Nesta foto de Malta vemos o largo da Carioca durante o governo Passos, as transformações que esse logradouro sofreu na administração do grande prefeito estavam apenas começando, identificadas apenas por uma pequena demolição perto da rua da Assembléia.
Mas é o velho tecido urbano, que é a estrela do post de hoje, com a ajuda do grande historiador Luiz Edmundo iremos identificar, todos os estabelecimentos comerciais que nesta foto aparecem, começando da esquerda superior da foto, onde era a antiga esquina do largo com a rua Uruguaiana.
O estabelecimento que vemos no fundo, alinhado com a carroça, na borda esquerda da foto era a “Alfaiataria do Povo” na época dessa foto ostentando uma enorme faixa de “liquidação forçada” esse estabelecimento depois das reformas ocupou um moderno prédio bem na esquina da Uruguaiana com o Largo, ela pode ter até ficado mais chique, mas Luiz Edmundo é cruel: “encontra-se um armarinho, desses que ainda existem em certos subúrbios da cidade, ou pela Rua Larga, com enormes pilhas de fazendas à porta, mal dando passagem à freguesia e um dilúvio de ceroulas, cobertores, calças, camisas de meia e fitas de metros, rendas, ou bordados, numa confusão caótica, a desabar do teto, dos aparelhos de iluminação à gás das prateleiras…..” .
Logo após no mesmo sobrado há o que parece ser uma loja de loterias, com engraxates, apontadores do bicho, venda de jornais, apostas do Derby…onde os espertalhões afiam as garras para pegar um otário.
Atravessando a Gonçalves Dias, diz Luiz Edmundo que havia duas casas de secos e molhados, que nessa foto parecem ser os imóveis que vão ao chão, vamos às palavras irônicas do mestre: “autêntico armazém de secos e molhados, aliás com mais molhados que secos, a ostentar reles balcões de madeira e soalhos enegrecidos pela falta de asseio, cuspinhados pelos bêbados que aí fazem ponto.”
O próximo imóvel é ocupado por outra loja de fazendas, segundo o historiador na mesma desordem da primeira, e na sua porta faz ponto um personagem que devia ser folclórico no seu tempo, um velho negro vendedor de jornais e cordeu chamado Bandeira.
Logo depois o prédio mais alto, e segundo Luiz Edmundo o único aceitável de todo largo abriga o Restaurante e Charutaria Pariz, logo após temos o maior expoente do famoso estilo arquitetônico “compoteira” da cidade ao meu ver, que era o prédio da Confeitaria Rocha & Meneres, novamente coloco as palavras do historiador ” Mais seis compoteiras de louça no telhado e seis estatuetas que o Fortunato do café, em frente, diz que representam as quatro estações do ano: a primavera, o Verão, o Outono, o Inverno, a Industria e a Estrada de Ferro…..”
Depois da confeitaria vem a Casa de Ferragens Leitão, a Charutaria Portugal e fechando a foto o Café Victória, sendo seu sobrado já na esquina da rua de São José.
Após a rua de São José o largo ainda teria mais dois imóveis neste lado, uma estação dos Bombeiros e a Leiteria Itatiaia, logo depois começava a rua Treze de Maio junto ao velho chafariz.
Essa foto junto com as descrições de Luiz Edmundo, mostra como o largo era pequeno, e como, com o passar dos anos ele foi sendo deslocado em direção ao litoral, primeiramente com o realinhamento promovido por Passos de que demoliu praticamente todos os seus imóveis, só poupando o velho chafariz e posteriormente a seguida demolição de todas as construções da rua Treze de maio junto as encostas do morro de Santo Antônio.
Comments (21)
muito interessante!
Andre, ainda existe alguma construção no estilo “compoteira” na cidade?
Não sei se exatamente estas casas do lado direito da foto, mas cheguei a pegar este mesmo quarteirão de pé, na década de 60.
Eram edifícios já do período Passos, tipo loja e sobrado de dois ou tres andares e lembro bem que havia uma loja de discos e aparelhos eletrônicos (vitrolas, microfones, etc.) e ainda em um sobrado, uma escola de dança de salão.
Foi tudo abaixo e ficou só a praça entre o Ed Av Central e o De Paoli..
A rua que segue pra “dentro” da foto seria a Gonçalves Dias?
Cadê a Rua da Assembléia?
Pelo que eu entendi, a Uruguaiana não aparece na foto. Para a esquerda estaria o Hospital da Ordem Terceira?
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
Andresíssimo, que beleza de post !
Viajei aqui por duas horas.
Muito bom os detalhes desse Rio antigo, mais idealizado do que real. O mestre Luiz Edmundo não tinha mesmo papas na língua; botava pra jambrar.
Não deixo de ler e reler o livro Rio de Janeiro do meu Tempo. Imperdível para quem ama esta cidade.
