Cinco de Julho

andredecourt's foto van 5-7-06

Cinco de Julho

Hoje é a data de um importante fato histórico para a história republicana do país, a revolta do Forte de Copacabana
A revolta da unidade militar foi o ápice de uma crise entre o governo de Epitácio Pessoa e setores militares, insatisfeitos, primeiramente com a nomeação de Pandiá Calógeras para o Ministério da Guerra, depois com a divulgação pela imprensa de supostas cartas, onde o candidato oficial Artur Bernardes ofendia o exército e o velho Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Clube Militar.
Apesar das críticas Bernardes é eleito, com posse marcada para Novembro de 1922, a crise explodiu quando Epitácio Pessoa ainda no poder interveio na sucessão estadual de Pernambuco, sofrendo críticas virulentas por parte de Hermes da Fonseca, como retaliação o presidente mandou prender o velho marechal e fechou o Clube Militar no dia 2 de Julho, acendendo o rastilho de pólvora que foi só se pagar definitivamente em 1985.
Na madrugada de 5 de Julho, várias unidades militares se insurgiram contra o poder central em todo o Brasil, na capital, diante da recusa da oficialidade mais graduada em aderir ao levante, os revoltosos foram tenentes, jovens oriundos das classes médias urbanas que estavam insatisfeitos com os rumos políticos da república velha, marcada pela Política dos Governadores e das alianças do Café com Leite.
No Distrito Federal várias unidades se rebelaram, podendo ser enumeradas como as mais potentes as duas unidades de Copacabana, o Forte do Vigia e o de Copacabana, ambos recentemente modernizados e com armamentos de última geração, tendo o primeiro obuseiros que bloqueavam a entrada da barra, e o segundo com potentes canhões de 305mm que podiam atingir com precisão até as Ilhas Tijucas no litoral da Barra da Tijuca.
Os revoltosos souberam utilizar o poder bélico em suas mãos, e bombardearam a cidade, causando inúmeros danos na região da Providência, obrigando o abandono do prédio do Ministério da Guerra que sofreu pesadas avarias.
A unidade foi implacavelmente bombardeada por navios da Marinha, mas as grossas paredes, e a moderna estrutura bélica impediram o silêncio de seus canhões. Mas o movimento foi desarticulado rapidamente no resto do país, bem como no DF. Negando a rendição os tenentes que estavam no comando da unidade, na manhã do dia 6 de Julho dispensaram os soldados, e partiram a pé, pela a Av. Atlântica, após retalharem e dividirem uma bandeira brasileira entre si, indo enfrentar as tropas legalistas que marchavam para dentro do bairro de Copacabana.
O encontro se deu no quarteirão entre as ruas Siqueira Campos e Hilário de Goveia, tendo os legalistas se utilizado de uma servidão, ou pátio do Externato Pitanga, que atravessava o quarteirão bem na sua metade.
Houve intenso tiroteio, tendo dos 18 revoltosos, talvez 19 com a adesão do civil Otávio Correa, dizimados só sobrevivendo os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Após 52 anos do ocorrido, o governo do Estado da Guanabara, inaugurava na recém duplicada Av. Atlântica uma estátua comemorativa ao evento, que culminou diretamente com Revolução de 1930, e continuou repercutindo em todos os outros levantes militares até o golpe de 1964.
Na foto vemos a solenidade de inauguração do monumento, que está até hoje no mesmo lugar, embora historicamente o lugar mais correto seria dentro do posto de gasolina fronteiro.

Comments (29)

jban 5-7-06 9:07 …
Uma aula de história. Que dizer que a culpa de tudo foi do Arthur Bernardes ??? Miserável…
ana lucia 5-7-06 9:13 …
Excelente texto e ótima homenagem, no dia de hoje.
Rafael Netto 5-7-06 9:30 …
Ah, então a estátua foi feita depois do alargamento da Atlântica.
