadinho uma sinuca e um salão de barbeiro (o mesmo Internacional que hoje está na Domingos Ferreira quase Siqueira)
andredecourt 2007-01-10 10:26 …
As pilastras da loja estão examente no mesmo lugar dessa foto, acabei de comprovar, inclusive as duas centrais recuadas
clauderio 2007-01-10 11:13 …
Rafael o primeiro Supermercado Disco surgiu no inicio da década de 60 na Rua Volutarios da Pátria.
andredecourt 2007-01-10 11:26 …
Claude, o primeiro Disco foi na Siqueira mesmo, a loja inclusive foi premiada pelo IAB como um projeto revolucionário na época, como várias outras lojas do Disco, onde hoje é o Zona Sul da praça Gal Osório também ganhou um prêmio anos depois pelas soluções da fachada
rock_rj 2007-01-10 11:57 …
Fui umas duas ou tres vezes na sinuca que o Jason falou, estava imaginando se seria aí, até ler o comentário dele…
caucaia1 2007-01-10 11:59 …
Grande informação. Obrigado mestre.
Derani 2007-01-10 12:26 …
O Mundial fica cheio porque dizem que é mais barato que os outros… atitude fruto da classe média e aposentados com renda achatada nas últimas décadas… um perfil bem diferente dos frequentadores da foto descrita pelo André.
edubt 2007-01-10 15:39 …
Lembro do incêndio falado pelo Jason, pois na hora estávamos no antigo consultório de minha mãe e pai que ficava no décimo andar do CCC, Da janela viamos tudo!
:-))
AG 2007-01-10 17:23 …
Andresíssimo, boa noite.
Minha mãe me falava de um Mercadinho São Nicolau na Teixeira de Melo e do Mercadinho Santo Antônio na Visconde de Pirajá ao lado da Sorveteria Moraes ou Sorveteria das Crianças.
(posso ter trocado os nomes)
Seriam esses os mercados públicos que Copacabana tanto queria ver instalados lá também ?
Segundo minha mãe eram muito bons. Mas segundo o velho Arnaldo, meu pai, eles fediam a galinheiro e quem pisasse naquele lajedo descalço, no mínimo, adquiria micose.
Confesso que quando olhei a foto, de relance, achei que era a sede do Vasco em São Januário. Pensei: “-Pronto, o André quis me homenagear.”
Depois vi que estava errado mas, que diabo, o ramo de secos e molhados tem muito a ver com o sangue português que corre-me nas veias.
Para variar aprendi muito lendo o teu texto. Fico imaginado o que perdi nesses meses que não venho a esse bar.
Rafael Netto 2007-01-10 17:31 …
Se a fachada ainda existe por trás do letreiro, podemos torcer para que um dia seja feita uma restauração nos moldes da que foi feita no Cine Palácio e da antiga Ultralar (hoje Ponto Frio) na Uruguaiana.
Aliás eu tenho a impressão que a Americanas da Uruguaiana também chegou a ser coberta por uma fachada falsa, alguém confirma isso?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
FlavioM 2007-01-11 08:45 …
Encontrei um referência que dá 1952 como inauguração do primeiro supermercado Disco (Distribuidora de Comestíveis), do qual era sócio o poeta Augusto Frederico Schmidt. Li, aliás, que ele também foi um dos fundadores da Panair do Brasil.
Também aprendi um bocado, André. Não fazia a menor idéia que esta estrutura tinha tanta história.
O Disco No 2, na Voluntários, tinha a característica de ter um lago com peixes “de verdade”. Uma idéia maravilhosa para distrair as crianças (como eu) enquanto as mães e tias faziam compras.
Paulo 2007-04-01 20:33 …
Sim, lembro-me de ter assistido o “Guerra e Paz” lá. Vendiam caldo de cana a litro (enchia uma leiteira de alumínio). Se não me engano, na parte de cima tinha local para jogar bilhar. O nome desse mercadinho era Balalaika ?