Hoje foi uma aula e tanto.
nao vou perguntar nadinha…(((
Hermosas Fotos!!!
Tendré que aprender portugues para postearte…
Beautiful pictures!!!
I must learn to speak Portuguese to post you…
Essa “Alfaiataria do Povo”, na foto ainda estava em seu edificio original, o que me faz supor que o registro deverá ser de 1900-02. Em 1905 já surge o novo prédio (muito bonito em estilo eclético) deste estabelecimento que era divido em duas secções: do lado da R. da Assembleia era a Torre de Belém e para o lado da Uruguaiana continuou com a mesma denominação (A. do Povo) – o dono era o mesmo. Existia ainda uma filial desta casa no Largo da Lapa. O Café Pariz foi léndário, local de reunião de intelectuais da época. Na pag. 50 do livro “Rio de Janeiro, 1900-1930” do G. Ermakoff tem uma ampliação fantástica do local 2-3 anos após este flagrante. As Estatuetas de porcelana portuguesa que se encontram na balaustrada do terraço da Pastelaria Rocha & Meneres, representam efectivamente as estações do ano. Recentemente, em uma casa de leilões no Leblon tinha um exemplar destes. Como o expert André disse, Luiz Edmundo faz uma descrição perfeita destas casas comerciais (todos eles de propriedade de “patricios”).
Abraço
Rafael, é isso mesmo a rua que segue para dentro é a Gonçalves Dias, a Rua da Assemblia está ali, mas na resolução do fotolog fica difícil visualiza-la, mas as casas da esquina dela com o largo estão sendo demolidas, a Uruguaiana está fotografada do mesmo jeito da S. José, só aparecendo a casa da esquina, a rua propriamente dita está fora da moldura da foto.
Derani, acho que o desenho básico do quarteirão é o mesmo mas todos os imóveis foram demolidos e substituídos por outros
Foto excelente! Luiz Edmundo excelente!
Olha ali o chalé duplo encarapitado por cima das compoteiras. E, pelo jeito, com terraço e tudo.
http://www.flaviorio.globolog.com.br
Imagino que as demolições ao fundo fossem para o alargamento da Rua da Assembléia. Essa rua é uma das vias de Passos, é larga e arborizada, ao contrário das vielas antigas do Centro como a Gonçalves Dias e a Ouvidor.
Não é à toa que o cara era chamado de “bota abaixo”. Mas como eu já falei uma vez, o que Passos fez equivaleria hoje a rasgar pela cidade mega-avenidas ladeadas de prédios pós-modernos.
http://fotolog.terra.com.br/rafael_netto
E onde ficava o Café Papagaio ?
Na Rua da Carioca, logo depois das Casas Bahia, no sentido Tiradentes, existe uma mistura de sebo, café, cachaçaria que agora não me lembro o nome. Pois na parede, atrás do balcão, reina uma reprodução muito grande de uma pintura (que dizem estar na Academia) com uns vinte e tanto intelecuais da época tomando café e fumando nesse tal Café Papagaio.
Tem lá Bastos Tigre, Coelho Neto, João do Rio etc etc.
Alguém aí saberia responder onde era esse Café Papagaio ?
Apenas como curiosidade: por no minimo 3 gerações pessoas da minha familia “fizeram” o Brasil em épocas distintas (sem nunca se cruzarem): meu bisavô, João Pinto; meu avô Manoel Pinto e eu. O Manoel, meu avô, teve uma carvoaria na Rua Bom Pastor nos anos 30, justamente intitulada “CARVOARIA PAPAGAIO”, em virtude de uma ave dessa especíe que ficava na entrada do estabelecimento e que, juntamente com o dono, falava um montão de palavrões. Acredito que o mesmo deveria de suceder neste “Café Papagaio”.
Sim, sim o papagaio do café, diz a lenda era a alegria dos boêmios ao dizer impropérios a todos !!!
Pobres das incautas damas que passavam em frente ao famígerado “Louro”!
Bárbaro!!! Peço licença para adicioná-lo!
Adoro ver os gradis das sacadas.Cada um diferente do outro, mas todos muito bem trabalhados,lindos.
Dá vontade de colecionar.
AG
O cafe q e mistura de sebo e cafeteria fica na Rua da Carioca 10, e se chama ‘Cafe do Bom cachaça da Boa” e tb ‘Antiqualhos!”, e bem interessante o local!
O quadro data de 1908 e de Marques Junior tenho um cartaozinho com a reproduçao
Tb queria saber aonde se localizam aqueles cafes todos, o Papagaio, o Java acho q este ultimo seria no Lgo de sao Francisco com Ouvidor, alguem confirma?
” a vontade que tenho e simplesmente de entrar foto a dentro e explorar toda a região olhando tudo que tem dentro das lojas..imagina…”