Mas tem uma conta errada aí. Se foi inaugurada 54 anos depois da revolta, isso seria em julho de 1976, portanto não pode ter sido pelo Estado da Guanabara, que já havia deixado de existir mais de um ano antes.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
andredecourt 5-7-06 9:36 …
Ops foi em 74, portanto 52 anos após
Lefla 5-7-06 10:08 …
Tempos em que os militares não podiam ser ofendidos, se julgavam o esteio moral da nação. Nunca acreditei na ideologia deles, nem nessa participação excessiva sobre o poder civil, que os arma para proteger suas decisões e não para servir de Poder Moderador. Mas, o velho Marechal deve ter provado de seu próprio veneno, ao proclamar a Ditadura Militar de 1889. Também, nessa falta de decoro total em que nos encontramos hoje, nem mesmo as Forças Armadas, tão zelosas de suas reputações, podem dizer mais nada: são roubadas à luz do dia por molecotes das favelas ao redor de seus quartéis… Provam de seu próprio veneno tb, responsáveis que foram, por apoio ou ação, por quase todos os desmandos que este País viveu nos últimos cento e poucos anos.
Waldenir 5-7-06 10:26 …
Legal, André, eu nunca havia visto uma foto da inauguração.
A “pose” da estátua é bastante romântica, na prática,eles se dispersaram para responder ao fogo,e a maioria parece que morreu na areia, na época bem mais próxima das construções.
Segundo li, o primeiro a morrer foi o civil Otávio Correia,possivelmente por não ter formação militar e não saber exatamente o que fazer,imagino.
Rafael Netto 5-7-06 10:52 …
Sempre que eu lembro nos 18 do Forte eu fico pensando o que é que eles queriam ao enfrentar de peito aberto uma tropa muito maior que eles. A vitória era impossível, a morte era quase inevitável. Queriam mostrar que seu idealismo valia mais que suas vidas?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Marcelo Almirante 5-7-06 10:53 …
Essa coisa que chama de república já começou com um golpe de estado, em 1889.
O que manda são os interesses econômicos e de controle da população, sobrando a desculpa dos “interesses máximos da nação.”
Brincadeira de garoto.
Wagner Bahia 5-7-06 11:16 …
Aula de história do Brasil.
Ao povo, as batatas…
Derani 5-7-06 11:30 …
Parabéns André, belo texto.
Estou plenamente de acordo com o André e o Marcelo Almirante. Houve uma insubordinação crônica dos militares que começou com a Proclamação da República e terminou com o Golpe de 64. Antes os militares eram, como deve ser, completamente subordinados ao poder civil e atendendo aos interesses do país. Depois passaram a defender seus próprios interesses, inclusive o de se acharem os mais capazes de dirigir o destino da Nação. Louvo e admiro a coragem desses 18 rapazes, mas infelizmente estavam completamente equivocados.
Osnil Ramos 5-7-06 12:10 …
Caro amigo André,
Há muito que tenho curiosidade em te perguntar: 1) qual a razão de todos (ou quase todos) os prédios da Av. P. Vargas, em ambos os lados, estarem apoiados em grandes pilotis? 2) Como se chamavam as ruas, ao longo do trecho que deu origem à Av. Pres. Vargas? Contudo, lendo o poste de ontem, acho que me clareou um pouco a idéias que eu fazia. Todavia, eu gostaria de saber como eram os nomes das longas ruas que deram origem a Av. P. Vargas, no trecho compreendido entre o Campo de Santana (Pça da república) e a Praça onze, Conforme mostrado no post do amigo Derani em seu Rio de Fotos no dia 28/06/06. Desde já agradeço pela atenção e a qualquer outro amigo que possa responder.
