Cidade Nova e Catumbi, anos 60


Em Agosto fizemos um post sobre uma parte desaparecida da Cidade Nova no início dos anos 70, hoje voltamos ao tema, mas do outro lado da Av. Pres. Vargas, e com nosso fotógrafo apontando a objetiva para o Norte.
Se dividirmos a foto em 9 quadrantes podemos falar com absoluta convicção que tudo o que está nos 6 quadrantes inferiores desapareceu, inclusive trechos das ruas, no superior esquerdo pouca coisa resta e no central e direito podemos ver mais construções sobreviventes, como o Hospital da PMERJ e os edifícios ao longe no Rio Comprido e Tijuca.
A Pres. Vargas está na borda direita da imagem, não vemos a rua, apenas as laterais e fundos dos imóveis, o inconfundível letreiro da CICA e o pequeno prédio com os telhados inclinados, figura constante desde as fotos dos anos 30 estão lá.
A rua que vemos no pé da foto é a Rua Marquês de Pombal, além de todos os prédios que vemos na esquina desapareceram, como também desapareceu o trecho da rua que ia em direção da Pres. Vargas.
A primeira rua que cruza a foto em diagonal, é a Benedito Hipólito, novamente todos os imóveis que vemos sumiram, a rua foi reconfigurada e alargada. Somente para o topo da imagem que podemos ter uma ideia dos prédios remanescentes os fundos do Hospital São Francisco de Assis, a construção de 2 andares na esquina da Afonso Cavalcanti com a Rua Laura de Araújo, ocupada pelo Posto de Saúde Municipal Marcolino Candau, no meio das árvores, hoje na beira da rua, a Maternidade Thompson Mota e o prédio de  3 andares da Escola de Enfermagem Anna Nery, após esse pequeno núcleo remanescente a destruição é total até Rua Joaquim Palhares, já na Praça da Bandeira, inclusive com a interrupção de vias.
Já a paralela seguinte é a Rua Júlio do Carmo, hoje segmentada pela Linha Lilás, e cindida em duas ruas, a Rua Prof. Clementino Fraga da qual vemos apenas dois imóveis remanescentes, no canto da imagem, ao lado do terreno baldio, já resultado das desapropriações, que vinham dos anos 40, e onde hoje está a 6ª DP. Depois temos um longo trecho arrasado para a construção do Viaduto 31 de Março, inclusive o primeiro prédio administrativo da Brahma. Logo após temos a esquina da Rua  Marquês de Sapucaí e o resto de todo o conjunto fabril e administrativo da Cervejaria Brahma, inclusive vemos a fachada da sua história fábrica datada do séc. XIX, bem tombado, que nos anos 80 foi bloqueada pelo Sambódromo e em 2011 criminosamente demolida no oba-oba olímpico, depois de ser destombada. No lugar de todo o complexo foi construído o “Cervejão” projeto do Kamarada Oskar, que continua vazio até hoje.
Ao fundo constatamos além do desaparecimento dos presídios, para a construção de um medíocre conjunto habitacional do Minha casa Minha Vida, vemos que até mesmo prédios de 5 pavimentos foram demolidos para nada, das construções mais altas sobreviventes identificamos apenas um pequeno prédio de 3 andares na Rua Júlio do Carmo, que até foi reformado, mas também se encontra parcialmente vazio.
O destino dessa região sacrificada por desastrosas reformas urbanas nos anos 70 e 80 será compartilhado com a do Porto, onde na pressa olímpica e na ganância medebista criou-se um novo vazio urbano, sem moradias e com caros prédios comerciais, desocupados.
 

3 comentários em “Cidade Nova e Catumbi, anos 60”

  1. Algumas demolições precisavam ser feitas até mesmo porque muitos imóveis estavam degradados. Mas a estrutura do bairro poderia conservar suas características principais. Nunca fui favorável à construção do Sambódromo. Isso implicou em criminosas demolições como o do prédio da Brahma. A 6 D.P na época da foto funcionava na rua Senhor dos Matozinhos, que é paralela à Salvador de Sá. Muitos prédios ainda existentes dão uma idéia de como era o bairro. Quanto ao conjunto de presídios demolidos, a sua utilização como presídio deveria realmente revista, mas nunca a sua demolição. Seu valor histórico era inestimável. Ao invés disso foi construído um “puxadinho” da favela existente no morro de São Carlos, onde prédios mal construídos e com uma estrutura precária servem como reduto de traficantes, onde as “bocas de fumo” chegam à rua Frei Caneca.

  2. Ampliando o zoom vamos verificar que já naquela época a conservação dos prédios em grande maioria deixava a desejar.Penso que no Brasil de um modo geral passou a existir uma dificuldade em encontrar bons profissionais que trabalham na conservação e restauro de imóveis e daí ao abandono é um pulo.Não sei se é só este o motivo,mas a verdade é que nas capitais em geral os centros históricos penam com o descaso e a desvalorização.Políticas de investimento no setor inexistem pelo que se vê.Sem contar, é claro,somado aos descaso das autoridades com a falta de educação do povo na figura, por exemplo,dos pichadores.

  3. O Belletti tem razão. A falta de educação de braços dados com uma legislação branda “produz milagres”. Não é à toa que vivemos em um país selvagem. Se tivéssemos penas pesadas, como penas corporais para “pequenos delitos” como dano, “crimes ambientais”, furtos, consumo de drogas, etc, isso poderia ser resolvido. Nada como umas boas chibatadas não resolvessem. ## Grande parte dos imóveis que aparecem na foto eram “casas de tolerância” ou “rendez vous”, como se dizia na época. O homem comum devia ter um “sistema imunológico” muito resistente. Fazer sexo com mulheres daquele tipo não era para qualquer um. Na reta do hospital da Polícia Militar está a famosa Pinto de Azevedo, a “Meca da saliência”. À sua direita e fora da foto estão a Pereira Franco e a Machado Coelho.

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