Cachopa-Rocinha 1958

O Adriano, grande amigo e pai do /reiarthur vem pedindo desde os conflitos uma foto da Rocinha, em tempos passados, tenho três delas uma inclusive já postada na série da Lagoa-Barra no ano passado .
Resolvi ir bem atrás no tempo e colocar uma de 1958, onde a favela começou a passar de um núcleo rural, ocupado por posseiros que tinham em uma pequena agricultura de subsistência fonte de parcos recursos, num lugar de moradias para migrantes e retirantes que atraídos por empregos fáceis na zona Sul, e a recusa dos patrões de contratar empregados de longe, se transformava rapidamente no grave problema urbanístico de hoje .
Essa foto possivelmente deve ter sido tirada da localidade conhecida como “Cachopa”, as beiras da estrada da Gávea, notem que os barracos ainda não tinham chegado com tanta violência, e havia verde . Mas nessa época assustados com uma grilagem agressiva que remetia ao cangaço, onde muros de casas eram derrubados no meio do dia ao sabor do facão de do Smith Welson vários moradores de casas e imóveis na estrada da Gávea abandonaram suas propriedades, cedendo lugar ao desmatamento e aos barracos, inclusive já ouvi um destemunho particular de uma pessoa que teve sua casa de veraneio nessa época grilada, nessa região .
Isso ao beneplácito das autoridades que nada faziam, pois pobre e miséria sempre deu voto fácil .
A favela foi crescendo os barracos de madeira substituídos por alvenaria e agora vemos a verticalização da favela com prédios de até sete andares, crônica de uma tragédia anunciada, pois se fala em violência, em muros, mas não se fala em uma “cabeça d’água”, um temporal violento que na Rocinha pode matar centenas de pessoas .
Quem tem mais de 50 anos ou estuda a cidade, por hobbie ou profissão deve com certeza se lembrar das conseqüências do temporal de 1966, principalmente na rua Belizário Távora em Laranjeiras, onde dois desabamentos mataram 119 pessoas, quando a terra derrubou dois prédios de classe média alta e várias mansões .
Vejo muitos mestres de obras de favelas orgulhosos de terem ido até a rocha para fazer as fundações de seus barracos de alvenaria cada vez mais verticais, mas isso de nada adianta, pois a constituição geológica de nossa cidade é perigosa, grandes maciços de rocha são cobertos por uma camada de terra e vegetação, que se mantém em equilíbrio precário, basta um infiltração para essa capa escorregar e uma grande massa de terra deslizar levando tudo à frente .
Houve obras de contenção de encostas, é verdade, mas a realidade atual é que muitas dessas obras de engenharia foram destruídas pelos favelados, umas inclusive se transformando em parte dos barracos .
A tipologia das construções verticais da Rocinha, altas, com pouca profundidade, pois acompanham as curvas de nível e grande testada, é hoje um grande jogo de dominó pronto para no primeiro peteleco ir abaixo..e disso ninguém fala !