Um Forte abraço,
Osnil Ramos
jason_1900 5-7-06 12:32 …
Cara, o incrível é que eu lembro do dia da inauguração dessa estátua. Eu voltava da praia com minha mãe, em um dia ensolarado… Fiquei muito curioso com aquela estátua coberta (por um pano ou plástico preto).
andredecourt 5-7-06 12:55 …
Osnil, vamos lá
1) os pilotis daquele tipo são chamados de Galerias Agachianas, por terem sido criadas na época do plano Agache, se você reparar bem elas se espalham por várias ruas do Centro, Glória e Catete, em alguns lugares o programa foi praticamete todo realizado, como em quarteirões da Av. Pres. Vargas, Nilo Peçanha e Alm. Barroso, em utras ruas poucos prédios foram construídos após a criação dessa PA, vemos exemplos em várias ruas como a do Carmo, Quitanda, Buenos Aires, onde prédios isolados ficaram recuados com suas galerias.
andredecourt 5-7-06 12:58 …
2) as ruas eram a Gal Câmara e São Pedro, até o Campo de Santana, após elas continuavam alinhadas mas mudavam de nome até a praça XI eram as ruas Visconde de Itaúna e Senador Euzébio
AG 5-7-06 13:22 …
Andresíssimo,
eu, com todo o respeito que me merecem os heróis, não acho outro nome para dar a esses moços (pobres moços) que não seja o de “Os Babacas do Forte”.
Como é que pode ?
Os caras já haviam feito a loucura de atirar contra a própria cidade matando e ferindo civis que não tinha pitombas a ver com a arenga entre Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa; dois oportunistas reconhecidos.
Pois além desta demonstração de militar incompetente, irresponsável e bravateiro, saem os gatos pingados, peito, aberto, desprotegidos, sem nenhuma tática, plenejamento, em terreno descampado.
E lá foram eles; tentado provar o que ?
Sinceramente, uma atitude que fica entre a ingenuidade e a burrice que só a morte poderia ser a recompensa.
Já disse aqui, que de quem mais tenho mais compaixão é do pobre outro civil, que se juntou ao bando, e morreu sem jamais lhe sabermos o nome.
Está lá na placa da estátua o nome dos mortos e, entre eles, a lembrança patética; deconhecido ou anônimo, não lembro bem.
Como a estupidez é melancólica.
andredecourt 5-7-06 13:28 …
Alvinho, deviam acreditar eles que seriam fuzilados por insubordinação, e resolveram virar mártires.
Só que os feridos, gravemente diga-se de passagem, foram soltos logo, por um Habeas Corpus, junto ao STM, o que indicava que o exército já estava com a semente golpista plantadinha, esperando só a hora certa de colher os frutos.
Os dois Siqueira Campos e Eduardo Gomes, continuaram como efervecentes figuras golpistas, o primeiro faleceu precocemtne as vésperas do golpe de 30 em uma acidente aéreo e o segundo participou alegremente de todas as insubordinações militares até 1964, morrendo em 1981 como patrono da aeronáutica, a qual ajudou a criar durante a Segunda Guerra
Lefla 5-7-06 13:51 …
O Brigadeiro era castrado. Acidente de guerra, dizem. Eu tenho cá outras teorias. Mas são apenas teorias, pois isso poderia desonrar o Brigadeiro… Tô com o AG. A estupidez só não é mais melancólica do que a racionalização a que se pressupõe. Todo asno, parvo e imbecil tem justas e fortes razões que lhes movem as patas para o abismo.
Jorge Silva 5-7-06 17:26 …
Eu conheci pessoalmente o Brigadeiro,realmente um homem de grande valor.
Jorge Silva 5-7-06 17:42 …
Insubordinado!! Por não lançar 30kg de TNT sobre Sao Paulo. Foi inocentado pela Corte do STM.
Apenas uma perguntinha:por que será que todo candidato a Prefeito,Governador e Presidente tem que ir aos EUA antes e depois das eleições, quando ganham é claro?
eduardo bertoni 5-7-06 18:12 …
Mais uma bela aula, Mestre!
Foi um enorme prazer, depois de quase dois anos, te conhecer pessoalmente.
