Construída pela audácia de um homem que tentava a todo custo modernizar o Brasil retirando-o de sua pasmaceira colonial e servil.
Nos charcos dos mangais de São Diogo, ele levantou sua fábrica de gás manufaturado, depois de muito lutar contra interesses ocultos.
O nome é Mauá, o homem que fez a gênese do Brasil moderno, construindo ferrovias, estaleiros, casas bancárias e dotando a cidade do Rio de Janeiro de uma rede de gás, e iluminação pública.
Essa é uma foto (quase uma litografia) muito antiga, talvez dos anos 70 do Séc. XIX.
A construção desta fábrica foi uma epopéia, em 1850 o governo imperial se decidiu que a cidade deveria ser dotada de iluminação à gás de qualquer maneira, em 11/03/1851 a concessão foi assinada por Irineu Evangelista de Sousa o Barão de Mauá, e previa que sua fábrica deveria fornecer gás para fins de iluminação, aquecimento, movimentação de caldeiras, e cozinhas, no seguinte perímetro: desde Botafogo, seguindo pelo Caminho Novo (atual rua Marquês de Abrantes), rua do Catete, Largo do Machado, cais da Glória, largo da Lapa, Passeio, Largo da Ajuda ( atual Cinelândia) , rua de Santa Luzia, rua da Misericórdia, Largo do Paço ( atual Praça XV ), rua Direita (atual Primeiro de Março), rua de S. Bento, Prainha (atual praça Mauá), rua da Imperatriz (atual rua Camerino), seguindo até o Campo de Santana, Rossio da Cidade Nova ( praça Onze), rua Formosa (atual rua General Caldwell ), rua mata Cavalos (atual rua do Riachuelo) até chegar novamente à Lapa.
Os lampiões da iluminação pública deveriam fornecer luz ao equivalente a 6 velas de cera, e acesos, mesmo nos dias de lua cheia.
Para a construção da fábrica fez-se necessária o saneamento de toda a região, com o ápice em 1857, contratadas por Mauá, as obras do grande canal responsável pela dissecação da área sendo ele inicialmente construído da praça Onze até a praia Formosa, na geografia de hoje perto do trevo das Forças Armadas.
A Febre Amarela que dizimava os técnicos ingleses, grandes temporais seguidos, e a onda de boatos que a fábrica iria explodir e destruir toda a cidade foram umas das maiores dificuldades enfrentadas por Mauá, mas em 25 de março de 1854 a primeira rede de iluminação já estava funcionando na região das ruas hoje soterradas pela Av. Pres. Vargas, e também na rua Direita, Ouvidor, Rosário e Praça XV.
Em 1857 o número de combustores da iluminação pública já chegavam a mais de 3000, no mesmo ano os 3 grandes teatros da cidade, bem como 3200 residências também já contavam com o melhoramento.
Hoje em dia o prédio ainda sobrevive, mas os 3 gasômetros que vemos de forma tênue por trás da pesada construção, foram desativados com a inauguração do novo gasômetro pelos lados da praia de São Cristóvão nos primeiros anos do Séc. XX
Comments (20)
Bravo, Decourt! Há dias passei pela Av. Presidente Vargas, em frente ao prédio acima, contemplando o histórico relógio, e meditei sobre a genialidade de Mauá, mas não com tão apropriadas palavras.
Na juventude, passava diariamente por esse local, voltando do colégio Pedro II para casa, quando aquele lado da Presidente Vargas não era o deserto de hoje. Havia casas de moradia, gente à janela, olhando o bonde passar. Quando veio o metrô, tudo foi abaixo, ainda se vêem algumas ruínas, e nada fizeram para humanizar o trecho entre a Cia. do Gás e o viaduto da EFCentral do Brasil.
Bom dia, Andre! Foto e texto preciosos, não conhecia a história. Acredito que mesmo com a iluminação à gás as ruas deviam ficar em penumbra, porque a luz equivalente a seis velas é muito fraca, menor que a de uma lanterninha de bolso.
Era bem melhor que os lampiões a óleo de baleia que eram usados na cidade, que além de não serem acessos nas noites da lua cheia, rapidamente perdiam sua eficiência, pois segundo os historiadores como Dunlop o clima dos trópicos diferente do da Europa fazia que os resíduos da combustão do óleo não tivessem uma boa exaustão para fora do lampião e em poucas horas os vidros estavam praticamente enegrecidos
muito bom isso, andre
showwwww…
mas, não consigo visualizar onde está o que restou deste prédio, …seria à direita, logo depois que se desce o viaduto??(vindo de Laranjeiras,indo pra Rodoviária)
hellllp!
sem contar que oleo de baleia era ecologicamente incorreto, eheh
fechei! já sei qual é!!valeu, amigoooo!
Very great!!! Have a great week 😉
Mais um tesouro que se foi André. Vou visitar a adicionar o seu novo flog 🙂
Abçs.
Luiz.
esse predio é lindo apesasr de ser pichado toda hoar… Ainda vou visitar o museu que lá existe!
Estou partindo para uma feijoada! Me deseje sorte!
:-))))))))))))))
Pronto, mais uma que eu aprendo. Nunca soube dessa loucura que foi a construção da fábrica de gás no séculos 19. Coitado dos ingleses. Deviam embarcar no Porto de Southampton cheios de fantasiais tropicais na cabeça sem imaginar que acabariam morrendo de febre amarela e de assombro.
Seu flog é ótimo.Visito todos os dias.Não posso perder as aulas.Parabéns!Grace (mãe do Kaser)
Nem sei que prédio é esse, da próxima vez que passar ali vou reparar melhor na região para ver se consigo identificá-lo. O prédio ainda é utilizado (para outros fins que não o provimento de gás), ou está abandonado?
★
Sugestão: poderia criar um flog para agir em sintonia com este flog, mas com versões atuais das fotos aqui mostradas. Por exemplo: se aqui é mostrada a foto da época (no caso, séc. XIX), no outro flog seria mostrada a foto da mesma região, mas uma foto atual, da forma que se encontra nos dias de hoje. Creio que ajudaria os visitantes na identificação do local das fotos, embora com a nítida desvantagem de ser mais trabalhoso (manter dois flogs, um antigo e outro moderno, ao invés de apenas um, antigo).
A américa era um perigo para os “colonizadores” europeus. Em Nova Iorque também morria muita gente de malária, antes da ilha ser totalmente ocupada e saneada. Naquela época se morria com mais facilidade que hoje. Londres também sofreu com a peste. Enfim.
Boa Noite!!!
estou as gargalhadas aqui por ter lido seu comentário no Tutu.
Há anos eu não ouvia falar em Atalaia Jurubeba…
O motivo do riso é que eu tinha uma conhecida com esse apelido..
“Se todos que tivessem usufruido dessem as mãos…”
ô gente maldosa… :)))))))))))
Legal!! Gostei de ler o texto tb 🙂 Li muito sobre Mauá e acho interessante
Bjos
André fui com a Márcio ver a exposição no sábado a tarde. Adoramos.
Achei comovente.
Parabéns!
Beijo
C
Sensacional a saga do Barão e da construção da fábrica! O prédio é muito simpático e bem proporcionado. Nunca tinha olhado pra ele com este olhar histórico e sensível q vc me proporcionou agora. Vou passar por lá até com mais respeito, daqui pra frente! *s
Andre Decourt boa tarde,
Sou estudante de arquitetura e estou fazendo um trabalho acadêmico de restauro da fábrica de gás , saberia mais alguma informação sobre as estruturas do gasômetro(localização ), alguma foto ou algo que possa me ajudar a respeito?