Largo da Carioca e Rua Uruguaiana 1959


Nossa foto de hoje tem uma resolução impressionante e foca diversos objetos além dos prédios que marcaram por anos o Largo da Carioca Clássico, ou seja aquele que foi construído a partir da Adm. Passos, quando o largo histórico, vindo da época da colônia teve suas feições mudadas, e começou seu inexorável processo de ampliação que culminou com o estéril largo contemporâneo.
Na esquerda da imagem vemos o conjunto da Ordem Terceira, com o velho prédio em estilo eclético construído nas sobras de terreno do velho hospital tendo sido sede do Correio da manhã por décadas e também o Edifício Carioca em estilo Art-Déco construído após a demolição do velho chafariz de Grandjean, que permitiu a ordem religiosa a demolição dos inúmeros sobrados de sua propriedade que por anos abrigaram não só casas de banho como o famoso Bar do Necrotério, tão bem descrito por Luiz Edmundo. Com a demolição do chafariz a velha estação dos bondes de Santa Teresa localizada em uma estrutura metálica contígua foi demolida. A  Ordem Terceira levantou seu prédio em 1932 não sem muita polêmica com a municipalidade, que não queria a construção de um “arranha céu” no local, mas não tinha dinheiro para fazer a desapropriação do terreno. O prédio acabou autorizado, mediante um acordo judicial, onde os Terceiros tiveram que ceder parte do térreo do prédio para abrigar a estação de bondes de Santa Teresa. Além disso o prefeito Pedro Ernesto condicionou a autorização da construção que se no futuro o PA do Plano Agache fosse efetivado no Largo, como acabou sendo nas obras do metrô, a Ordem Terceira aceitaria o mesmo valor dos anos 30 para a expropriação do prédio. Mas a “ilegalidade” do prédio acompanhou toda a sua existência, até sua demolição pelo Metrô em fins de 1974.  O metrô queria pagar apenas R$ 3,oo contra um valor de 27 milhões que a ordem queria, tendo sido finalmente pago pouco mais de 17 milhões de cruzeiros.
O prédio acompanhou a cidade do Rio de Janeiro capital da república, capital do EGB e por fim capital do ERJ, pois suas obras de demolição foram tão arrastadas que seus últimos pavimentos só caíram após a fusão.
Mais a frente, após a esquina com a Rua da Carioca, vemos que o velho prédio eclético, tinha sido totalmente alterado ganhando uma fachada falsa, que deve ter sido a causa da destruição de todos os elementos  da fachada, além de dois enormes outdoors luminosos, um da Philco e outro um enorme relógio da GE,que encimavam a loja Castelo do Rio, que em virtude do nome transformou o topo do prédio numa imitação de castelo, destruindo também todas as sancas do beiral do telhado.
Mais a frente a Uruguaiana como endereço nobre, totalmente fechada pelos oitis e abrigando filias e matrizes de todas as boas lojas da cidade.
No centro vemos que o Largo em sim não tem mais a conformação original dos tempos de Passos, o volume do tráfego foi forçando ao longo das décadas a mudança da praça do redondo para a forma de feijão, no meio o velho relógio permanece no mesmo lugar, até hoje, embora abandonado pelo poder público desde a prefeitura do tal prefeito carioca não duvido que desabe pela ferrugem.
Mas dois elementos transitórios nos chamam a atenção, um é uma enorme propaganda do PSD e do Marechal Lott, certamente já em clima de campanha para o ano seguinte, e outro a enorme árvore de Natal, que pelo formato foi patrocinada pela A Exposição, pois tinha essa árvore em formato helicoidal como seu símbolo natalício.
Inclusive A Exposição tinha sua sede no prédio bem na outra esquina com a Uruguaiana, bem no finalzinho da Rua da Assembleia, o prédio, com cara dos anos 40, bem como seu vizinho, do qual vemos uma pedaço da fachada, claramente dos anos 50 foram demolidos na segunda metade dos anos 70, praticamente juntos com a conclusão das obras do metrô na região. A A Exposição em má situação financeira vendeu seu prédio no ano de 1975 tendo sido ele rapidamente demolido, mas em virtude das obras do metrô o novo prédio só começou a subir anos depois, quando o grande buraco do Largo e da Rua Uruguaiana foram tapados.
Nosso fotógrafo aparentemente está nas obras do Ed. Avenida Central, vemos a base das sobrelojas sendo construída e percebemos bem a estrutura metálica, técnica essa pioneira no Brasil pelo Av. Central.
A foto não mostra mas junto aos carros estacionados na parte direita do Largo estava o quarteirão demolido da S. José, que nos anos 70 efetivou um PA de mais de 30 anos atrás, dos tempos do Plano Agache.
 

4 comentários em “Largo da Carioca e Rua Uruguaiana 1959”

  1. Nota-se o canteiro de obras referente a construção do edifício Avenida Central. O prédio da “Sede Moderna” já sem o “rodo” dos bondes de Santa Teresa, mostra ainda imponência. Hoje em dia o local é palco de camelôs, “flautistas indígenas, “engolidores de espadas, varas, e otras cositas más”, além outras bizarrices. É a franca decadência da outrora capital da república…

  2. Bom dia.
    Mais uma aula do André sobre uma das regiões mais alteradas do centro em pouco mais de cem anos.
    Essa foto já havia rodado a internet, mas não com esta resolução espetacular. Vários detalhes agora estão bem nítidos.

  3. Visualização sensacional!
    A imagem está divina.
    Bastante diferente dos dias atuais.
    Como sou um defensor dos edifícios e arranha céus, sempre disse de que essa cidade era para ter tido mais deles e expandido para a Zona Norte o progresso.
    Mas enfim… isso são outras histórias.

  4. Andre,Boa Tarde.Fiquei muito feliz ao ver na data de hoje,que o blog voltou!!!Há muitos anos quero te perguntar se vc sabe onde fica localizada a casa do Filme Toda nudez será castigada,onde o Paulo Porto chega com o Cadillac no início do Filme.Gostaria de trocar uma ideia com vc [email protected] Abraços

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