Grande abraço!
FlavioM 5-7-06 19:22 …
Quer dizer que o Bertoni e o Decourt não se conheciam!!!??? Aliás, é Itália contra França…
FlavioM 5-7-06 19:35 …
Concordo muito com o Marcelo Alimirante e com o AG. Os militares foram infantilóides, de tão obviamente manipulados pelos interesses dos capitais. Em todos os golpes desta nossa república (exceto, talvez, o Estado Novo – o que não é elogio nenhum). No caso de Artur Bernardes contra Nilo Peçanha, era uma briga dos empresários SP/MG (café-com-leite) contra os empresários RJ/BA/RS. Os RJ/BA/RS tentaram jogar os militares contra os SP/MG, mas o povo não foi atrás. Venceu o café-com-leite (Artur Bernardes). Com os militares contra, foram 4 anos de Estado de Sítio. Depois, Washington Luiz (1926), depois Julio Prestes (1930), tudo café-com-leite. Os tenentes não deixaram, derrubaram tudo e Getúlio Vargas aproveitou e tomou conta.
Nota 1: Ficou provado que as “cartas de Artur Bernardes” ertam falsas. O que não mudou nada.
Nota 2: Não confundir o Marechal Hermes da Fonseca com o Marechal Deodoro da Fonseca (que já estava “caindo em pé” quando fez aquela confusão em 1889).
http://www.flaviorio.globolog.com.br
FlavioM 5-7-06 19:47 …
Jorge Silva.
Viagens? Mas que viagens, meu? Puuxa, não estraga o descanso dos pobres políticos. Além do mais, eles têm que ir lá, para aprender como fazer nosso país ser mais atrativo para os capitais internacionais (mais atrativo quer dizer mais explorável, é claro). Afinal, este foi o grande feito do Lula, seguindo os passos dos brilhantes antecessores Fernandos. Qua também fizeram a “tal viagem” (pode conferir).
É claro que há mais podres entre o céu (lá) e a terra (aqui) do que sonha a nossa vã ingenuidade.
Disse ali em cima que os militares foram títeres infantilóides do capital. Mas, pelo menos, era do capital nacional, em grande parte. Esses últimos, civis, são cônsules conscientes do capital internacional.
E coitado de nós, porque o que eles querem é um país voltado para exportar (produtos baratos). Nunca, jamais, um país de consumidores.
Para contrabalançar o dólar barato, reduzir o custo Brasil = baratear a mão-de-obra mais ainda.
cadumesquita 5-7-06 22:45 …
tenho 1 amigo que é bisneto do Siqueira Campos…
criei 1 fotolog há pouco tempo…se vc puder fazer 1 visita……
teu fotolog continua muito bom!
abs
[email protected] 6-7-06 3:38 …
Caro André.
Excelente o post de hoje.
Fui um péssimo aluno de história e confesso estar aprendendo muito nos fotologs do seu círculo de amigos.
Com referência ao civil Octávio Corrêa (parece ser esta a grafia correta de seu nome), pesquisei no Google e achei este pequeno texto a seu respeito:
http://paginas.terra.com.br/educacao/quarai/octavio.htm
Espero desta forma estar dando uma pequena contribuição ao tema de hoje.
Um abraço,
Silvio.
Keila 6-7-06 3:40 …
É, me lembro que uma professora de História que tive comentou que o Brigadeiro era castrado e, se não me engano, que teria sido resultado da Revolta do Forte.
Lefla 6-7-06 7:38 …
Hermes da Fonseca era sobrinho do Deodoro. Foi republicano, ao contrário do tio, oportunista. Porém instituiu o serviço militar obrigatório, entre outras baboseiras que fez, empanado no orgulho familiar.
Jorge Silva 6-7-06 12:00 …
Concordo, FlávioM. O que precisamos é de patriotas democratas que governem do povo,pelo povo e para o povo, tenho dito.